Aula 18 - Comparação entre o Calvinismo e o Arminianismo
Thomas
Neely Ralston - Fundamentos de Teologia *
AULA XVIII.
COMPARAÇÃO ENTRE O CALVINISMO E O
ARMINIANISMO.
Tendo avançado até então no exame da
extensão da expiação, primeiro, pela consideração do testemunho bíblico em
favor da concepção arminiana, e, segundo, pela análise de algumas das
principais provas da Escritura nas quais acreditam os calvinistas estabelecer o
seu sistema, gostaríamos em seguida de fazer uma comparação entre o Calvinismo
e o Arminianismo, através de uma análise das principais dificuldades com que
cada um destes sistemas tem sido dito, pelo partido oposto, ser obstruído.
I. Observaremos as principais objeções
que os calvinistas têm afirmado contra o sistema do Arminianismo. As seguintes
são todas que julgamos dignas de consideração.
1. Os calvinistas afirmam que o Arminianismo
é contrário à REALIDADE.
2. Que ele é contrário à
GRAÇA.
3. Que ele é inconsistente com
a SOBERANIA DIVINA.
Apresentaremos estas dificuldades com
as palavras do Dr. Hill, como seguem:
“1. Não parece ser verdadeiro que há uma
administração dos meios da graça suficiente para trazer todos os homens à fé e
ao arrependimento.
“2. A segunda dificuldade que está
sujeito o sistema arminiano é esta, que enquanto em palavras ele atribui tudo à
graça de Deus, na prática ele reduz nossa salvação a algo independente dessa
graça.
“3. Este sistema parece sugerir uma
fracasso no propósito do Todo-poderoso, que não é facilmente reconciliado com
nosso entendimento de sua soberania.”
As três dificuldades acima descritas
são mais detalhadamente expressas pelo mesmo autor em outro lugar, como seguem:
“1. Não é fácil harmonizar a infinita
diversidade de situações, e as circunstâncias muito adversas, nas quais muitas
nações, e alguns indivíduos de todas as nações, são colocadas, com uma posição
fundamental do sistema arminiano que a todos os homens são dispensados meios
suficientes para trazê-los à salvação.
“2. Não é fácil harmonizar as concepções
da degeneração da natureza humana, e as lições de humildade e auto-degradação à
vista de Deus, que a Escritura e a razão insinuam, com outra posição
fundamental desse sistema que a fé e as boas obras dos eleitos não se derivam
de sua eleição, mas são previstas por Deus como a sua base.
“3. Não é fácil harmonizar a
imutabilidade e eficácia do conselho divino, que concebemos da Primeira Causa,
com um propósito de salvar a todos, dependente de uma condição que não é
cumprida por muitos.” (Hill’s Lectures, ch. 9, sec. 1,
e ch. 7, sec. 4).
Não sabemos de nenhuma dificuldade
levantada pelos calvinistas, acerca da concepção arminiana da extensão da
expiação, que merece uma resposta séria, que não possa adequadamente estar
contida sob uma ou outra das classificações acima. As dificuldades acima
descritas, deve ser confessado, são de uma natureza tão grave, que uma
demonstração clara de sua verdadeira existência deve ser uma refutação
suficiente do sistema que elas apóiam. O sistema de verdade revelada é
perfeitamente consistente do começo ao fim, e completamente harmonioso com a
concepção correta dos atributos divinos. Se, então, puder ser satisfatoriamente
mostrado que o sistema arminiano realmente está sujeito a uma das dificuldades
acima, por mais plausíveis que os argumentos para seu apoio possam parecer,
seremos obrigados a renunciá-lo. Mas eu penso que uma análise cuidadosa do
assunto irá revelar que as objeções acima são inteiramente infundadas. Iremos
analisá-las separadamente.
1. A primeira afirma que o
sistema arminiano é contrário à realidade. A grande característica distintiva
do Arminianismo, como tem sido exposto nas aulas precedentes, é uma crença na
verdade da seguinte posição: que a expiação de Cristo se estende a todos os
homens de forma a tornar sua salvação acessível. Que isto é inconsistente com a
realidade, é deduzido, pelo calvinista, tanto da suposta privação dos meios da
graça nas nações pagãs, quanto da grande desigualdade na distribuição desses
meios nos países onde o evangelho é anunciado.
Em primeiro lugar, iremos considerar o
assunto em relação ao caso dos pagãos. Julgamos que deve estar claro que a objeção
a uma possível salvação a todos os homens, conforme deduzida da condição dos
pagãos, pode somente ser sustentada pela suposição de que a privação de sua
condição é tal que sua salvação é completamente impossível. Por conseguinte, os
calvinistas, até onde expressaram opinião sobre este assunto, geralmente têm
destinado todas as pessoas do mundo pagão à inevitável destruição. Que esta
ousada posição é admitida por todos os calvinistas, não pode ser afirmado, pois
muitos deles hesitam em expressar alguma opinião sobre o assunto, e outros
claramente declaram que pode haver, até mesmo entre os pagãos, alguns
indivíduos eleitos, sob cujos corações a graça divina pode, de alguma maneira
incompreensível, operar tão eficazmente de forma a chamá-los e prepará-los para
a glória. Mas então deve estar claro que aqueles que admitem este raciocínio
não podem acusar o Arminianismo de nenhuma inconsistência com a realidade, em
relação aos pagãos, que não se aplica igualmente ao seu próprio sistema. Como,
por essa razão, esta objeção repousa sobre a posição presumida de que os pagãos
estão necessariamente excluídos da possibilidade de salvação, obviamente isto é
assumir a verdade de um argumento que ainda não foi provado. A própria posição
sobre a qual ela depende toda a sua força é o que se nega, e deve primeiro ser
provada. Mas o que inteiramente destrói a objeção é que esta posição nunca foi
e nunca poderá ser provada. Em relação aos pagãos, podemos desembaraçadamente
admitir, 1. Que seus privilégios são muito inferiores aos concedidos às nações
favorecidas com a luz do evangelho, e, 2. Que esta distinção nacional é
absolutamente atribuível à soberania divina, que, por sábias e inescrutáveis
razões, pode dispensar bênçãos peculiares, em grau desigual, a diferentes nações
e comunidades, e até mesmo a diferentes indivíduos. Mas a grande questão é: não
segue desta desigualdade na distribuição de privilégios que os menos
favorecidos estão completamente privados de uma suficiência da graça para
tornar sua salvação possível? Isto ninguém, com segurança, pode afirmar. Mesmo
em relação aos pagãos, as Escrituras declaram que Deus “não se deixou a si mesmo sem testemunho, beneficiando” os pagãos “lá do céu, dando” a eles “chuvas e tempos frutíferos, enchendo
de mantimento e de alegria os” seus “corações.” At 14.17. E de novo, no primeiro
capítulo aos Romanos, São Paulo nos informa, quanto aos pagãos, que “o que de Deus se pode conhecer neles se manifesta, porque Deus lho
manifestou. Porque as suas coisas invisíveis, desde a criação do mundo, tanto o
seu eterno poder, como a sua divindade, se entendem, e claramente se vêem pelas
coisas que estão criadas, para que eles fiquem inescusáveis.” E em Romanos, capítulo segundo, lemos, “Porque, para com Deus, não há acepção de pessoas... Porque, quando os
gentios, que não têm lei, fazem naturalmente as coisas que são da lei, não
tendo eles lei, para si mesmos são lei; os quais mostram a obra da lei escrita
em seus corações, testificando juntamente a sua consciência, e os seus pensamentos,
quer acusando-os, quer defendendo-os.” No primeiro capítulo de São
João, diz-se que Cristo é “a luz verdadeira, que ilumina a todo
o homem que vem ao mundo.” E São Pedro declara, At 10.34,
35, “Reconheço por verdade que Deus não faz acepção de pessoas;
mas que lhe é agradável aquele que, em qualquer nação, o teme e faz
o que é justo.” Assim, claramente vemos que, de acordo
com as Escrituras, os próprios pagãos não são deixados privados de
possibilidade de salvação.
Mas o calvinista pode responder que,
apesar das Escrituras anunciarem uma possível salvação aos pagãos, isto não
harmoniza os fatos em seu caso com os princípios do Arminianismo, pois, ainda,
deve ser admitido que eles são muito menos favorecidos, quanto a privilégio, do
que as nações cristãs. Ao que responderíamos que segue, pelo menos, da
possibilidade de salvação aos pagãos, que a objeção sob consideração cai por
terra, pois ela se apóia na posição presumida de “que
não parece ser verdadeiro que há uma administração dos meios da graça
suficiente para trazer todos os homens à fé e ao arrependimento.” O ponto sobre o qual a objeção fica em pé ou cai é, não a
igualdade ou a desigualdade nos meios da graça, mas a suficiência ou
insuficiência dos meios que resultam na salvação. Que tal suficiência dos meios
da graça se estende aos pagãos, temos visto a partir das Escrituras. Portanto,
o fato presumido, pelo qual o calvinista quer envolver o sistema arminiano em
dificuldade, mostra ser contrário à Escritura. Mas se nos restringirmos à mera
desigualdade na distribuição dos meios da graça, o Calvinismo, assim como o
Arminianismo, é forçado a admitir esta desigualdade, até mesmo em relação aos
eleitos, pois é inegável que alguns deles são muito mais favorecidos do que
outros. Se, então, uma mera desigualdade na distribuição dos meios da graça é
evidência de que Deus não deseja a salvação dos menos favorecidos, seguiria
que, de acordo com o Calvinismo, ele não deseja a salvação de alguns dos
eleitos! Mas se o Calvinismo não reconhece esta desigualdade, ele não poderia
envolver o arminiano em nenhuma dificuldade pela qual ele não esteja suprido de
uma solução escriturística. A ilustração da Bíblia do assunto é que Deus
exigirá dos homens de acordo com o que eles têm, e não de acordo com o que eles
não têm. Se aos pagãos somente “um talento” foi desembolsado, o aumento de
“cinco” nunca será exigido de suas mãos. Não importa, no que se refere à
suposta dificuldade agora sob consideração, se os meios da graça estendidos aos
pagãos forem explicados significar os ensinos da tradição, a luz da natureza,
ou a influência secreta do Espírito, ou se se acredita que todos estes estão
associados. Não importa também quão grande ou quão pequeno o grau de fé, ou
qual a natureza da obediência, essencial à salvação de um pagão. Estas são
questões que não podem afetar o ponto sob consideração. Que um pagão não pode
crer no evangelho no mesmo sentido, e na mesma medida, que um cristão, pode ser
prontamente admitido, mas isto não afeta a questão sobre a possibilidade de sua
salvação, a menos que primeiro seja provado que o mesmo é exigido deles, o que
é uma posição igualmente repugnante à razão e à Escritura. Por isso concluímos
que, no que diz respeito ao caso dos pagãos, não há nenhuma evidência de que o
Arminianismo é inconsistente com a realidade.
Mas o Dr. Hill ainda insiste nesta
objeção por causa das “circunstâncias muito desiguais nas quais os habitantes
de diferentes países cristãos são colocados.” Alguns têm o evangelho em maior
pureza do que outros, e, em muitos aspectos, são mais altamente favorecidos.
Talvez seja uma suficiente resposta a esta objeção dizer que ela afeta com
igual força o Calvinismo. De fato, é um tanto surpreendente que não ocorre ao
erudito autor supracitado que esta mesma desigualdade, que ele aqui aduz como
um fato para contestar uma possível salvação para todos os homens, provaria,
pelo mesmo princípio, mais do que ele gostaria: provaria a impossibilidade de
salvação de alguns dos eleitos. Se esta desigualdade de circunstância, em relação
aos diferentes países cristãos, e diferentes indivíduos no mesmo país, fosse
invariavelmente descoberta inclinar-se a favor dos calvinisticamente eleitos, a
objeção poderia parecer ter mais propriedade, mas tal não é evidentemente o
caso. Os calvinistas afirmarão que todos os eleitos de Deus são encontrados nas
partes do mundo cristão que são favorecidas com o evangelho em sua maior
pureza? Ou eles alegarão que a graça eletiva de Deus sempre procura os
indivíduos mais altamente privilegiados na mesma comunidade? Certamente que
não. É admitido que, enquanto muitos nos países mais altamente favorecidos, e
dos indivíduos mais altamente favorecidos, com referência a privilégio externo,
vivem e morrem pecadores reprovados, são encontrados nas regiões mais sombrias
do mundo cristão, e entre os indivíduos menos distintos com referência a
privilégio externo, alguns dos fiéis filhos eleitos de Deus. Se, então, esta
inferioridade em relação a privilégio, que diz respeito a alguns dos eleitos
quando comparados com seus mais altamente distintos irmãos, nada prova contra a
possibilidade de salvação de todos os eleitos, por que método de raciocínio se
apela a uma desigualdade similar entre a humanidade, ou nações cristãs em
geral, como um fato inconsistente com a possibilidade de salvação para todos os
homens? Que a desigualdade apelada pelo Dr. Hill é precisamente a mesma quando
aplicada ao povo eleito de Deus como quando aplicada à humanidade em geral, é
uma verdade tão óbvia que é surpreendente que uma mente perspicaz olhe para o
assunto sem percebê-lo, e, quando percebido, é ainda mais surpreendente que
esta desigualdade de circunstância seja citada como uma das dificuldades
peculiares do Arminianismo.
O Dr. Hill a seguir afirma que o
Arminianismo é irreconciliável com a realidade, “que
entre aqueles a quem o evangelho é pregado, e em cujas circunstãncias não há
aquele tipo de diversidade que possa esclarecer a diferença, alguns creem e
alguns não creem.”
Esta diversidade, os calvinistas
concluem, resulta inteiramente de “uma graça distintiva interior.” Mas isto nós
vemos como uma suposição injustificável, não permitida pela Escritura; enquanto
o método arminiano de explicar a fé de alguns, e a incredulidade de outros,
esclarecendo que a razão está na livre agência do homem, e fazendo a
incredulidade de um resultado inteiramente da rejeição voluntária de um grau
suficiente de graça que pode resultar em fé salvadora, apresenta uma solução da
dificuldade ao mesmo tempo satisfatória e consistente com o teor geral do
evangelho.
2. “A segunda
dificuldade,” dizem, “que está sujeito o sistema
arminiano é esta, que enquanto em palavras ele atribui tudo à graça de Deus, na
prática ele reduz nossa salvação a algo independente dessa graça.” Desde os dias de Calvino até o tempo atual, o termo graça tem
sido pronunciado com uma ênfase peculiar, e insistentemente falado como um
hobby, por aqueles que carregam o nome de calvinistas. Eles designaram suas
concepções peculiares da predestinação, eleição, soberania divina, etc., pelo
imponente título de “doutrinas da graça,” e todos que diferem deles sobre este
assunto têm sido caracterizados, por eles pelo menos, como inimigos da salvação
pela graça, e favorecedores da salvação pelas obras. Mas que as “doutrinas da
graça,” biblicamente entendidas, pertencem peculiarmente ao Calvinismo, é uma
posição que os arminianos sempre negaram, enquanto arduamente repudiaram a
doutrina da salvação pelas obras. De fato, ninguém que reconhece a Bíblia como
regra pode negar a posição de que a salvação é pela graça, e não pelas obras. O
ponto importante é apurar o significado bíblico das doutrinas da graça, e
determinar o sentido em que a salvação não é pelas obras, mas pela graça. Se o
sistema do Arminianismo realmente implica na inconsistência atribuída a ele na
objeção acima mencionada, ele não pode ser verdadeiro. A objeção expõe que, “enquanto
em palavras ele atribui tudo à graça de Deus, na prática ele reduz nossa
salvação a algo independente dessa graça.” Agora, é claro que
nossa salvação não pode ser toda atribuída à graça, e ao mesmo tempo, e no
mesmo sentido, ser toda atribuída a, ou “reduzida a algo
independente dessa graça,” sem uma manifesta contradição.
Se for pretendido que o Arminianismo claramente se contradiz, ao descrever a
salvação como sendo, ao mesmo tempo e no mesmo sentido, em palavras, pela
graça, e na prática, por algo mais, deve ser mostrado em que sentido é descrito
ser pela graça, e que, no mesmo sentido, é descrito ser por algo mais, e então
a inconsistência seria justamente provada sobre o próprio sistema, mas isto o
Dr. Hill não tentou fazer. Somos, por essa razão, induzidos a crer que não
devemos concluir da objeção que uma parte do Arminianismo é inconsistente com
outra parte do mesmo sistema, mas somente que é inconsistente com o Calvinismo.
A não ser que as premissas na objeção, conforme afirmadas pelo Dr. Hill, sejam
completamente falsas e inúteis, devemos entender que a linguagem significa que,
enquanto o Arminianismo atribui a salvação à graça na aceitação arminiana do termo,
no sentido calvinista ele a atribui a algo mais. Então a única controvérsia
será se a concepção calvinista ou arminiana do sentido em que a salvação é pela
graça, está de acordo com as Escrituras. Que a salvação é pela graça no sentido
em que esse termo pode ser explicado pelos calvinistas, é, talvez, mais do que
os arminianos podem admitir, seja em palavras ou na prática. Pois se por
salvação pela graça os calvinistas entendem que a fé e a obediência não têm
nenhuma relação com a salvação, seja como condições ou de outra forma, esta
concepção da salvação pela graça deve ser rejeitada pelos arminianos, como
diretamente contraditória às Escrituras. E este, estamos persuadidos, é o
sentido em que a salvação pela graça é entendida, quando é dito que o sistema
arminiano, na prática, a nega. Se as Escrituras são verdadeiras, a salvação não
pode ser pela graça de forma que não leva em consideração o arrependimento e a
fé, e anula a necessidade de boas obras. A clara diferença entre o Calvinismo e
o Arminianismo, sobre este assunto, é esta: os calvinistas não podem entender
como a salvação pode ser inteiramente pela graça, se ela tem qualquer relação
com a fé, ou algo mais, como condição, ao passo que os arminianos, enquanto
entendem que “o arrependimento em direção a Deus, e fé em nosso Senhor
Jesus Cristo,” são condições indispensáveis da salvação, de todos a quem
o evangelho é dirigido, entendem, ao mesmo tempo, que a própria salvação é
inteiramente, do começo ao fim, uma obra de Deus pela graça. Se ainda for
insistido que a salvação não pode ser atribuída à graça se ela depender de uma
condição, então a acusação de inconsistência ou heterodoxia deve ser feita
sobre a própria Bíblia, pois nada é mais claro do que que Deus prometeu salvar
o crente sob a condição da fé, e ameaça punir o incrédulo pela sua
incredulidade e rejeição voluntária do evangelho. Apesar da salvação depender
de condições, e, num certo sentido, do homem, por sua própria agência, dever
determinar seu destino eterno, todavia, pode facilmente ser mostrado que a
própria salvação é toda uma obra de Deus pela graça.
(1.) O homem é por natureza
completamente impotente, incapaz de todo e qualquer bem, e somente se torna
capaz à medida que é visitado e fortalecido pela graça divina.
(2.) É atribuível somente à graça que
um plano de misericórdia foi projetado e proposto ao homem.
(3.) Nada que o homem possa fazer pode
ajudar em alguma coisa para obter a salvação pelo mérito, pois “somos servos inúteis, porque fizemos somente o que devíamos fazer.”
(4.) A obra da salvação, em todos as
suas fases, pode ser executada, no todo ou em parte, por ninguém senão por
Deus, e isto é inteiramente obra da graça, pois ninguém pode exigi-la das mãos
de Deus como questão de direito, e é de sua mera graça que Deus prometeu salvar
o pecador, de acordo com o plano que ele próprio projetou. Este tema pode ser
ilustrado por uma referência ao caso do homem com a “mão mirrada.” Ele não
tinha forças para levantar sua mão, todavia em seu esforço para obedecer o
comando, a força foi concedida. Agora, ninguém pode certamente dizer que, se
ele tivesse se recusado a obedecer o comando, sua mão teria sido restaurada, e
todavia, quão absurdo teria sido se ele se gabasse de que sua cura foi dele
próprio, meramente porque o Salvador considerou adequado efetuar a obra de uma
certa forma, e o homem recebeu o favor de acordo com esse plano! Ainda que se
Deus considerasse adequado salvar um homem e condenar outro, de acordo a
revelação de seu evangelho, será porque um aceitou e o outro rejeitou a
mensagem do evangelho, e ainda, a obra da salvação será uma obra de Deus pela
graça. Dessa forma, pensamos que está claro que não há uma justa razão para
criticar o sistema arminiano como sendo inconsistente com as doutrinas da
graça.
3. A última dificuldade afirmada contra
o sistema arminiano é, “que ele se origina da suposição de um
fracasso do propósito do Todo-poderoso,” que é
irreconciliável com a SOBERANIA DIVINA.
Que Deus é um soberano independente, e
governa o universo material e moral de acordo com a sua vontade, é uma verdade
tão plenamente revelada na Escritura, e tão similar às nossas melhores
concepções do caráter divino, que nenhum sistema de teologia que a nega pode
ser admitido como verdadeira. Os calvinistas geralmente descrevem os arminianos
como negando a soberania divina, mas os arminianos, longe de reconhecer que
negam esta doutrina, têm sempre sustentado que seu sistema a reconhece, numa
acepção mais bíblica e consistente do que a teoria calvinista admite. Que o
Arminianismo é inconsistente com a explicação calvinista dessa doutrina, não
será negado, mas a questão é, o sistema arminiano pode ser reconciliado com a
concepção correta e bíblica do tema? Pensamos que sim.
O ponto em referência ao qual o Dr.
Hill alega que o Arminianismo é inconsistente com a soberania de Deus é que, de
acordo com o sistema arminiano, a vontade de Deus é absolutamente derrotada,
pois nesse sistema é declarado que Deus deseja a salvação de todos os homens,
mas se, como os arminianos admitem, todos os homens não são salvos, então, de
acordo com a objeção, a vontade divina é derrotada, e o governo soberano de
Deus é destruído. Esta dificuldade que, de fato, à primeira vista, exibe um
formidável aspecto, por uma análise mais precisa pode-se ver que ela se origina
inteiramente de um engano do significado do termo vontade, ou,
antes, do uso do termo em dois sentidos diferentes. Como ilustração destas duas
acepções da vontade, uma pode ser denominada a vontade primeira ou antecedente
de Deus, e a outra sua vontade última. A vontade primeira ou antecedente de
Deus contempla e reconhece as contingências necessariamente associadas às ações
dos agentes morais livres, mas a vontade última de Deus é absoluta e livre de
quaisquer condições. Dessa forma, é a vontade primeira ou antecedente de Deus
que todos os homens sejam salvos, mas é a vontade última de Deus que ninguém
seja salvo senão aqueles que cumprem as condições da salvação. A questão aqui
será perguntada, então Deus tem duas vontades, uma inconsistente com a outra?
Respondemos: não, há somente uma única vontade, observada em dois diferentes
pontos de vista, e os termos antecedente e último são meramente usados pela
conveniência de descrever dois diferentes mas perfeitamente consistentes
aspectos da mesma vontade, sob diferentes circunstâncias. Isto pode ser
familiarmente ilustrado pela analogia do governo paterno. O pai prescreve uma
lei para seus filhos, e intimida com castigo a todos que desobedecerem. Agora,
é muito claro que o amoroso pai não deseja primeiramente que alguns de seus
filhos sofram castigo. É seu desejo que todos obedeçam e se livrem da punição.
Mas alguns deles desobedecem. A vontade do pai é que eles sejam castigados
conforme sua intimidação. Isto é necessário a fim da manter a sua autoridade.
Mas perguntamos, houve alguma mudança na vontade do pai? Certamente que não.
Não é sua vontade última, que ordena a punição, perfeitamente consistente com
sua vontade primeira, que não desejou a punição de qualquer um? Ou, antes, não
é a mesma vontade, sob uma diferente variação? A perfeita consistência, ou,
mais estritamente, a igualdade da vontade primeira e última, pode ser
claramente vista chamando a atenção para a condicionalidade da vontade
primeira, necessariamente resultante dos princípios do governo condizentes com
os agentes morais. Dessa forma, o pai primeiramente desejou que nenhum de seus
filhos fosse punido. Este é seu primeiro desejo, resultante da benevolência de
sua natureza. Mas ele não deseja isto absoluta e incondicionalmente. Ele somente
o deseja condicionalmente. Isto é, ele deseja que eles se livrem da punição
somente de uma certa forma, – obedecendo sua lei, mas se eles a violam, sua
vontade é que eles consequentemente sejam punidos. Seja lembrado, também, que a
vontade ou desejo primeiro do pai não é de forma alguma enfraquecido pela força
de sua percepção de que alguns de seus filhos, no abuso de sua agência,
desobedecerão, e atrairão sobre si o castigo. De fato, se a mente do pai
fixasse sobre um mais insubmisso do que o restante, sua afeição naturalmente
desejaria mais ardentemente a obediência, e o livramento consequente, daquele
filho. Agora, deve ser confessado que a afeição de um pai terreno, embora
excessivamente ardente, é apenas uma débil descrição da extensão do amor e compaixão
de Deus por todas as suas criaturas inteligentes. Mas, todavia, a ilustração
assim descrita pode convenientemente servir o propósito ao qual temos usado. A
vontade primeira de Deus é que todos os homens sejam salvos. Isto ele tem muito
solenemente declarado, e a benevolência de sua santa natureza a exige. Mas ele
não deseja absoluta e incondicionalmente. Ele somente a deseja de acordo com
certas condições, e em conformidade com o plano que projetou. Ele deseja sua
salvação, não como troncos ou pedras, mas como agentes morais. Ele deseja sua
salvação através do uso dos meios prescritos, mas se, no abuso de sua agência,
eles rejeitam o evangelho, sua vontade última é que eles pereçam por seus
pecados. Isto é essencial à manutenção de seu governo moral sobre suas
criaturas. Assim podemos claramente ver como o Todo-poderoso pode, de acordo
com o sistema do Arminianismo, primeiramente desejar a salvação de todos os
homens, e pela expiação de Cristo torná-la acessível, e todavia manter sua
absoluta soberania sobre o universo moral. Mas não é a soberania de um tirano
arbitrário, nem ainda uma soberania como aquela pela qual ele governa o
universo material, de acordo com os princípios da necessidade absoluta e fatal,
mas a soberania de um Governador justo e benevolente de agentes morais e
inteligentes, de acordo com princípios santos e graciosos. Se esta for a
soberania que o Dr. Hill e os calvinistas estão empenhados em afirmar, eles não
podem encontrar nada no sistema do Arminianismo inconsistente com isso, mas uma
soberania divergente desta não apenas seria inconsistente com o Arminianismo,
mas seria repugnante à Escritura, e depreciativa ao caráter divino.
Temos agora resumidamente considerado
as três principais dificuldades que, de acordo com os calvinistas, o sistema
arminiano está sujeito, e pensamos que temos mostrado que todas elas são
suscetíveis de uma solução racional e satisfatória.
II. Agora iremos resumidamente esboçar
algumas das principais, e, como julgamos, incontestáveis objeções ao sistema calvinista.
Para que possamos mais claramente perceber a força destas objeções, será
necessário não perder ainda de vista o grande princípio distintivo no sistema
calvinista, a saber, – Que a salvação não é tornada possível a toda a
humanidade, e que esta impossibilidade não depende da previsão divina da
conduta dos homens, mas do eterno decreto e da vontade inescrutável de Deus.
Que esta é a correta descrição do
sistema calvinista, foi abundantemente mostrado nas aulas anteriores. Mas
pensamos que, apesar do número de teólogos eruditos e religiosos que empregaram
sua extrema habilidade e zelo em apoio ao sistema supracitado, eles nunca
tiveram sucesso em livrá-lo das graves objeções seguintes:
1. É contrário à evidência
prima facie e ao teor geral da Escritura. Isto tem sido mostrado,
(1.) Recorrendo às numerosas e claras
declarações da Escritura, nas quais, ao falar da expiação, ou da morte de
Cristo, termos de significado mais vasto possível são usados, tais como todos,
todo o mundo, toda a humanidade, o mundo todo,
etc.
(2.) Recorrendo às passagens que
colocam em contraste direto, Adão, e a extensão dos efeitos de sua queda, com
Cristo, e a extensão dos efeitos de sua morte.
(3.) Recorrendo àquelas passagens que
ensinam que Cristo morreu por aqueles que perecem ou que podem perecer.
(4.) Referindo àquelas claras
declarações que autorizam a pregação do evangelho a todos os homens, e exigindo
que todos se arrependam e creiam.
(5.) Recorrendo àquelas passagens que
sem reservas oferecem salvação a todos os homens, e declaram que a
falha dos homens em obtê-la é sua própria culpa.
(6.) Referindo àquelas passagens que
ensinam a possibilidade de apostasia final, e adverte os cristãos do perigo de
apostatarem.
Este é somente um índice às classes de
textos com os quais as Escrituras estão repletas sobre este assunto.
Considerando seu grande número, e natureza clara e demonstrativa, é evidente
que eles apresentam uma evidência prima facie em oposição ao
Calvinismo quase irresistível à mente natural. Com essa abundância de Escritura
clara, da qual a interpretação mais natural e do senso comum é contra eles, os
calvinistas sempre tem se restringido, e baseado a defesa de seu sistema, na
maioria das vezes, sobre especulação filosófica e raciocínio teórico abstrato.
2. O sistema calvinista é
irreconciliável com a natureza do homem como agente moral livre. Esta
característica de nossa natureza será completamente examinada em outra aula. No
momento, admitimos isto, como um entre as mais claras e inegáveis verdades da
filosofia e da religião. Os calvinistas geralmente têm admitido que, harmonizar
suas concepções dos decretos eternos e absolutos da eleição e reprovação com a
agência livre do homem, é uma tarefa difícil demais para suas faculdades
finitas. Por conseguinte, eles raramente tentam harmonizar. Sua conduta sobre
este assunto não tem sido uniforme. Enquanto alguns corajosamente repudiam a
doutrina da livre agência do homem, e dessa maneira combatem o próprio senso
comum, a grande maioria afirma que as doutrinas dos decretos eternos e
incondicionais, e da livre agência do homem, embora irreconciliáveis à
compreensão humana, todavia ambas são verdadeiras! E eles remetem a solução da
dificuldade às revelações da eternidade. Se, de fato, a dificuldade agora
diante de nós fizesse parte legitimamente daquela classe de verdades bíblicas
que são profundas demais à sabedoria humana entender, uma alusão aos
acontecimentos da eternidade certamente seria uma disposição conveniente do
assunto. Mas quando consideramos o verdadeiro caráter da dificuldade em
questão, podemos muito bem duvidar se tal alusão é justificável ou
recomendável, exceto que é um fácil método de descartar uma incômoda
dificuldade. O que diríamos do indivíduo que afirmasse crer que, ambas, a luz e
a escuridão, fossem as mesmas, e recorresse à eternidade para sua
reconciliação? Ou o que pensaríamos daquele que declarasse crer em ambas as
proposições seguintes, a saber, – 1. O homem é responsável a Deus, 2. O homem
não é responsável a Deus, ou em quaisquer duas posições manifestamente
contraditórias uma à outra, e recorresse às revelações da eternidade para sua
reconciliação? Pensamos que muito poucos concederiam docilmente a um oponente o
direito de descartar tais dificuldades por esse processo sumário e fácil. Da
mesma forma, o calvinista com pouca propriedade pode aludir à eternidade para a
reconciliação de seu sistema com a livre agência do homem. As doutrinas dos
decretos eternos e absolutos do Calvinismo, e a livre agência do homem, são
clara e diretamente contraditórias, e apesar de sua reconciliação ser uma
tarefa difícil demais para mentes finitas, todavia uma capacidade limitada pode
claramente perceber que, em sua própria natureza, elas são absolutamente
irreconciliáveis. Nada pode ser mais claro que isso, se todas as ações dos
homens são absoluta e incondicionalmente decretadas desde a eternidade, é
impossível ao homem agir diferente do que ele age. E se o homem é
necessariamente determinado a agir precisamente como ele age, ele não pode ser
livre para agir de outro modo, e se é assim, ele não pode ser um agente livre.
Não ajuda dizer que o homem pode agir de acordo com sua própria vontade ou
inclinação, pois se a vontade for necessariamente determinada, o homem não pode
ser mais livre, embora possa agir de acordo com essa determinação necessária,
do que uma pedra caindo, que move de acordo com as leis necessárias da
gravidade. Como a doutrina da livre agência será mais detalhadamente discutida
depois, iremos agora por de lado este assunto, com a única observação, que
quando duas proposições, diretamente antagônicas entre si, podem ser
harmonizadas, então, e não até então, pode o Calvinismo e a livre agência do
homem ser reconciliados.
3. O sistema calvinista é
inconsistente com o amor ou a benevolência de Deus. “Deus é amor.” “O Senhor é bom para todos, e as suas
misericórdias são sobre todas as suas obras.” É da natureza do sentimento de amor buscar a felicidade do objeto
amado, e se Deus ama todos os homens, como as Escrituras declaram, ele, em sua
administração a seu respeito, buscará promover sua felicidade, tanto quanto
puder ser feito consistentemente com suas próprias perfeições e com a
personalidade do homem. Mas se uma parte da humanidade foi ignorada na aliança
da redenção, e destinada à inevitável destruição, quando uma outra parte,
igualmente indigna, foi selecionada como os favoritos do Céu, e separada à
felicidade eterna, e esta distinção, como os calvinistas dizem, está
fundamentada na vontade soberana de Deus apenas, nenhuma razão pode ser apontada
para a salvação dos eleitos que igualmente não existia em relação aos
reprovados, a menos que Deus desejou arbitrariamente a salvação dos primeiros,
mas não desejou a salvação dos últimos. Ao desejar a salvação dos eleitos, ele
necessariamente desejou sua felicidade, e ao desejar a condenação dos
reprovados, ele necessariamente desejou sua miséria. Por conseguinte, segue que
ele amou os primeiros, mas não amou os últimos, e a afirmação que “Deus é bom para todos” deve ser rejeitada, ou o
Calvinismo deve ser repudiado. Dessa forma, é manifesto que o sistema
calvinista é irreconciliável com o amor ou a benevolência de Deus.
4. O sistema calvinista é
inconsistente com a justiça de Deus. Nenhum governo justo pode punir um
indivíduo por fazer o que nunca teve capacidade de evitar. Tal conduta seria
universalmente execrada, como a mais vil da tirania. Mas, de acordo com o
Calvinismo, é impossível a qualquer homem agir diferentemente do que age. Os
reprovados nunca tiveram em sua capacidade aceitar o evangelho, ou evitar
pecar; por essa razão, se eles são punidos pela rejeição do evangelho e pelo
cometimento do pecado, eles são punidos por fazer o que nunca tiveram
capacidade de evitar, e tal punição não está de acordo com a justiça, mas é uma
imposição de tirania. Por conseguinte, é óbvio que o Calvinismo é
irreconciliável com a justiça de Deus.
5. O sistema calvinista é
irreconciliável com a sinceridade de Deus. Para entender isto, é somente
necessário observar os convites, comandos e exortações gerais do evangelho. Com
que seriedade é proclamado, “Ó vós, todos os que tendes sede, vinde
às águas.” “Deixe o ímpio o seu caminho, e o homem maligno os seus
pensamentos.” “Dize-lhes: Vivo eu, diz o Senhor Deus, que não tenho prazer na
morte do ímpio, mas em que o ímpio se converta do seu caminho, e viva.
Convertei-vos, convertei-vos dos vossos maus caminhos; pois, por que razão
morrereis, ó casa de Israel?” Em relação aos tantos convites e
súplicas ardentes como estes que são encontrados nas Escrituras, pode bem ser
perguntado, se o Calvinismo fosse verdadeiro, como eles podem ser palavras
sinceras? Deus pode com sinceridade comandar que obedeçam aqueles que não mais
têm poder para obedecer do que para criar um mundo? Ele pode com sinceridade
oferecer salvação àqueles para quem ele nunca a proporcionou? Ele pode implorar
para “vir até ele e ser salvo” àqueles que ele nunca pretendeu salvar e cuja
salvação ele sabe ser absolutamente impossível, e isto por nenhuma falta deles,
mas por seu próprio decreto eterno, de acordo com a sua vontade soberana? Os
calvinistas se esforçam, é verdade, para reconciliar estes comandos, súplicas,
etc., que são dirigidos igualmente a todos os homens, com a sinceridade de
Deus, alegando que, se os reprovados não têm capacidade para vir a Cristo e ser
salvo, isto resulta somente de uma incapacidade moral, – eles mesmos estão
indispostos. Mas isto nem um pouco pode alterar o caso, quando é lembrado que,
de acordo com o Calvinismo, esta incapacidade moral pode somente ser removida pela
influência daquela graça que Deus decidiu recusar. As numerosas sutilezas pelas
quais os calvinistas se esforçaram para reconciliar seu sistema com a
sinceridade de Deus, não fizeram nenhum avanço para a remoção da dificuldade.
Pode ser deslocado de um motivo a outro, mas por nenhum artifício podemos
reconciliar com honestidade a oferta de salvação a todos os homens, se ela é
somente possível a alguns.
6. O sistema calvinista tende
a destruir a distinção entre virtude e vício, e tornar o homem um objeto impróprio
para o julgamento futuro, e para recompensa ou punição. Virtude ou vício
pode somente existir no homem conforme ele tenha capacidade para fazer certo ou
errado, de acordo com sua própria determinação. Se, de acordo com a teoria do
Calvinismo, todas as ações dos homens são determinadas por um decreto absoluto
e eterno de Deus, de forma que o homem virtuoso não pode ser senão virtuoso, e
o homem vicioso não pode ser senão vicioso, virtude ou vício, à medida que eles
determinam o caráter moral dos homens, devem ser o mesmo. Ambos estão de acordo
com, e resulta da vontade do soberano divino, e derivam tão impulsivamente do
eterno decreto, que determina os meios e o fim, como o efeito deriva da causa.
E necessariamente segue que a virtude e o vício são essencialmente o mesmo, e
ninguém pode ser um objeto apropriado de louvor ou culpa. Novamente, olhamos
para o solene processo do julgamento geral, vemos todos os homens reunidos no
tribunal de Deus, e chamados para responder por todas as suas ações aqui, e
então ver a recompensa da vida eterna concedida aos justos, e a punição eterna
infligida aos perversos, e fazemos a pergunta, por que, de acordo com o
Calvinismo, os homens são chamados para responder por suas ações e são
recompensados ou punidos? Se todas as coisas estivessem inalteravelmente
fixadas pelos decretos eternos, o processo do julgamento seria apenas um
espetáculo vazio, e ninguém poderia ser objeto apropriado de recompensa ou
punição. Pelo que, perguntaríamos, em vista da teoria calvinista, os perversos
podem ser punidos? Se for dito, pelos seus pecados, perguntamos, eles tiveram
capacidade de evitá-los? Se for dito, por sua incredulidade, perguntamos, em
quem se exige que creiam? Em um Salvador que nunca pretendeu ou veio para
salvá-los? Certamente, deve ser evidente que se a salvação nunca foi possível
aos reprovados, por nenhum método de raciocínio pode ser demonstrado ser
apropriado puni-los por sua falha em obtê-la. Pensamos, portanto, que é
impossível reconciliar o sistema calvinista com a real distinção entre virtude
e vício, e com a doutrina do julgamento futuro e recompensas e punições.
Acabamos de citar algumas das
principais dificuldades que se pensa que os sistemas do Calvinismo e do
Arminianismo respectivamente estão carregados, e em conclusão diríamos que, não
obstante, de acordo com nossa demonstração, o Calvinismo está sujeito a algumas
dificuldades muito sérias, e leva a algumas consequências revoltantes; ele
igualmente inclui muita verdade evangélica, e as consequências mais condenáveis
que tem sido deduzidas do sistema não têm sido completamente reconhecidas por
todos os seus defensores; todavia, como pensamos que elas necessariamente
seguem, como conclusões lógicas, é todavia justo que elas sejam claramente
apresentadas. Encerramos agora nossa discussão da extensão da expiação, e
desejamos apresentar, como a substância do que nos esforçamos em estabelecer, a
principal posição com que começamos, “que a expiação se estende a
todos os homens de forma a lhes tornar a salvação possível.”
PERGUNTAS SOBRE A LIÇÃO XVIII.
PERGUNTA 1. Que três principais
objeções tem sido argumentada pelos calvinistas contra o Arminianismo?
2. Qual é a substância da resposta à
primeira?
3. À segunda?
4. À terceira?
5. Qual é a primeira objeção ao Calvinismo,
e como ela é sustentada?
6. Qual é a segunda, e como ela é
sustentada?
7. Qual é a terceira, e como ela é
sustentada?
8. Qual é a quarta, e como ela é
sustentada?
9. Qual é a quinta, e como ela é
sustentada?
10. Qual é a sexta, e como ela é sustentada?
11. Qual é a substância do que tem sido
estabelecido em relação à extensão da expiação?
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