sexta-feira, 31 de dezembro de 2021

Apologética Contemporânea: o que precisamos saber basicamente?

  

Por Walson Sales

 

Nos dias atuais há uma necessidade urgente de líderes cristãos que estejam comprometidos com o discernimento da verdade, a defesa da fé e a proteção do rebanho de Deus. Essa obra nem sempre é fácil, nem agradável, mas é sempre necessária. Os cristãos devem identificar e fazer oposição ao erro doutrinário e espiritual por uma razão principal: porque Deus nos comissiona para esta obra. Já no primeiro século, na época do Novo Testamento, o Corpo de Cristo foi atacado por seitas e falsos mestres, e as epístolas nos dão repetidos avisos acerca de impostores espirituais. A epístola de Judas, nos versículos 3 e 4, exorta-nos a batalhar diligentemente, pela fé que uma vez por todas foi entregue aos santos, pois certos indivíduos se introduziram com dissimulação. A fé cristã já tinha seus inimigos.

Embora o termo tenha sido ultimamente popularizado por várias instituições de pesquisas religiosas, ainda assim a conceituação correta permanece restrita apenas aos círculos acadêmicos teológicos. Faz-se necessário resgatar o seu verdadeiro sentido, para uma correta conceituação. O que é apologética? Para que serve? Onde empregá-la? Antes de adentrarmos à definição propriamente dita, precisamos averiguar o que NÃO significa apologética.[1]

 

1. Apologética não é a crítica pela crítica.

2. Apologética não é intolerância religiosa.

3. Apologética não é ataque puro e simples.

 

Portanto, vamos a Etimologia: A palavra apologética vem da palavra grega apologeisthai, que significa "uma defesa verbal." É usada oito vezes no Novo Testamento: At. 22.1;25.8; 25.16; ICo. 9.3; IICo. 7.11; Fp. 1.7,16; II Tm. 4.16.

Apologia significa resposta ou pergunta ao juiz de um tribunal, da parte do acusado. A apologia de Sócrates, por exemplo, respondia aos que o acusavam. Da mesma maneira, o cristianismo teve que se expressar em forma de respostas a certas acusações particulares. Os apologistas foram os que se entregaram a essa tarefa sistematicamente.[2] Enquanto a apologia trata-se de simplesmente justificar ou defender a fé, a apologética ultrapassa este senso comum e procura por meio de processos racionais e sistemáticos, apoiada em outras ciências, defender cientificamente o Cristianismo. A Apologética perpassa por diversas áreas tais como: teologia, filosofia, biologia, arqueologia, história, antropologia, matemática e linguística, etc. Nestas áreas ela pode estudar lógica, manuscritos, línguas originais da Bíblia, teoria da evolução etc. A apologética sempre está em via de transformações e aperfeiçoamentos.

Como Conceito: É a habilidade de responder fundamentado com provas adequadas e sólidas à fé cristã perante os ataques das filosofias seculares e crenças religiosas.

 

Embasamento bíblico

 

Apologética não é uma opção deixada ao crente para que decida, sem qualquer implicação, se quer ou não realizá-la. Igualmente, também não é uma recente característica ou tendência da fé cristã contemporânea. Mais propriamente, a apologética figura como um elemento essencial da Bíblia. Cerca de 90% de todo o Novo Testamento foi escrito com finalidade apologética. Grande parte das epístolas aludem a questões que perpassam à essa temática. Há vários versículos no Novo Testamento que permitem um correto embasamento bíblico para o ministério apologético. São eles:

"Antes santificai em vossos corações a Cristo como Senhor; e estai sempre preparados para responder com mansidão e temor a todo aquele que vos pedir a razão da esperança que há em vós" (I Pe. 3.15)

"...estes por amor, sabendo que fui posto para defesa do evangelho" (Fp. 1.16)

"Amados, enquanto eu empregava toda a diligência para escrever-vos acerca da salvação que nos é comum, senti a necessidade de vos escrever, exortando-vos a pelejar pela fé que de uma vez para sempre foi entregue aos santos" (Jd. 1.3)

"...retendo firme a palavra fiel, que é conforme a doutrina, para que seja poderoso, tanto para exortar na sã doutrina como para convencer os contradizentes" (Tt. 1.9)

 

Um Contraponto - O Testemunho Do Espírito Santo

 

Embora seja verdade que a apologética é indispensável a um ministério cristão bem sucedido há, no entanto, de ser esclarecido que a apologética se torna desnecessária para que a fé cristã seja garantida.

O teólogo Francis Schaeffer vai mais adiante e argumenta que a apologética não deve ser usada como um conjunto de regras fixas e impessoais, mas que a explanação da fé deve estar sujeita à direção do Espírito Santo e à consciência da individualidade de cada pessoa.

Mas não se segue daí que a apologética Cristã seja, portanto, inútil ou não tenha nenhum benefício para garantir a fé Cristã.

O Dr. John Warwick Montgomery, apologeta cristão de grande proeminência, destaca que a apologética não pode substituir a fé e muito menos suplantar a ação do Espírito Santo, entretanto, ela atua como um instrumento indispensável que elucida as verdades bíblicas, ajudando a preservá-las. Ao mesmo tempo em que a Bíblia nos ordena a pregar a palavra a tempo e fora de tempo, também nos ensina a redarguir, repreender e exortar com toda longanimidade e doutrina (IITm 4.2). E por que devemos proceder assim? O versículo seguinte responde: "Porque virá tempo em que não suportarão a sã doutrina; mas, tendo comichão nos ouvidos, amontoarão para si doutores conforme as suas próprias concupiscências" (IITm 4.3).

 

Tipos de Apologética

 

Há uma variedade de estilos e escolas de apologética Cristã. Os principais tipos de apologética Cristã incluem: apologética evidencialista, apologética pressuposicional, apologética clássica, apologética histórica e apologética experimental. Fora estas ainda temos apologética filosófica, apologética profética, apologética doutrinal, apologética bíblica, apologética moral, e apologética científica. Dentre essas,destacamos a Apologética Clássica como foco principal de nossa palestra onde a seguir conceituamos e apresentamos seus principais argumentos.

 

Apologética clássica - este tipo de abordagem trabalha com o principal pressuposto teológico, isto é, a existência de Deus. É essa linha apologética que vai explorar os argumentos comprobatórios da existência divina. Os principais argumentos são:

a.) Cosmológico: uma vez que cada coisa existente no Universo, deve ter uma causa, deve haver um Deus, que é a última causa de tudo.

b.) Teleológico: existe um objetivo, um propósito para a criação do Universo e do ser humano.

c.) Ontológico: Deus é maior do que todos os seres concebidos porque existe na mente do homem um conhecimento básico da existência de Deus. Os teólogos que se destacaram como apologistas clássicos foram: Agostinho, Anselmo de Cantuária e Tomás de Aquino.

 

Argumento Cosmológico - Deus provê a melhor explicação para a origem do universo.

 

O argumento cosmológico vem em uma variedade de formas. Mas aqui iremos abordar dois tipos, o argumento cosmológico da contingência e o argumento cosmológico Kalam. O argumento cosmológico da contingência é simples e famoso e é apresentado da seguinte forma:

 

1 - Tudo o que existe tem uma explicação de sua existência, ou na necessidade de sua própria natureza ou em uma causa externa;

2 - Se o universo tem uma explicação de sua própria existência, essa explicação é Deus;

3 - O universo existe;

4 - Portanto, o universo tem uma explicação de sua existência (de 1 e 3);

5 - Portanto, a explicação da existência do universo é Deus (de 2 e 4). (CRAIG, 2010).

 

Considere a primeira premissa. De acordo com a premissa 1 existem dois tipos de coisas: que existem necessariamente e coisas que são produzidas por uma causa externa. Aquilo que existe necessariamente existem por sua própria natureza. É impossível a elas não existir. Elas não são causadas por outra coisa, elas existem necessariamente. Por contraste, as coisas que são trazidas a existência por alguma coisa não existem necessariamente. Elas existem contingencialmente. Elas existem porque algo as produziu. Objetos físicos, pessoas, planetas e galáxias pertencem a esta categoria. A premissa 1 afirma que todas as coisas que existem podem ser explicadas de uma dessas duas formas.

E a premissa 2? Embora a premissa 2 possa parecer um pouco controversa, o que é realmente estranho para o ateu é que a premissa 2 é logicamente equivalente a resposta típica do ateu ao argumento da contingência. Mas pense, duas afirmações são logicamente equivalentes, se é impossível para uma ser verdade e a outra falsa. Elas permanecem ou caem juntas. Os ateus sempre atacam a premissa 2 da seguinte maneira: (A) Se o ateísmo é verdade, o universo não tem nenhuma explicação de sua existência; (Porém, na explicação do ateísmo, o universo é a realidade última e existe apenas como um fato bruto. Mas isso é logicamente equivalente a dizer o que está a seguir) (B) Se o universo tem uma explicação de sua existência, então o ateísmo é falso. Você não pode afirmar (A) e negar (B). Mas (B) é virtualmente sinônimo com a premissa 2 (pode comparar as duas). Então dizendo que, dado o ateísmo, o universo não tem nenhuma explicação, o ateu está implicitamente admitindo a premissa 2: se o universo tem uma explicação, então Deus existe. Somando a isso, pense sobre o que o universo é: toda a realidade do espaço-tempo, incluindo toda a matéria e energia. Segue-se que se o universo tem uma causa de sua existência, essa causa deve ser um ser não físico, imaterial, além do espaço-tempo. Existem apenas dois tipos de realidades que cabem nesta descrição: ou objetos abstratos como números ou uma mente incorpórea, Deus. Esse argumento prova a existência do Criador do universo que é não-causado, está fora do espaço, é atemporal, e imaterial.

O argumento cosmológico Kalam baseado no início do universo é uma versão diferente do argumento cosmológico. Este nome é dado em homenagem aos pensadores mulçumanos medievais (Kalam é a palavra árabe para teologia). O argumento ocorre assim:

 

1. Tudo o que passa a existir tem uma causa;

2. O universo passou a existir;

3. Portanto, o universo tem uma causa.

 

Mais uma vez chegamos a conclusão de que o universo tem uma causa, então podemos analisar que propriedades essa causa deve ter e atribuir o seu significado teológico. Novamente, o argumento é logicamente rígido. Então a única questão é se as duas premissas são mais plausíveis do que sua negação. A premissa 1 obviamente parece ser verdadeira, pelo menos mais do que sua negação. Primeiro, ela está enraizada na verdade necessária que algo não pode vir sem causa do nada. Dizer que algo pode vir causado do nada é pior do que mágica. A segunda premissa pode ser apoiada tanto por argumentos filosóficos quanto por evidência científica. O argumento filosófico objetiva mostrar que não pode ter um regresso infinito dos eventos passados. Em outras palavras, a série de eventos devem ser finitas e deve ter tido um inicio. Alguns desses argumentos tentam mostrar que é impossível para um número infinito de coisas existir; portanto, um número infinito de eventos passados não pode existir. Outros tentam mostrar que uma série realmente infinita de eventos passados nunca poderia decorrer; desde que a série de eventos passados, obviamente decorridos, o número de eventos passados deve ser finito. A evidência científica para a premissa 2 está baseada na expansão do universo e nas propriedades termodinâmicas do universo. De acordo com o modelo do Big Bang da origem do universo, o espaço físico e o tempo, junto com toda a matéria e energia no universo passou a existir em um ponto no passado 13.7 bilhões de anos atrás.

Dadas as evidências científicas que nós temos sobre o nosso universo e suas origens, e reforçado por argumentos apresentados por filósofos por séculos, é altamente provável que o universo teve um início absoluto. Desde que o universo, como todas as demais coisas, não poderia meramente ter passado a existir sem uma causa, deve existir uma realidade transcendente além do tempo e do espaço que trouxe o universo a existência. Esta entidade deve ser enormemente poderosa. Somente uma mente transcendente e incorpórea se encaixa adequadamente com esta descrição, como vimos acima. Para piorar a questão do Evolucionismo e do Ateísmo como um todo, vamos analisar a cronologia das descobertas científicas da Origem do Universo. Até 1917, os ateus pensavam que o Universo era necessário e a matéria era eterna. Quais as implicações desses pensamentos? Se isso fosse verdade, Deus não existe. Mas em 1917, Albert Einstein formulou a sua famosa Teoria da Relatividade. Quais as implicações das descobertas de Einstein? O universo teve origem em um passado finito. Implicações? Deus existe!

Um dos principais detalhes destas descobertas científicas era que antes dessa criação, não existia exatamente nada. Nem tempo, espaço ou matéria. O que diz o livro de Gênesis 1.1? ―No princípio [tempo], criou Deus os céus [espaço] e a terra [matéria]. A evidência científica confirma o que a Bíblia já afirmava a milhares de anos atrás. Como as coisas são engraçadas.

 

Argumento Teleológico - Deus provê a melhor explicação para o ajuste fino do universo.

 

A física contemporânea tem estabelecido que o universo é milimetricamente ajustado para a existência de vida interativa e inteligente. Ou seja, para que vida inteligente e interativa exista, as constantes e as quantidades fundamentais da natureza devem estar em uma faixa incompreensivelmente estreita para permitir a vida. Existem três explicações rivais a este ajuste fino extraordinário: necessidade física, acaso ou design. Os dois primeiros são altamente implausíveis, dadas as constantes e quantidades fundamentais independentes das leis da natureza e as manobras desesperadas necessárias para salvar a hipótese do acaso. Isto deixa o design como a melhor explicação. David Wood afirma que existem duas versões principais do Argumento do Design: (1) o Argumento da Sintonia Fina, e (2) o Argumento da Complexidade Biológica. Os Físicos estão bem conscientes do fato de que as constantes no nosso universo parecem tão bem ajustadas para a vida. Se a força gravitacional, a força nuclear fraca, a força nuclear forte e a força eletromagnética fossem alterados mesmo levemente, os seres humanos não existiriam. Desde que não existe nenhuma explicação naturalista em porque estes valores deveriam estar exatamente corretos para a vida, a sintonia fina do cosmos fornece uma forte evidência de um projeto inteligente. Um cosmos ajustado de maneira primorosa para a vida, no entanto, não nos fornece a vida. Passos adicionais são requeridos para alcançar células vivas, organismos multicelulares, ecossistemas completos e especialmente seres conscientes, auto reflexivos. A complexidade de até mesmo o mais básico organismo vivo (deixe somente a complexidade de vida mais avançada) é evidência adicional de um projeto inteligente (apud DEMBSKI & LICONA, 2010, p. 41).

 

Argumento Moral - Deus provê a melhor explicação dos valores e obrigações morais objetivas

 

Mesmo os ateus reconhecem que algumas coisas, por exemplo, o Holocausto, são objetivamente más. Mas, se o ateísmo é verdadeiro, que bases existem para a objetividade dos valores morais que nós afirmamos? Evolução? Condicionamento Social? Estes fatores podem, na melhor das hipóteses, produzir em nós sentimentos subjetivos que existem valores e obrigações morais objetivas, mas eles não fazem nada para prover a base para estes sentimentos. Se a evolução humana tomou um caminho diferente, um conjunto de sentimentos morais muito diferentes pode ter evoluído. Em contraste, o próprio Deus serve como o paradigma de bondade e seus mandamentos constituem nossas obrigações morais. Assim, o teísmo provê a melhor explicação das obrigações e valores morais objetivos.

Segundo alguns ateus famosos, aqui estão algumas conseqüências necessárias do ateísmo: Deus não existe; não existe nada, apenas o mundo físico (Dan Barker – Protestsignatthe Washington State Capital). Os seres humanos não são nada, apenas máquinas que geraram o DNA (Richard Dawkins – The God Delusion). A moralidade está baseada em um consenso dos seres humanos (Gordon Stein – “The Great Debate: Does God Exist?”). Se isso é verdade, então seria impossível considerar as coisas como absolutos morais, leis da lógica ou a dignidade humana; três coisas que todos entendemos ser indisputáveis (CÓLON, 2010).

Ora, se Deus não existe não existem valores morais objetivos. Afirmar que o homem criou regras não as torna objetivas. Afirmar que valores são produtos da evolução para a preservação da espécie não torna os valores objetivos. Todos os seres vivos têm mecanismos de defesa inatos que os leva a luta pela sobrevivência, e isso também não torna os valores objetivos. Estes mecanismos não tornam os valores no mundo animal objetivos. Se o ateu não aceita a objetividade dos valores ele terá que abraçar o Niilismo. Vamos analisar o problema do mal.

 

O Problema do Mal a Luz do Ateísmo

 

C. Stephen Evans descreve o Problema do Mal com as seguintes palavras: “Dificuldade colocada pela existência do mal (tanto o mal moral e o mal natural) em um mundo criado por um Deus que é ao mesmo tempo completamente bom e todo-poderoso. Alguns ateus argumentam que, se tal Deus existisse, não haveria mal, uma vez que Deus iria tanto querer eliminar o mal e seria capaz de fazê-lo. Um argumento que o mal é logicamente incompatível com a realidade de Deus constitui a forma lógica ou dedutiva do problema. Um argumento que o mal faz a existência de Deus improvável ou menos provável é chamado de evidencial ou forma probabilística do problema. As respostas para o problema incluem teodicéias que tentam explicar por que Deus permite o mal, geralmente, especificando um bem maior que o mal faz possível, e defesas, que argumentam que é razoável acreditar que Deus é justificado em permitir o mal, mesmo se não sabemos quais são suas razões” (2002, p. 42). Mas o ateu tem o direito de reivindicar o problema do mal? O mal é incompatível com a existência de Deus?

Embora[3] seja comum pensar que apenas os teístas têm que explicar a existência do mal, a verdade é que cada visão de mundo tem a mesma obrigação. Religiões panteístas orientais tentam contornar o problema, negando que o mal existe. O mal é uma ilusão, eles dizem (e de acordo com eles, você também!). Os teístas dizem que mal é real e tentam explicar como o mal e Deus podem coexistir. Os ateus tendem a ficar no meio. De um lado eles estão alegando que não há bem, o mal ou a justiça, porque só as coisas materiais existem - nós somos apenas máquinas moleculares materiais "dançando ao som da música" do nosso DNA (como o próprio Dawkins colocou). Por outro lado eles estão indignados com as grandes injustiças e o mal feito por pessoas religiosas em nome de Deus [neste exemplo, os islâmicos].

Bem, os ateus não podem ter as duas coisas. Ou o mal existe ou não. Se ele não existir, então os ateus devem parar de reclamar sobre as coisas "más" que as pessoas religiosas têm feito, porque eles não têm realmente feito nada. Eles estavam apenas "dançando ao som da música" de seu DNA. Afinal de contas, se o ateísmo é verdadeiro, todos os comportamentos são apenas uma questão de preferência. Por outro lado, se o mal realmente existe, então os ateus têm um problema ainda maior. A existência do mal, na verdade, estabelece a existência de Deus. Para explicar por que, precisamos voltar para Agostinho, que intrigado com o seguinte argumento:

 

1. Deus criou todas as coisas.

2. O mal é uma coisa.

3. Portanto, Deus criou o mal.

 

Como poderia um Deus bom criar o mal? Se essas duas primeiras premissas são verdadeiras, Ele criou, e este é um problema para Deus. Então, Deus não deve ser bom afinal de tudo. Mas então Agostinho percebeu que a segunda premissa não é verdadeira. Enquanto o mal é real, ele não é uma "coisa". O mal não existe por si só. Ele só existe como uma falta ou uma deficiência em uma coisa boa.

O mal é como a ferrugem em um carro: Se você tirar toda a ferrugem do carro, você tem um carro melhor; se você tirar o carro da ferrugem, você não tem nada. Ou você poderia dizer que o mal é como um corte em seu dedo: Se tirar o corte do seu dedo, você tem um dedo melhor; se você tirar o dedo do corte, você não tem nada. Em outras palavras, o mal só faz sentido no contexto do bem. É por isso que com frequência descrevemos o mal como negações de coisas boas. Nós dizemos que alguém é imoral, injusto, desleal, desonesto, etc.

Nós poderíamos colocar desta forma: As sombras provam a luz do sol. Pode haver sol sem sombras, mas não pode haver sombras sem luz do sol. Em outras palavras, pode haver o bem sem o mal, mas não pode haver mal sem bem.

Assim, o mal não pode existir a menos que o bem exista. Mas o bem não pode existir a menos que Deus exista. Em outras palavras, não pode haver nenhum mal objetivo a não ser que haja o bem objetivo, e não pode haver nenhum bem objetivo a não ser que Deus exista. Se o mal é real - como as notícias recentes da França claramente revelam - então Deus existe. O melhor que o mal pode fazer é mostrar que há um demônio lá fora, mas não pode refutar Deus.

Apesar de toda discussão em torno do problema do mal no mundo entre cristãos e suas diferenças sobre o assunto, o ateu não pode ter razões justificáveis de afirmar que a existência do mal é incompatível com a existência de Deus. Não por algo dentro da doutrina cristã, mas pela própria visão de mundo ateísta.

 

Notas:

[1] Parte deste trecho da pesquisa sobre Apologética foi retirado e adaptado do Curso de Apologética Aplicada ministrado pelo Pastor João Flávio Martinez, Presidente do Centro Apologético Cristão de Pesquisas - CACP. Salvo indicação em contrário demonstrado por citação.

 

[2] Nota importante: Apesar dos termos apologia e apologética serem semanticamente similares são, entretanto, diferentes. Entendemos que o termo apologética reporta a uma ciência da apologia. É a ciência que estabelece a verdade do Cristianismo como uma religião absoluta.

 

[3] A partir daqui citarei de forma parafrásica o livro do Frank Turek (2014), ora denominado (TUREK 2014, p. 115) pela pujança e força no argumento, salvo indicação em contrário mencionado por citação.

 

REFERÊNCIAS:

 

CÓLON, Brian. Atheism: A Falsified Hypothesis. Disponível em: http://www.apologetics315.com/2010/04/essay-atheism-falsified-hypothesis-by.html, acesso em 01/01/2015

CRAIG, William Lane. A Veracidade da Fé Cristã (H. U. Fuchs, trad.). São Paulo: Edições Vida Nova, 2004.

CRAIG, William Lane. The New Atheism and Five Arguments for God. 2010. Disponível em: http://www.reasonablefaith.org/the-new-atheism-and-five-arguments-for-god#ixzz3QAelIaUc, acesso: 28/01/2015

CRAIG, William Lane; LAW, Stephen. Does God Exist? The Craig-Law debate (2011). Disponível em: http://www.reasonablefaith.org/does-god-exist-the-craig-law-debate, acesso em 01/01/2015

CRAIG, William Lane; SMITH, Quentin. Does God Exist? Disponível em http://www.reasonablefaith.org/does-god-exist-the-craig-smith-debate-2003, acesso em 01/01/2015

D’SOUZA, Dinesh. A Verdade sobre o Cristianismo: Por que a religião criada por Jesus é moderna, fascinante e inquestionável; [tradução Valéria Lamim Delgado Fernandes]. Rio de Janeiro: Thomas Nelson Brasil, 2008

 

DEMBSKI, William A; LICONA, Michael R (Ed.). Evidence for God: 50 Arguments for Faith from the Bible, History, Philosophy and Science. Grand Rapids, MI: Baker Books, 2010.

EVANS, C. Stephen. Pocket Dictionary of Apologetics & Philosophy of Religionhttp://www.assoc-amazon.com/e/ir?t=apologetics31-20&l=btl&camp=213689&creative=392969&o=1&a=0830814655. Downers Grove, IL: InterVarsity Press, 2002.

GEISLER, Norman L. Enciclopédia de Apologética (L. Noronha, trad.). São Paulo: Editora Vida, 2002.

GEISLER, Norman L; TUREK, Frank. Não Tenho Fé Suficiente Para Ser Ateu (E. Justino, trad.). São Paulo: Editora Vida, 2006.

KING, Nathan L.; GARCIA, Robert K. (Eds.). Is Goodness without God Good Enough?: A Debate on Faith, Secularism, and Ethics. Lanham, Maryland: Rowman & Littlefield Publishers, 2009

MARTINEZ, João Flávio. Curso de Apologética Aplicada. São Paulo: Centro Apologético Cristão de Pesquisas, 2014.

STROBEL, Lee. The Case For A Creator: A Journalist Investigates Scientific Evidence That Points Toward God. Grand Rapids, Michigan: Zondervan, 2004

TUREK, Frank. Stealing from God: Why atheists need God to make their case. Colorado Springs, CO: NavPress, 2014

WALLACE, Stan W (ed.). Does God Exist? The Craig-Flew Debate. Burlington, USA: Ashgate Publishing, 2003

ZACHARIAS, Ravi. Pode o Homem Viver sem Deus? São Paulo: Mundo Cristão, 1997

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