segunda-feira, 18 de abril de 2022

Maimônides Meditando sobre o Universo no Século 12 e as Implicações para Hoje

   

Por Walson Sales

 

No fim da Idade Média, a teologia já não poderia ignorar a ciência. O resultado da dicotomia entre conhecimento tangível e intangível deixou muitos de nossos grandes estudiosos perplexos – nenhum maior do que o próprio Maimônides. Quando o Rabino Moses Bem-Maimon (1135-1204) meditou sobre o universo (ou para ser mais preciso, quando ele pensou em meditar sobre o universo), ele advertiu seus leitores a não serem seduzidos pelos dados empíricos. Penzias reproduz o conselho de Maimônides:

 

Em resumo, nestas questões, não dê atenção as declarações de qualquer pessoa. Eu falei pra você que a fundação da nossa fé é a crença de que Deus criou o Universo do nada; esse tempo não existia previamente, mas foi criado; pois depende do movimento da esfera, e a esfera foi criada.

 

Penzias conclui que a posição “dogmática” de Maimônides de que o Universo foi criado do nada conflitava com os dados “empíricos/observáveis” – dados de ninguém menos do que o próprio Aristóteles – que a matéria era eterna. Um mantém que o universo foi criado do nada, enquanto o outro proclamava a eternidade “evidente” da matéria. O “dogma” da criação foi superado pelo “fato” da natureza eterna da matéria. Ora, diz Penzias, o dogma de hoje defende que a matéria é eterna. O dogma vem da crença intuitiva das pessoas (incluindo a maioria dos físicos) que não querem aceitar a evidência observacional que o universo foi criado – a despeito do fato que a criação do universo é apoiada por todos os dados observáveis que a astronomia produziu até agora. Como resultado, as pessoas que rejeitam os dados podem, indiscutivelmente, ser consideradas como tendo uma crença “religiosa” de que a matéria deve ser eterna (PENZIAS, apud MARGENAU & VARGHESE, 1992, p. 78, 79). Resumindo: antes das maiores descobertas científicas acerca da origem do universo, crer que o universo foi criado do nada era considerado uma crença infantil, apenas um dogma; hoje, acreditar que a matéria é eterna é uma crença infantil, a despeito de todos os dados científicos. Veja, por exemplo, quando Strobel cita um trecho do livro A Short History of Nearly Everything, do ateu Bill Bryson. Eu achei fascinante e divertido, mas profundamente bobo pela forma como ele se esquivou das questões últimas. Acerca do início do Universo, Bryson escreve: “Em três minutos, noventa e oito por cento de toda a matéria foi ou teria sido produzida. Nós temos um universo. É um lugar da mais maravilhosa e gratificante possibilidade e bonito também. E tudo foi feito por volta do tempo que leva para fazer um sanduíche. Mas Deus não pode ser admitido”. Para Bryson e muitos outros, “a simples presença do universo, de alguma maneira, parece explicar a si mesmo” (STROBEL, 2004, p. 94). O que é mais racional? Alguns ateus acusam os cristãos de se apegarem às descobertas científicas recentes e à cosmologia do Big Bang em benefício da crença em Deus. Mas, como foi provado com o exemplo de Maimônides, essas já eram crenças básicas do Cristianismo, alicerçadas na Bíblia, muitos anos antes das descobertas. Dinesh D’souza, um apologista, confirma essa crença com dados ainda mais antigos nas fontes cristãs. Ele afirma que ainda mais estranho é que judeus e cristãos há muito acreditavam que Deus criou o espaço e o tempo junto com o universo. Vimos como Agostinho, um dos Pais da Igreja, quando confrontado com a pergunta sobre porque Deus ficou à toa por tanto tempo antes de decidir criar o universo, respondeu que a pergunta não tinha sentido. Não havia tempo antes da criação, escreveu Agostinho, porque a criação do universo envolveu a criação do próprio tempo. A física moderna confirmou a colocação de Agostinho e a interpretação antiga dos judeus e dos cristãos (D’SOUZA 2008, p. 146).

Quero fechar este tópico com o conselho de Craig quando debateu com Flew: “Agora, a fim de determinar racionalmente se Deus existe ou não, nós precisamos conduzir nossa investigação de acordo com as regras básicas da lógica e fazer a nós mesmos duas perguntas fundamentais: (1) há boas razões para pensar que Deus existe? E (2) há boas razões para pensar que Deus não existe? Com respeito à segunda questão, eu deixarei para o Dr. Flew apresentar as razões porque ele pensa que Deus não existe” (CRAIG, apud WALLACE 2003, p. 19). Sempre que dialogar com algum ateu sobre esse assunto, ou seja, a origem do universo, não perca a oportunidade de deixá-lo responder a mesma questão que ele jogou sobre você. Não tenha medo. Como Arno Penzias, vencedor do prêmio Nobel pela descoberta da radiação de fundo, que confirmou a criação do universo, disse: “Os melhores dados que nós temos são exatamente o que eu teria previsto, se eu não tivesse nada para continuar, mas os cinco livros de Moisés, os Salmos e a Bíblia como um todo” (apud GROSS, 2010). Lee Strobel, em sua pesquisa, traça um pouco da história dessa controvérsia – as declarações e os ícones que o convenceram, enquanto ele era um estudante ateu, que a evolução Darwiniana significava que não existe nenhum lugar ou necessidade para um Criador – como mencionou Phillip Johnson: “Toda a questão do Darwinismo é mostrar que não existe nenhuma necessidade de um criador sobrenatural, porque a natureza pode criar a si mesmo” (apud STROBEL, 2004, p. 23). Esse foi o consenso científico por mais de um século – que a honestidade intelectual objetiva requer uma posição agnóstica ou ateísta sobre a criação, onde a fé em um Deus criador significava uma fé cega, apesar da evidência científica do contrário. Essa é a velha ciência. A nova ciência aponta em direção a Deus.

Um ex-ateu claramente se expressa sobre esses dados científicos. Ele diz: “Minha conclusão como um biólogo, historiador da ciência e filósofo da ciência, é que o teísmo cristão — que vê o universo e todas as coisas nele como uma criação de um Ser Eterno, Transcendente e Inteligente — explica muito melhor do que o relato do naturalismo científico para a evidência que a ciência provê. A ciência tem eliminado as doenças, colocou o homem na lua e fez a vida mais confortável de inúmeras formas. Mas o sucesso da ciência em descrever como as coisas se comportam não justifica as declarações dos biólogos modernos de como as coisas se originaram. E as questões filosóficas concernentes ao debate se Deus existe ou não agora podem ser tratadas pelas descobertas científicas, cuja visão teísta é invariavelmente suportada. Por séculos, astrônomos têm progredido em entender o processo das estrelas, galáxias e as formações planetárias, eventos que procederam (largamente, se não inteiramente) segundo as leis naturais. Mas somente dentro dos últimos cem anos eles vieram a entender que as Escrituras Judaico-Cristãs afirmavam isso há 3.500 anos — que o próprio universo é finito, que o espaço e tempo e os processos e as leis naturais que nós descrevemos, todas tiveram um começo, não muito tempo atrás (GERHARDT, 2010).

Os homens tentaram negar a revelação bíblica, utilizaram recursos e tempo, pensaram filosoficamente, desenvolveram o conhecimento científico e chegaram à conclusão que está nas páginas da Bíblia há 4.000 anos: que Deus criou o universo do nada. Veremos, na próxima parte, sobre a ordem complexa do universo e da vida.

 

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Referências e notas:

 

D’SOUZA, Dinesh. A Verdade sobre o Cristianismo: Por que a religião criada por Jesus é moderna, fascinante e inquestionável; [tradução Valéria Lamim Delgado Fernandes]. Rio de Janeiro: Thomas Nelson Brasil, 2008

GERHARDT, Richard. The Failure of Naturalism. Recuperado de: http://www.apologetics315.com/2010/04/essay-failure-of-naturalism-by-richard.html, acessado em 11/11/2010

GROSS, Chad. Cumulative Reasons for Christianity. Recuperado de: http://www.apologetics315.com/2010/04/essay-cumulative-reasons-for.html, acessado em 14/04/2022

MARGENAU, Henry; VARGHESE, Roy Abraham (Eds.). Cosmos, Bios, Theos: Scientists Reflect on Science, God, and the Origins of the Universe, Life, and Homo Sapiens. Illinois: Open Court Publishing Company, 1992

STROBEL, Lee. The Case For A Creator: A Journalist Investigates Scientific Evidence That Points Toward God. Grand Rapids, Michigan: Zondervan, 2004

WALLACE, Stan W (ed.). Does God Exist? The Craig-Flew Debate. Burlington, USA: Ashgate Publishing, 2003


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