Por
Walson Sales
No
fim da Idade Média, a teologia já não poderia ignorar a ciência. O resultado da
dicotomia entre conhecimento tangível e intangível deixou muitos de nossos grandes
estudiosos perplexos – nenhum maior do que o próprio Maimônides. Quando o
Rabino Moses Bem-Maimon (1135-1204) meditou sobre o universo (ou para ser mais
preciso, quando ele pensou em meditar sobre o universo), ele advertiu seus
leitores a não serem seduzidos pelos dados empíricos. Penzias reproduz o
conselho de Maimônides:
Em
resumo, nestas questões, não dê atenção as declarações de qualquer pessoa. Eu
falei pra você que a fundação da nossa fé é a crença de que Deus criou o
Universo do nada; esse tempo não existia previamente, mas foi criado; pois
depende do movimento da esfera, e a esfera foi criada.
Penzias
conclui que a posição “dogmática” de Maimônides de que o Universo foi criado do
nada conflitava com os dados “empíricos/observáveis” – dados de ninguém menos
do que o próprio Aristóteles – que a matéria era eterna. Um mantém que o
universo foi criado do nada, enquanto o outro proclamava a eternidade
“evidente” da matéria. O “dogma” da criação foi superado pelo “fato” da
natureza eterna da matéria. Ora, diz Penzias, o dogma de hoje defende que a
matéria é eterna. O dogma vem da crença intuitiva das pessoas (incluindo a
maioria dos físicos) que não querem aceitar a evidência observacional que o
universo foi criado – a despeito do fato que a criação do universo é apoiada
por todos os dados observáveis que a astronomia produziu até agora. Como
resultado, as pessoas que rejeitam os dados podem, indiscutivelmente, ser
consideradas como tendo uma crença “religiosa” de que a matéria deve ser eterna
(PENZIAS, apud MARGENAU & VARGHESE, 1992, p. 78, 79). Resumindo: antes das
maiores descobertas científicas acerca da origem do universo, crer que o
universo foi criado do nada era considerado uma crença infantil, apenas um
dogma; hoje, acreditar que a matéria é eterna é uma crença infantil, a despeito
de todos os dados científicos. Veja, por exemplo, quando Strobel cita um trecho
do livro A Short History of Nearly Everything, do ateu Bill Bryson. Eu
achei fascinante e divertido, mas profundamente bobo pela forma como ele se
esquivou das questões últimas. Acerca do início do Universo, Bryson escreve:
“Em três minutos, noventa e oito por cento de toda a matéria foi ou teria sido
produzida. Nós temos um universo. É um lugar da mais maravilhosa e gratificante
possibilidade e bonito também. E tudo foi feito por volta do tempo que leva
para fazer um sanduíche. Mas Deus não pode ser admitido”. Para Bryson e muitos
outros, “a simples presença do universo, de alguma maneira, parece explicar a
si mesmo” (STROBEL, 2004, p. 94). O que é mais racional? Alguns ateus acusam os
cristãos de se apegarem às descobertas científicas recentes e à cosmologia do
Big Bang em benefício da crença em Deus. Mas, como foi provado com o exemplo de
Maimônides, essas já eram crenças básicas do Cristianismo, alicerçadas na
Bíblia, muitos anos antes das descobertas. Dinesh D’souza, um apologista,
confirma essa crença com dados ainda mais antigos nas fontes cristãs. Ele
afirma que ainda mais estranho é que judeus e cristãos há muito acreditavam que
Deus criou o espaço e o tempo junto com o universo. Vimos como Agostinho, um
dos Pais da Igreja, quando confrontado com a pergunta sobre porque Deus ficou à
toa por tanto tempo antes de decidir criar o universo, respondeu que a pergunta
não tinha sentido. Não havia tempo antes da criação, escreveu Agostinho, porque
a criação do universo envolveu a criação do próprio tempo. A física moderna
confirmou a colocação de Agostinho e a interpretação antiga dos judeus e dos
cristãos (D’SOUZA 2008, p. 146).
Quero fechar este tópico com o conselho de Craig
quando debateu com Flew: “Agora, a fim de determinar
racionalmente se Deus existe ou não, nós precisamos conduzir nossa investigação
de acordo com as regras básicas da lógica e fazer a nós mesmos duas perguntas
fundamentais: (1) há boas razões para pensar que Deus existe? E (2) há boas
razões para pensar que Deus não existe? Com respeito à segunda questão, eu
deixarei para o Dr. Flew apresentar as razões porque ele pensa que Deus não
existe” (CRAIG, apud WALLACE 2003, p.
19). Sempre que dialogar com algum ateu sobre esse
assunto, ou seja, a origem do universo, não perca a oportunidade de deixá-lo
responder a mesma questão que ele jogou sobre você. Não tenha medo. Como Arno
Penzias, vencedor do prêmio Nobel pela descoberta da radiação de fundo, que
confirmou a criação do universo, disse: “Os melhores dados que nós temos são
exatamente o que eu teria previsto, se eu não tivesse nada para continuar, mas
os cinco livros de Moisés, os Salmos e a Bíblia como um todo” (apud GROSS,
2010). Lee Strobel, em sua pesquisa, traça
um pouco da história dessa controvérsia – as declarações e os ícones que o
convenceram, enquanto ele era um estudante ateu, que a evolução Darwiniana
significava que não existe nenhum lugar ou necessidade para um Criador – como
mencionou Phillip Johnson: “Toda a questão do Darwinismo é mostrar que não
existe nenhuma necessidade de um criador sobrenatural, porque a natureza pode
criar a si mesmo” (apud STROBEL, 2004, p. 23). Esse foi o consenso científico
por mais de um século – que a honestidade intelectual objetiva requer uma
posição agnóstica ou ateísta sobre a criação, onde a fé em um Deus criador
significava uma fé cega, apesar da evidência científica do contrário. Essa é a
velha ciência. A nova ciência aponta em direção a Deus.
Um
ex-ateu claramente se expressa sobre esses dados científicos. Ele diz: “Minha
conclusão como um biólogo, historiador da ciência e filósofo da ciência, é que
o teísmo cristão — que vê o universo e todas as coisas nele como uma criação de
um Ser Eterno, Transcendente e Inteligente — explica muito melhor do que o
relato do naturalismo científico para a evidência que a ciência provê. A
ciência tem eliminado as doenças, colocou o homem na lua e fez a vida mais
confortável de inúmeras formas. Mas o sucesso da ciência em descrever como as
coisas se comportam não justifica as declarações dos biólogos modernos de como
as coisas se originaram. E as questões filosóficas concernentes ao debate se
Deus existe ou não agora podem ser tratadas pelas descobertas científicas, cuja
visão teísta é invariavelmente suportada. Por séculos, astrônomos têm
progredido em entender o processo das estrelas, galáxias e as formações
planetárias, eventos que procederam (largamente, se não inteiramente) segundo
as leis naturais. Mas somente dentro dos últimos cem anos eles vieram a
entender que as Escrituras Judaico-Cristãs afirmavam isso há 3.500 anos — que o
próprio universo é finito, que o espaço e tempo e os processos e as leis
naturais que nós descrevemos, todas tiveram um começo, não muito tempo atrás
(GERHARDT, 2010).
Os homens tentaram negar a revelação bíblica, utilizaram recursos e
tempo, pensaram filosoficamente, desenvolveram o conhecimento científico e
chegaram à conclusão que está nas páginas da Bíblia há 4.000 anos: que Deus
criou o universo do nada. Veremos, na próxima parte, sobre a ordem complexa do
universo e da vida.
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Referências e notas:
D’SOUZA, Dinesh. A Verdade sobre o Cristianismo: Por que a religião criada por Jesus é moderna,
fascinante e inquestionável; [tradução Valéria Lamim Delgado Fernandes].
Rio de Janeiro: Thomas Nelson Brasil, 2008
GERHARDT, Richard. The Failure of Naturalism. Recuperado de: http://www.apologetics315.com/2010/04/essay-failure-of-naturalism-by-richard.html, acessado em 11/11/2010
GROSS, Chad. Cumulative Reasons for Christianity. Recuperado de: http://www.apologetics315.com/2010/04/essay-cumulative-reasons-for.html, acessado em 14/04/2022
MARGENAU, Henry; VARGHESE, Roy Abraham (Eds.). Cosmos, Bios, Theos: Scientists Reflect on Science, God, and the Origins of the Universe, Life, and Homo Sapiens. Illinois: Open Court Publishing Company, 1992
STROBEL, Lee. The Case For A Creator: A Journalist Investigates Scientific Evidence That Points Toward God. Grand Rapids, Michigan: Zondervan, 2004
WALLACE, Stan W (ed.). Does God Exist? The Craig-Flew Debate. Burlington, USA: Ashgate Publishing, 2003
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