Por Walson Sales
Para reforçar ainda mais a
questão, inúmeros ateus e céticos têm notado uma conexão entre Deus e a
moralidade. O filósofo ateu J.L. Mackie disse que as propriedades morais são
“estranhas” em conexão com o naturalismo: “Se existem valores objetivos, eles fazem
a existência de um deus mais provável do que teria sido sem eles. Assim, temos
um argumento defensível da moralidade para a existência de um deus”. O
agnóstico Paul Draper observa que “Um mundo moral é muito provável no teísmo”
(apud DEMBSKI & LICONA, 2010, p. 23). Princípios morais são descobertos,
não inventados. Reformas morais como a abolição da escravidão, defender o
direito de voto da mulher, promover os direitos civis para os negros, não faz
nenhum sentido a menos que valores morais objetivos existam. Mesmo que a
criação de uma atmosfera para a reforma possa levar tempo, até mesmo séculos,
isso não implica que a moralidade evolui durante a história humana e é apenas
uma invenção humana. É mais fácil sugerir que os princípios morais podem ser
descobertos e que vale a pena prosseguir, mesmo a grande custo (Ibdem, p. 22).
No mesmo debate com Kurtz, o
Dr. Craig citou um exemplo fenomenal, comparando o mundo dos seres humanos com
o mundo animal. Ele disse que “quando um leão mata uma zebra, ele apenas mata a
zebra, mas não a assassina. Quando um
enorme tubarão branco copula à força com uma fêmea de sua espécie, ele força a
cópula, mas não a estupra – pois nenhum desses atos possui uma dimensão moral
no mundo animal. Eles não são proibidos nem obrigatórios”. Assim, se Deus não
existir, porque pensar que temos quaisquer deveres morais de fazer qualquer
coisa? Quem ou o que nos impõe esses deveres morais? De onde esses deveres vêm?
É difícil ver porque razão eles seriam algo mais do que uma impressão subjetiva,
fruto do condicionamento social e familiar (CRAIG, 2011, p. 145).
Mas quando uma pessoa diz:
“Talvez o assassinato ou o estupro não seja realmente errado”, ele não precisa
de uma reprimenda. Ele está se enganando. Se ele realmente acredita nisso, ele
precisa de ajuda espiritual ou psicológica, pois ele não está bem. Mesmo os
relativistas são parecidos às mesmas pessoas que dizem “Eu tenho direitos” ou
“Você deve ser tolerante”. Ora, direitos e tolerância não fazem qualquer
sentido se o relativismo está correto, pois exigem que os valores morais
objetivos existam (apud DEMBSKI & LICONA, 2010, p. 21). Quando o Dr. Craig
defendeu a sua segunda afirmação na palestra de abertura do debate com o
humanista Paul Kurtz, ele atacou exatamente a pressuposição de que o teísmo
estivesse errado e o ateísmo certo:
Isso nos leva à segunda
afirmação: Se o teísmo é falso, nós não
temos um fundamento sólido para a moralidade. Aqui novamente, deixe-me
fazer três subpontos.
Primeiro, se o teísmo é falso, porque achar que os
seres humanos são a base dos valores morais objetivos? Dr. Kurtz acha que o
florescimento humano é o “ser tudo e o fim de tudo” da vida humana. Mas se não
existe nenhum Deus, que razão existe com respeito ao florescimento humano como
algo significante? Eles são somente subprodutos acidentais da natureza [..]
Como o Dr. Kurtz escreveu, “A espécie humana é somente uma entre muitas formas
de vida que emergiu na terra...As descobertas de Copérnico e Darwin...minaram a
crença que nós somos fundamentalmente diferente das outras espécies”.
Ele brinca que “muitas
[pessoas] ainda recusam aceitar a completa implicação destas descobertas”. Eles
“ainda procuram encontrar um lugar especial para a espécie humana no esquema
das coisas”. No entanto, ironicamente, são precisamente os próprios humanistas quem procuram encontrar um lugar especial para
a espécie humana no esquema das coisas, que recusam a aceitar a completa
implicação de reduzir os seres humanos a somente outra espécie de animal. Para
os humanistas continuar a tratar os seres humanos como moralmente especiais em contraste a outras espécies.
Que justificação existe
para este tratamento diferenciado? Na visão ateísta, valores morais são apenas
subprodutos da evolução sociobiológica. Assim como uma tropa de babuínos
apresentam um comportamento cooperativo, mesmo um comportamento sacrificial
altruísta, porque a evolução determinou que seja vantajosa na luta pela
sobrevivência, para que seus primos primatas Homo Sapiens apresentem
comportamento semelhante, pela mesma razão.
[...] Como resultado
das pressões sociobiológicas evoluiu entre o Homo Sapiens um tipo de
“moralidade do bando” que funciona bem na perpetuação de nossa espécie na luta
pela sobrevivência. Mas, na visão ateísta, não parece estar nada sobre o Homo
Sapiens que faz essa moralidade objetivamente verdadeira. Pensar que os seres
humanos são especiais é ser culpado de especismo,* um viés injustificado a uma
espécie.
Assim, se não
existe nenhum Deus, qualquer base com respeito a moralidade do bando evoluída
pelo Homo Sapiens como objetivamente verdadeira foi removida. Alguma ação – por
exemplo, estupro – não pode ser biologicamente ou socialmente vantajosa e então
no curso da história humana se tornou um tabu; mas numa visão ateísta não
existe nada realmente errado em estuprar alguém. Tal comportamento acontece o
tempo todo no reino animal. Se, como o Dr. Kurtz declara, “Os princípios morais
que regem o nosso comportamento estão enraizados nos hábitos e costumes,
sentimentos e moda”, assim, o estuprador que escolhe desprezar a moralidade
herdada não está fazendo nada mais sério do que agir fora da moda (CRAIG, apud KING & GARCIA, 2009, p. 31,
32).
Os ateus não têm como sustentar
uma moralidade herdada para afirmar que os valores são, de fato, objetivos.
E sobre o adultério? É imoral?
Cólon conta que, uma vez, uma atéia lhe falou que ela soube que seu
colega de trabalho estava traindo sua esposa com outra mulher do escritório.
Ela lhe falou sobre como estava revoltada, quão imoral ele era e como ela
perdeu todo o respeito por ele. Então Cólon lhe perguntou: “O que há de tão
errado com o que ele fez?” Porque o fato de ele ser casado faz do ato de sexo
com outra mulher imoral? Ela simplesmente disse: “É errado!” E Cólon disse: “Eu
concordo, mas eu gostaria de saber por que é errado em última instância, devido
a sua visão ateísta do mundo (CÓLON, 2010). Se no mundo animal o estupro não é
nada, porque no mundo evolucionário o adultério seria? Craig cita ainda no
debate Maximo
Pigliucci, um biólogo ateu, o qual afirmou que os animais cometem infanticídio
em uma base regular. Se os animais fazem isso tão frequentemente, qual é o
motivo de ações assim nos chocar? O ateísmo não faz sentido quando tenta
defender uma moralidade, pois não há uma base sólida na evolução cega e
insensível. Agora, reflita comigo, _se o
teísmo é falso, qual a base para as obrigações morais objetivas?_ Em uma
visão ateísta, os seres humanos são somente animais, e animais não têm nenhuma
obrigação moral uns com os outros. O eticista Richard Taylor ilustra esse
ponto. Ele nos convida a imaginar os seres humanos vivendo em um estado
natural, sem qualquer costume ou leis. Suponha que alguém mate uma pessoa e
ache isso bom. Taylor reflete:
Tais ações, embora
injuriosas a suas vítimas, não são mais injustas ou imorais do que se fosse
feita por um animal a outro. Como um falcão que pega um peixe no mar e o mata,
mas não o assassina; e outro falcão que pega o peixe das garras do primeiro,
ele toma o peixe, mas ele não o rouba – porque nenhuma dessas coisas é
proibida. E exatamente as mesmas considerações se aplicam as pessoas que
estamos imaginando (CRAIG, apud KING
& GARCIA, 2009, p. 32).
Eu não vejo como escapar dessas considerações. Se o ateísmo é a verdade,
torna-se impossível condenar a guerra, a opressão ou o crime como algo mau.
Ninguém pode elogiar a fraternidade, a igualdade ou o amor como algo bom. Não é
uma questão do que você faz, porque, se não existe o certo e o errado, o bem e
o mal não existem. A ausência de responsabilidade moral da filosofia do ateísmo
faz a ética da compaixão e do autossacrifício uma abstração vazia. R.
Z. Friedman, um filósofo da universidade de Toronto, concluiu: “Sem religião, a
coerência de uma ética da compaixão não pode ser estabelecida. O princípio do
respeito pelas pessoas e o princípio da sobrevivência do mais forte são
mutuamente excludentes” (CRAIG, apud
KING & GARCIA, 2009, p. 33).
Às vezes eu fico perplexo como os ateus se apropriam dos conceitos do
Cristianismo para “embelezar” a sua visão de mundo. Assim como mostrado nos
tópicos anteriores, o ateísmo se apropria de algo do teísmo para “ocultar” as
suas lacunas insuperáveis, como no caso da racionalidade, vista no tópico
anterior e os conceitos de moralidade vistos aqui. Hendrickson
afirma que, contrário à cosmovisão ateísta, que é forçada a assumir algum tipo de
processo evolucionário para explicar a existência de seres racionais, a
cosmovisão cristã convincentemente explica que toda a humanidade faz uso da
lógica porque Deus a criou para fazer assim. A presença da lógica no nosso
cotidiano é facilmente explicada pela cosmovisão cristã. Ela cabe como uma mão
na luva com sua explicação da natureza de Deus (como um ser lógico e moral) e
do homem (isto é, de todos, homens e mulheres como criaturas feitas à imagem de
Deus, sendo, portanto, seres morais). A cosmovisão bíblica faz sentido com a
lógica, o raciocínio, a moral e assim por diante, mas o ateu não tem nenhuma
boa explicação para o fenômeno da lógica e da moralidade ou para o uso que eles
fazem da lógica e da moral (se nós tomarmos como certas as pressuposições
ateístas). É quase engraçado que, a fim de apresentarem um argumento contra a
existência de Deus, os ateus devem primeiro alcançar a cosmovisão cristã e
tomar emprestadas suas ferramentas: lógica, raciocínio, ética, moralidade etc.
Muito poderia ser dito da ética, beleza, conhecimento, raciocínio, o
conceito de verdade absoluta, julgamentos morais, indignação moral na presença
do mal, reconhecimento do mal, amor, honra etc., (HENDRICKSON, 2010).
Por que esse comparativo com a lógica e a moral aqui? Porque as ideias
defendidas pelo ateísmo estão em choque com a lógica, com o senso comum e com a
racionalidade. É irracional afirmar que um animal tem conceitos morais. Se nós
somos animais, qual o real sentido de julgar o erro? Friedrich
Nietzsche, o grande ateu do século dezenove, proclamador da morte de Deus,
entendeu que isso significava a destruição de todo o significado e valor da
vida. Craig disse que, se o ateísmo estiver certo, inescapavelmente Friedrich
Nietzsche estava certo (apud WALLACE, 2003).
Não
é incomum ouvir: “Mas os ateus podem ser bons sem Deus”. O ateu Michael Martin
argumenta que os teístas dão as mesmas razões que os ateus ao condenar o
estupro: isso viola os direitos das vítimas e danifica a sociedade. O que
Martin realmente quer dizer é que os ateus podem ser bons sem crer em Deus, mas
eles não poderiam ser bons (ter valor intrínseco ou responsabilidade moral) sem
Deus (de fato, nada existiria sem Deus). Isso acontece porque os seres humanos
são feitos à imagem de Deus; eles podem saber o que é bom mesmo sem crerem
Deus. Teístas e ateus podem defender os mesmos valores, mas só os teístas podem
fundamentar sua crença nos direitos humanos e na dignidade porque todos fomos
feitos à imagem de um supremo Ser. Pense sobre esse intrinsecamente valioso,
pensando sobre pessoas. Pessoas não vêm de processos sem valores, impessoais,
sem consciência, não guiados com o passar do tempo. Um Deus bom, pessoal,
autoconsciente e com propósito provê o contexto natural e necessário para a
existência de pessoas humanas valiosas, moralmente responsáveis e detentoras de
direitos. Pessoalidade e moralidade estão necessariamente conectadas. Valores
morais estão enraizados na pessoalidade. Sem Deus, um ser pessoal, nenhuma
pessoa – e assim, nenhum valor moral – existiria absolutamente. Nenhuma
pessoalidade, nenhum valor moral. Somente se Deus existe, podem as propriedades
morais ser percebidas. Como a Declaração de Independência dos Estados Unidos
afirma, os humanos são “capacitados por seu Criador com certos direitos
inalienáveis”. Esse bom Criador é o verdadeiro fundamento da ética e a última
esperança de salvar a ética de sua crise atual (COPAN, apud, DEMBSKI &
LICONA, 2010, p. 22, 23). Iremos analisar agora os fatos concernentes à vida, morte
e ressurreição de Jesus, os quais também apontam para a existência de Deus. Se
os ateus não têm uma explicação razoável acerca do túmulo vazio, isso sugere
que Deus interagiu com os seres humanos de forma direta na pessoa de Jesus
Cristo.
____________________
Referências e notas:
*É um preconceito
ou atitude tendenciosa em favor dos membros de sua própria espécie e contra os
membros de outras espécies (CRAIG, 2011, p. 145).
CÓLON, Brian. Atheism:
A Falsified Hypothesis. Recuperado de: http://www.apologetics315.com/2010/04/essay-atheism-falsified-hypothesis-by.html,
acessado em 15/04/2022
CRAIG, William Lane. Em Guarda: Defenda a Fé com Razão e Precisão. São Paulo: Vida Nova, 2011
DEMBSKI, William A; LICONA, Michael R (Ed.). Evidence for God: 50 Arguments for Faith from the Bible, History, Philosophy and Science. Grand Rapids, MI: Baker Books, 2010
KING, Nathan L.; GARCIA, Robert K. (Eds.). Is Goodness without God Good Enough?: A Debate on Faith, Secularism, and Ethics. Lanham, Maryland: Rowman & Littlefield Publishers, 2009
WALLACE, Stan W (ed.). Does God Exist? The Craig-Flew Debate. Burlington, USA: Ashgate Publishing, 2003
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