Roger E. Olson
Os batistas têm o habito de reciclar
temas teológicos calorosos. A soberania de Deus e o livre-arbítrio humano é um
que vive aparecendo. Agora mesmo, o debate entre calvinistas e arminianos está esquentando
novamente. Recentemente, um presidente de um seminário batista sugeriu que a
Convenção Batista do Sul não tem lugar para os arminianos, o que deve ter sido
um choque aos milhões de crentes no livre-arbítrio que são leais batistas do
sul.
O que muitas pessoas não notam é que
calvinistas e arminianos concordam que Deus é soberano e que Deus governa
providencialmente sobre a criação e predestina pessoas para salvação. Suas
áreas de acordo são muito maiores do que seus desacordos sobre interpretações
específicas destes conceitos bíblicos.
Soberania tem a ver com o governo de
Deus de todas as coisas; a doutrina cristã da soberania de Deus é que Deus está
no comando do universo e tudo nele. Ele domina sobre ele. Providência é quase
idêntico à soberania; ela trata do modo no qual Deus domina sobre sua criação.
Predestinação é outra doutrina ligada à
soberania de Deus, mas não é idêntica à providência. Predestinação é o ensino
bíblico que Deus preordena ou pré-conhece quais de suas criaturas humanas serão
salvas. Os “eleitos” são escolhidos por Deus. Sobre estas doutrinas,
calvinistas e arminianos concordam. Eles discordam sobre o papel que o
livre-arbítrio desempenha em se uma pessoa está entre os eleitos e assim
predestinada por Deus. Os calvinistas negam o livre-arbítrio como poder de
escolha contrária e afirmam que a graça de Deus é irresistível. Os arminianos
acreditam em livre-arbítrio como poder de escolha contrária e dizem que a graça
nunca é imposta sobre ninguém; as pessoas podem e resistem à graça de Deus.
Seguindo o teólogo holandês Jacob
Arminius (que morreu em 1609), os arminianos creem que Deus é soberano. De
fato, Deus é tão soberano que ele é soberano sobre sua soberania. Em outras
palavras, Deus limita seu poder para dar espaço ao poder humano da livre
escolha, incluindo a liberdade para resistir à graça. Livre-arbítrio não é um
resíduo de bondade humana que sobreviveu à queda no jardim; é um dom da graça
de Deus que nos capacita a responder livremente à oferta de Cristo no evangelho.
O Calvinismo é a crença no determinismo
divino; Deus é a realidade toda-determinante que soberanamente planeja e
controla todos os eventos, incluindo as escolhas livres dos humanos. Os
arminianos perguntam quão livres as pessoas podem ser se suas decisões são
controladas. Os arminianos querem saber como Deus é bom e amoroso à luz da
combinação do mal no mundo e a soberania e o poder todo-determinante de Deus.
Até mesmo o mais inflexível dos calvinistas hesita em lançar a culpa do pecado
e do mal em Deus. Após falar sobre o poder todo-determinante de Deus, eles se
esquivam de dizer que Deus determinou a queda da humanidade no jardim ou o
holocausto de Hitler. Uns poucos audaciosos vão em frente e dizem que Deus até
mesmo causou os atos terroristas de 11 de setembro.
Nós que cremos na real liberdade da
vontade, liberdade e poder de escolha contrária, vemos isso como a única forma
de livrar-se de tornar Deus o autor do pecado e do mal. Um Deus que determina
pessoas a pecar, ainda que somente por “permissão eficaz” (retirando a graça
necessária para não pecar), é o pecador último. Um Deus que poderia salvar
alguém, porque a salvação é incondicional, mas passa por alto de muitos –
enviando-os para a condenação eterna – é moralmente ambíguo na melhor das hipóteses.
Como John Wesley comentou, se isto é amor, é um amor que faz gelar o sangue.
Reconhecidamente, a maioria dos
calvinistas não segue a lógica de sua própria concepção da soberania de Deus a
sua justa e necessária conclusão. Eles afirmam que Deus é amoroso, mas dizem
que “mundo” em Jo 3.16 não se refere a todos, mas a pessoas de toda tribo e
nação – os eleitos. Deus ama todas as pessoas de alguma forma, mas somente os
eleitos de todas.
Os arminianos acreditam no amor
universal de Deus por todas as pessoas criadas à sua imagem e semelhança. Deus
não quer que ninguém pereça, senão que todos alcancem o arrependimento (2Pe
3.9), porque ele deseja que todos os homens sejam salvos e cheguem ao
conhecimento da verdade (1Tm 2.4).
Claramente, Deus não consegue
completamente o que quer, porque ele é soberano sobre sua soberania e permite
que pessoas pecadoras se oponham à sua vontade. Mas isso de forma alguma
diminui sua grandeza ou poder; é evidência de sua autolimitação e respeito
amoroso pelas pessoas.
Fonte: http://www.baptiststandard.com/index.php?option=com_content&task=view&id=5077&Itemid=134
Tradução: Paulo Cesar Antunes
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