N. T. Wright
É
triste ver Stephen Hawking, uma das mais brilhantes mentes em sua área,
tentando falar como um especialista sobre coisas que, infelizmente, ele parece
conhecer menos do que um cristão de inteligência comum. É claro que há pessoas
que pensam em “céu” como um tipo de parque da felicidade após a morte, no
intuito de tornar a ideia de morrer menos assustadora. Não há dúvidas de que o
problema é mais antigo do que a raça humana. Porém, na Bíblia, “céu” não é o
lugar para onde as pessoas vão quando morrem. Na Bíblia o céu é o espaço de
Deus, enquanto a terra (ou, se preferir, “o cosmos” ou “a criação”) é o nosso
espaço. E a Bíblia deixa claro que os dois se sobrepõem e se interligam. Para
os judeus antigos, o lugar onde isso acontecia era o templo; para os cristãos,
esse lugar é o próprio Jesus e, de forma espantosa, os próprios cristãos, pois
eles também são “templos” do próprio espírito de Deus.
Hawking
trabalha com uma visão bastante limitada e extra-bíblica quando se trata de “ir
para o céu”. É claro que, se fosse confrontado com as duas visões totalmente
cristãs do que acontece depois da morte – primeiro, um tempo “com Cristo” no
“céu” ou “paraíso”, e então, quando Deus renovar toda a criação, a ressurreição
corporal – sem dúvida ele iria repudiá-las como inacreditáveis. Porém, duvido
que ele tenha parado para observar de forma honesta, com seu super-intelecto, a
evidência de Jesus e da ressurreição. Eu duvido – a maioria das pessoas não faz
isso. Até que ele o faça, sua opinião sobre esse assunto vale o mesmo que a
minha sobre física nuclear, ou seja, não muito.
Sobre
a criação se autoformando: pergunto-me se ele percebe que está simplesmente
repetindo uma versão do antigo epicurismo. Isto é, os deuses estão fora de
cena, totalmente distantes; assim, o mundo/seres humanos/etc., precisa andar
com suas próprias pernas. Dificilmente se trata de uma “conclusão” de seu
estudo das evidências; é simplesmente uma conhecida cosmovisão compartilhada
por muitos ocidentais pós-iluministas. É a cosmovisão que permite que a
democracia secular se considere absoluta, independente de suas numerosas e
óbvias falhas atuais. O frustrante é que Hawking parece não perceber isso e nem
mesmo para para pensar que podem existir críticas bastante elaboradas ao
epicurismo, antigo e moderno, as quais ele deveria examinar. Principalmente a
cristã, que novamente focaliza Jesus.
É
claro que o antigo contexto em que se trava o debate “ciência e religião” foi
profundamente influenciado pela mesma cosmovisão, e precisa de reparos. De
fato, os cristãos antigos se chocariam ao ver sua cosmovisão rotulada como
“religião”. Era uma filosofia, uma política, uma cultura, uma vocação... a
categoria “religião” é parte do problema, não da solução.
Tradução:
Paula Mendes
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