quinta-feira, 2 de dezembro de 2021

Mais uma Nota Rápida para Elucidar o Arminianismo

 

Roger E. Olson

 

Tenho autorizado mensagens com as quais eu vigorosamente discordo, mas não tenho tempo para corrigir cada concepção equivocada ou deturpação do Arminianismo ou outros sistemas teológicos.

O Arminianismo clássico NÃO diz que Deus nunca interfere no livre-arbítrio. Ele diz que Deus NUNCA preordena ou torna o mal certo. Isto está relacionado com a questão do Arminianismo e a inerrância. Um arminiano PODERIA crer que Deus tenha ditado a Escritura e não fazer violência às suas crenças arminianas.

Contrário ao que alguns participantes aqui têm deduzido, o Arminianismo não tem paixão pelo livre-arbítrio libertário – como se isso fosse importantíssimo em e de si mesmo. Os arminianos clássicos vêm esforçando-se (a começar pelo próprio Arminius) para deixar claro que nossas únicas razões para crer no livre-arbítrio COMO ARMINIANOS (alguém poderia ao mesmo tempo ter razões filosóficas) são 1) evitar fazer de Deus o autor do pecado e do mal, e 2) deixar claro a responsabilidade humana pelo pecado e pelo mal.

O Arminianismo é completamente ortodoxo cristologicamente. O Arminianismo clássico afirma as duas naturezas de Jesus Cristo. Dizer o contrário é simplesmente revelar ignorância do Arminianismo clássico. E dizer que a ortodoxia nega o livre-arbítrio humano de Jesus (até para resistir a Deus) é ignorar toda a controvérsia monotelita/diotelita e seu resultado no Terceiro Concílio de Constantinopla em 678 (o sexto concílio ecumênico). Lá e em concílios posteriores, a igreja unificada condenou a crença em uma vontade e afirmou como ortodoxa a crença em duas vontades de Cristo. Os principais intérpretes do diotelismo como Máximo o Confessor e João de Damasco ensinaram que, embora fosse teoricamente possível que a vontade humana de Cristo resistisse à vontade de Deus, isso não poderia na verdade acontecer na prática por causa da deificação (theosis) da humanidade de Cristo.

Ninguém tem que afirmar os últimos concílios para ser um arminiano clássico. (Lutero e Calvino e outros líderes reformadores afirmavam somente os primeiros quatro concílios como ortodoxos.) Entretanto, argumentar que a ortodoxia nega que Cristo, em sua humanidade, poderia resistir à vontade de Deus é ir contra a ortodoxia clássica. É mais ortodoxo afirmar que ele poderia (teoricamente).

Por favor, sejam cuidadosos em acusar qualquer ponto de vista oposto mantido pelos evangélicos como heterodoxo. Acusar o Arminianismo clássico de ser cristologicamente heterodoxo é errar o alvo completamente a ponto de beirar à indelicadeza (porque isto poderia enganar os evangélicos que vivem mudando de opinião a pensar que o Arminianismo é na verdade contra a ortodoxia cristológica histórica quando ele não é).

Finalmente, sobre o livre-arbítrio libertário: os arminianos geralmente NÃO creem no que usualmente é denominado “livre-arbítrio libertário” (no sentido filosófico forte do termo). Cremos em livre-arbítrio situado – livre-arbítrio dentro de limites e contextos. Nenhum arminiano crê que uma pessoa com livre-arbítrio (restaurado pela graça preveniente) é capaz de fazer simplesmente qualquer coisa que ela queira fazer. Os calvinistas que argumentam que o livre-arbítrio incompatibilista é incoerente precisam decidir se creem que Deus tem esse tipo de livre-arbítrio ou não. Jonathan Edwards (novamente) foi mais consistente em negá-lo. O resultado, obviamente, é que a criação de Deus do mundo não é uma questão de graça mas de necessidade E que Deus é em algum sentido dependente do mundo (dessa forma inadvertidamente negando a asseidade de Deus que muitos calvinistas alegam crer). Agora, nem Edwards nem os calvinistas contemporâneos admitem todas estas coisas, mas nos parece que eles logicamente precisam negar o livre-arbítrio incompatibilista de Deus. E se Deus o tem, a rigor isto não pode ser logicamente incoerente. Pode ser misterioso, mas essa é uma questão diferente.

Toda teologia afirma mistério em algum momento. A questão basicamente resulta em com quais mistérios alguém pode viver. Quanto a mim, eu posso viver com o mistério do livre-arbítrio muito mais facilmente do que com o mistério de como Deus pode ser bom e predestinar uma porção significante da humanidade ao inferno ainda que somente “passando por alto” deles (como explicado em um post anterior).

 

Fonte: http://www.rogereolson.com/2010/08/22/a-quick-sidebar-comment-on-civility/

 

Tradução: Paulo Cesar Antunes

 

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