Roger E. Olson
Tenho autorizado mensagens com as quais
eu vigorosamente discordo, mas não tenho tempo para corrigir cada concepção
equivocada ou deturpação do Arminianismo ou outros sistemas teológicos.
O Arminianismo clássico NÃO diz que
Deus nunca interfere no livre-arbítrio. Ele diz que Deus NUNCA preordena ou
torna o mal certo. Isto está relacionado com a questão do Arminianismo e a
inerrância. Um arminiano PODERIA crer que Deus tenha ditado a Escritura e não
fazer violência às suas crenças arminianas.
Contrário ao que alguns participantes
aqui têm deduzido, o Arminianismo não tem paixão pelo livre-arbítrio libertário
– como se isso fosse importantíssimo em e de si mesmo. Os arminianos clássicos
vêm esforçando-se (a começar pelo próprio Arminius) para deixar claro que
nossas únicas razões para crer no livre-arbítrio COMO ARMINIANOS (alguém
poderia ao mesmo tempo ter razões filosóficas) são 1) evitar fazer de Deus o
autor do pecado e do mal, e 2) deixar claro a responsabilidade humana pelo
pecado e pelo mal.
O Arminianismo é completamente ortodoxo
cristologicamente. O Arminianismo clássico afirma as duas naturezas de Jesus
Cristo. Dizer o contrário é simplesmente revelar ignorância do Arminianismo
clássico. E dizer que a ortodoxia nega o livre-arbítrio humano de Jesus (até
para resistir a Deus) é ignorar toda a controvérsia monotelita/diotelita e seu
resultado no Terceiro Concílio de Constantinopla em 678 (o sexto concílio
ecumênico). Lá e em concílios posteriores, a igreja unificada condenou a crença
em uma vontade e afirmou como ortodoxa a crença em duas vontades de Cristo. Os
principais intérpretes do diotelismo como Máximo o Confessor e João de Damasco
ensinaram que, embora fosse teoricamente possível que a vontade humana de
Cristo resistisse à vontade de Deus, isso não poderia na verdade acontecer na
prática por causa da deificação (theosis) da humanidade de Cristo.
Ninguém tem que afirmar os últimos
concílios para ser um arminiano clássico. (Lutero e Calvino e outros líderes
reformadores afirmavam somente os primeiros quatro concílios como ortodoxos.)
Entretanto, argumentar que a ortodoxia nega que Cristo, em sua humanidade,
poderia resistir à vontade de Deus é ir contra a ortodoxia clássica. É mais ortodoxo
afirmar que ele poderia (teoricamente).
Por favor, sejam cuidadosos em acusar
qualquer ponto de vista oposto mantido pelos evangélicos como heterodoxo.
Acusar o Arminianismo clássico de ser cristologicamente heterodoxo é errar o
alvo completamente a ponto de beirar à indelicadeza (porque isto poderia
enganar os evangélicos que vivem mudando de opinião a pensar que o Arminianismo
é na verdade contra a ortodoxia cristológica histórica quando ele não é).
Finalmente, sobre o livre-arbítrio
libertário: os arminianos geralmente NÃO creem no que usualmente é denominado
“livre-arbítrio libertário” (no sentido filosófico forte do termo). Cremos em
livre-arbítrio situado – livre-arbítrio dentro de limites e contextos. Nenhum
arminiano crê que uma pessoa com livre-arbítrio (restaurado pela graça
preveniente) é capaz de fazer simplesmente qualquer coisa que ela queira fazer.
Os calvinistas que argumentam que o livre-arbítrio incompatibilista é
incoerente precisam decidir se creem que Deus tem esse tipo de livre-arbítrio
ou não. Jonathan Edwards (novamente) foi mais consistente em negá-lo. O
resultado, obviamente, é que a criação de Deus do mundo não é uma questão de
graça mas de necessidade E que Deus é em algum sentido dependente do mundo
(dessa forma inadvertidamente negando a asseidade de Deus que muitos
calvinistas alegam crer). Agora, nem Edwards nem os calvinistas contemporâneos
admitem todas estas coisas, mas nos parece que eles logicamente precisam negar
o livre-arbítrio incompatibilista de Deus. E se Deus o tem, a rigor isto não
pode ser logicamente incoerente. Pode ser misterioso, mas essa é uma questão
diferente.
Toda teologia afirma mistério em algum
momento. A questão basicamente resulta em com quais mistérios alguém pode
viver. Quanto a mim, eu posso viver com o mistério do livre-arbítrio muito mais
facilmente do que com o mistério de como Deus pode ser bom e predestinar uma
porção significante da humanidade ao inferno ainda que somente “passando por
alto” deles (como explicado em um post anterior).
Fonte: http://www.rogereolson.com/2010/08/22/a-quick-sidebar-comment-on-civility/
Tradução: Paulo Cesar Antunes
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