segunda-feira, 10 de janeiro de 2022

Dale Moody - Arrependimento e Chamado

  

O chamado ao arrependimento nem sempre resulta em salvação. “Porque muitos são chamados, mas poucos escolhidos” (Mt 22.14). Ainda assim, o evangelho deve ser pregado a todas as nações antes do fim dos tempos (24.14). Os discípulos de Jesus são comissionados a fazer “discípulos de todas as nações” (28.19), todavia é reconhecido que muitas pessoas irão ao Geena (25.31-46). A única coisa certa é que o chamado é para todos, mas nem todos serão salvos.

O chamado tem um lugar especial na teologia de Paulo. Uma passagem apocalíptica distinguia entre aqueles que “padecerão eterna perdição, ante a face do Senhor e a glória do seu poder” e aqueles por quem ele orou para que Deus tornasse “dignos da sua vocação,” todavia não há uma palavra sobre a dupla predestinação. Os “dignos da sua vocação” claramente são “todos os que creem (porquanto o nosso testemunho foi crido entre vós)” (2Ts 1.9-11).

Os chamados em Coríntios parecem idênticos aos santos que creram, mas procuramos em vão por alguma sugestão de que há um chamado irresistível (1Co 1.1, 2, 24, 26). Há muitas situações na vida nas quais o chamado é para servir ao Senhor, mas o chamado para servir é o mesmo que o chamado para ser salvo (7.20-22). É uma distorção do evangelho ensinar que todos são chamados para ser salvos mas somente alguns para servir. Os chamados são aqueles que ouviram e creram, mas não há nenhuma sugestão de que alguns que ouviram foram predestinados à incredulidade de uma forma predeterminada.

O carro-chefe do Calvinismo com sua doutrina de um chamado irresistível tem sido a carta de Paulo a Roma. A primeira referência aos chamados é muito semelhante àquelas já observadas em Corinto (1.1, 6), mas duas passagens requerem análise especial. Rm 8.28 diz que Deus “coopera para o bem daqueles que amam a Deus, daqueles que são chamados segundo o seu propósito” (New English Bible), todavia por séculos a Versão King James de 1611 tem sido seguida, que diz que “todas as coisas contribuem juntamente para o bem,” como se a cooperação humana fosse excluída do propósito de Deus. A cooperação humana da fé, esperança e amor tem sido atacada como sinergismo, todavia Paulo usa o verbo grego synergei! Então, Rm 8.29f é interpretado como se a predestinação, o pré-conhecimento, o chamado, a justificação e a glorificação fossem uma cadeia dourada de causa e efeito, no entanto Paulo deixa muito claro que os que foram conhecidos por Deus podem regressar ao estado de escravidão do qual vieram (Gl 4.8-11).

A última e desesperada defesa do determinismo está em Rm 11.29, onde a Revised Standard Version diz que “os dons e a vocação de Deus são irrevogáveis”. Aqui a Versão King James é preferível quando diz que “os dons e a vocação de Deus são sem arrependimento,” pois o grego ametameleta significa “não arrependido”. O ponto é que Deus não modificou sua aliança com Israel e transferiu todas as suas promessas à igreja, uma opinião defendida pelo Calvinismo conservador. Deus tem um propósito tanto em Israel como entre os gentios, mas seu plano inclui a resposta humana da fé antes dele poder ser completado. Quando a paciência de Deus é relacionada a um correto entendimento da doutrina da predestinação de Paulo, o refúgio calvinista do determinismo vem abaixo. A responsabilidade humana dificilmente pode ser mais exagerada do que na própria declaração de Paulo sobre como a paciência de Deus busca levar as pessoas ao arrependimento. Rm 2.4-10 não requer nenhuma ideia estranha a fim de se tornar clara. É citado integralmente no próximo parágrafo.

 

Ou desprezas tu as riquezas da sua benignidade, e paciência e longanimidade, ignorando que a benignidade de Deus te leva ao arrependimento? Mas, segundo a tua dureza e teu coração impenitente, entesouras ira para ti no dia da ira e da manifestação do juízo de Deus; o qual recompensará cada um segundo as suas obras; a saber: a vida eterna aos que, com perseverança em fazer bem, procuram glória, honra e incorrupção; mas a indignação e a ira aos que são contenciosos, desobedientes à verdade e obedientes à iniquidade;  tribulação e angústia sobre toda a alma do homem que faz o mal; primeiramente do judeu e também do grego; glória, porém, e honra e paz a qualquer que pratica o bem; primeiramente ao judeu e também ao grego.

 

A seção subsequente sobre salvação e predestinação continuará a discussão sobre paciência e predestinação no propósito de Deus em Rm 9.22. Rm 2.4-10; 8.28-30; 9.22; 11.29 devem ser lidos como uma unidade.

É bastante instrutivo observar que Paulo ensina Timóteo a usar o tipo de paciência pastoral que o próprio Deus usa para trazer as pessoas ao arrependimento (2Tm 2.24-26). Isto dificilmente é paciência irresistível, pois há o perigo de que até mesmo um bispo recém convertido tenha o mesmo destino que o diabo (1Tm 3.6f). Sem dúvida alguns dos dramas medievais estavam corretos quando retratavam alguns pomposos bispos! Prelados orgulhosos e professores da atualidade não estão além desta possibilidade. Até o apóstolo Paulo não pensava que estava (1Co 9.27).

O chamado de Deus é para cima e para frente, em direção ao prêmio, mas Paulo sentia que, apesar das dificuldades, tinha que se esforçar. Paulo suplicou aos seus leitores a viverem de uma maneira digna do chamado com que tinha sido chamados (Ef 4.1). Isto deve ser baseado nas crenças que unificam, uma das quais é “uma só esperança da vossa vocação” com que eles foram chamados (4.4). Deus “nos salvou, e chamou com uma santa vocação,” mais isto não exclui a possibilidade de que alguns possam abandonar o chamado (2Tm 1.9, 15).

Os crentes hebreus a quem a carta de Hebreus é escrita eram “irmãos santos, participantes da vocação celestial” (3.1), como também “participantes do Espírito Santo” (6.4), todavia havia a possibilidade de que os imaturos entre eles cometessem apostasia (2.1-4; 3.12-14; 5.11-6.20; 10.26-31; 12.12-17).

Se alguém não esquecer que foi limpo de seus antigos pecados e ficar cego espiritualmente, ele deve confirmar seu chamado e eleição pelo crescimento na graça (2Pe 1.5-11). Se fizer seu chamado e eleição firmes em maturidade cristã, ele nunca abandonará o caminho da verdade e da justiça (1.10; 2.2, 21).

Reconhecer que somos “chamados para a comunhão de seu Filho Jesus Cristo nosso Senhor” (1Co 1.9) não exige a conclusão que outros não podiam responder ao chamado. O esforço para confinar 2Pe 3.9 aos eleitos apenas requer uma exegese que não é óbvia. Conforme essa interpretação restritiva, Deus seria paciente somente com os eleitos e não desejaria que alguns dos eleitos perecesse. Ao contrário, parece que Deus é paciente com todas as pessoas enquanto chama cada uma e todas ao arrependimento.

Quando o chamado é considerado nas páginas do Novo Testamento, livre dos credos do Calvinismo, não há necessidade de distinções refinadas entre um chamado externo na revelação geral e a pregação do Evangelho em um “chamado eficaz, irresistível.”

Há somente um chamado de Deus na revelação geral e na pregação da revelação especial na Escritura, e sempre que o homem ouvir o chamado, ele pode tornar-se eficaz quando houver a resposta de arrependimento e fé (At 20.21).

 

Fonte: The Word of Truth, 313-316

 

Tradução: Paulo Cesar Antunes

 

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