domingo, 3 de abril de 2022

Jo 6.37

 Paulo Cesar Antunes

 

Todo o que o Pai me dá virá a mim; e o que vem a mim de maneira nenhuma o lançarei fora. Jo 6.37

 

Os calvinistas estão certos quando dizem que todo o que o Pai dá a Jesus crerá nele, considerando que ‘vir’ e ‘crer’ são sinônimos no contexto, como pode ser visto do versículo 35: “Eu sou o pão da vida; aquele que vem a mim não terá fome, e quem crê em mim nunca terá sede.” Não obstante, estão errados quando dizem que ‘ser dado pelo Pai a Jesus’ tem referência àquela transação feita na eternidade na qual Deus fixa o número dos eleitos e entrega a Jesus. Considerando que o contexto não apóia tal conclusão, devemos tratá-la como ela de fato é: uma mera suposição.

 Mas o que então significa ‘ser dado pelo Pai a Jesus’?

 Jesus estava falando a respeito dos sinais que no Antigo Testamento Deus disse que acompanhariam o Messias. Muitos judeus não estavam acreditando que aqueles sinais atestavam que Jesus era o Messias. Por isso Jesus diz: “Na verdade, na verdade vos digo que me buscais, não pelos sinais que vistes, mas porque comestes do pão e vos saciastes,” Jo 6.26. Apesar de todos os milagres realizados por Jesus, eles permaneciam incrédulos: “Mas já vos disse que também vós me vistes, e contudo não credes,” Jo 6.36. E Jesus completa, explicando em que sentido ninguém pode ir a Ele se Deus o não trouxer: “Está escrito nos profetas: E serão todos ensinados por Deus. Portanto, todo aquele que do Pai ouviu e aprendeu vem a mim,” 6.45.

 Ser dado pelo Pai a Jesus, ou ser trazido a Jesus, portanto, é ouvir e aprender de Deus, é reconhecer que tudo que Deus havia dito a respeito do Messias que haveria de vir se confirmava em Jesus, que os sinais que Jesus realizava, conforme Deus havia revelado, eram provas da veracidade de Sua missão.

 Para crer em Cristo para salvação era imprescindível estar convencido de que aqueles sinais demonstravam que Ele era o Messias prometido:

 

Jesus principiou assim os seus sinais em Caná da Galiléia, e manifestou a sua glória; e os seus discípulos creram nele. Jo 2.11

 

Manifestei o teu nome aos homens que do mundo me deste; eram teus, e tu mos deste, e guardaram a tua palavra. Agora já têm conhecido que tudo quanto me deste provém de ti; porque lhes dei as palavras que tu me deste; e eles as receberam, e têm verdadeiramente conhecido que saí de ti, e creram que me enviaste. Jo 17.6-8

 

Por isso mesmo Jesus diz: “Examinais as Escrituras, porque vós cuidais ter nelas a vida eterna, e são elas que de mim testificam,” Jo 5.39. Não era possível crer em Cristo para salvação antes de reconhecê-lo como o Messias que haveria de vir.

 Os judeus afirmavam que seguiam Moisés, mas, como Jesus diz, “Se vós crêsseis em Moisés, creríeis em mim; porque de mim escreveu ele,” Jo 5.46. Já Filipe diz, “Havemos achado aquele de quem Moisés escreveu na lei, e os profetas,” Jo 1.45. Alguns mostraram que realmente tinham aprendido de Deus, pois viram que os sinais que Jesus realizavam eram provas suficientes de que Jesus era o Messias que havia sido prometido por meio de Moisés. Todos os que creram verdadeiramente em Moisés, ou seja, ouviram e aprenderam de Deus, sabiam que Jesus era o Messias, sendo assim dados a Jesus pelo Pai para receber uma revelação e iluminação ainda maior.

 Ser dado a Jesus pelo Pai nada mais é do que é ir de Moisés a Cristo, da velha para a nova dispensação.

 A interpretação calvinista é extremamente desoladora. Se verdadeira, Jesus estaria desencorajando aqueles judeus dizendo que havia um número de pessoas escolhidas incondicionalmente pelo Pai do qual eles não faziam parte. E não apenas é desoladora, ela não pode ser apoiada pelo contexto.

Nenhum comentário:

Postar um comentário