É verdade que o pastor começa 1Tm 2.1
solicitando que orações sejam feitas por todos os homens, e então especifica
reis e governantes. O “todos” do verso 1 claramente não pode ser restringido
tomando o verso 2 com o significado de “a saber, reis e governantes.”
Há mais a ser dito para a opinião de que ele queira dizer “todas as classes de pessoas, incluindo (por exemplo) reis e governantes (que vocês devem ter negligenciado).” Mas isto leva a um problema. O propósito da oração pelos governantes no verso 2 é “para que tenhamos uma vida quieta e sossegada.” Não é uma oração pela sua salvação (embora isso não seja necessariamente excluído), mas antes é uma oração para que governantes não-cristãos possam levar uma vida de tal forma que os cristãos não sejam molestados mas livres para viver uma vida devota. Mas então temos um problema com os versos 3-6, que oferecem um reforço muito estranho para um comando para orar para que cristãos possam levar uma vida sossegada.
É melhor assumir que o pastor começou a escrever no verso 1 de oração pela salvação de todos os homens e então foi desviado para mencionar a necessidade particular para orar pelos governantes para que os cristãos possam ter paz para viver uma vida devota. Admitidamente é estranho que o propósito de fato expressado pela oração não é um desejo pela paz para proclamar o evangelho (à maneira de Rm 15.31-32; 2Ts 3.2) mas pela paz para viver vidas devotas. Parece que o pastor está dizendo que orações de todos os tipos sejam feitas por todas as pessoas. Ele menciona incidentalmente a necessidade de incluir orações pelos governantes para que os cristãos possam viver em paz, mas seu principal pensamento é que orações sejam oferecidas pela salvação de todas as pessoas. O pensamento no verso 1 é assim reassumido no verso 3, e o verso 2 é parentético. Se assim, não há nenhuma razão para supor que “todos os homens” significa qualquer outra coisa que “todas as pessoas no mundo.”
Mas poderia a expressão no verso 1 ainda simplesmente significar “todas as classes de pessoas,” tais como reis, governantes, e outras categorias? Obviamente, se a referência é literalmente a “todos os homens,” então “todas as classes de homens” estão implicitamente incluídas e pretendidas. Mas se a referência é a “todas as classes de pessoas” – para quem a oração deve ser feita e quem Deus deseja que seja salvo – então o pastor está declarando que, visto que o propósito salvífico de Deus inclui pessoas de todas as classes, devemos orar por todas as classes. Mas como isto ajuda o defensor da doutrina da expiação limitada? Ele então tem que dizer que oração deve ser oferecida pelos “grupos eleitos dentro de todos os grupos na sociedade” – por exemplo, pelos reis eleitos dentro do grupo dos reis. Ele pelo menos sabe que haverá pessoas eleitas em todo grupo social, mas ele terá que projetar sua oração “para aqueles números (limitados) de pessoas dentro de todo e cada grupo que Deus pretende salvar.” Não há, obviamente, nenhuma razão para orar pela salvação dos não-eleitos, que não irão ser salvos; embora alguém possa orar para que eles não molestem os cristãos (v. 2). E há a dificuldade que alguém não sabe se indivíduos específicos pertençam aos eleitos ou não. Presumivelmente alguém simplesmente ora para que a vontade de Deus de salvar aqueles que são eleitos em todo e qualquer grupo social seja cumprida. Mas isto não é de fato o que o pastor diz aos seus leitores fazerem; ele ordena oração por “todas as classes de pessoas” (nesta interpretação), não para que oremos que a vontade de Deus relativa aos seus eleitos, que serão achados entre todas as classes de pessoas, seja cumprida. Dessa forma a interpretação da expiação limitada tem que recorrer ao que parece torcer o texto, e não há em qualquer caso nada no texto que sugira esta interpretação antes que a interpretação literal.
I. Howard Marshall, The Grace of God the Will of Man, 61-63
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