Brian
J. Abasciano*
I.
INTRODUÇÃO
Passaram-se
pouco mais de doze anos desde que Thomas Schreiner defendeu neste jornal que
Romanos 9 ensina a eleição individual para salvação.[1]
Ele corretamente mostra que Romanos 9 é um texto-prova padrão aos calvinistas,
que defendem que Deus incondicionalmente elege pessoas para serem salvas. Ele
também corretamente observa que cada vez mais os estudiosos estão rejeitando a
exegese calvinista do capítulo como uma leitura equivocada do texto.[2]
Seu artigo busca refutar duas objeções comuns à interpretação calvinista, a
saber, que Romanos 9 (1) trata do destino histórico, nacional, antes que da
salvação, e/ou (2) diz respeito à salvação de grupos antes que de indivíduos.
Não discordo da ideia principal do primeiro ponto de Schreiner. O argumento de
Paulo em Romanos 9 certamente diz respeito à salvação de Israel.[3]
Mas não acho convincente sua tentativa de opor-se à primazia da eleição
corporativa em Romanos 9. Este artigo irá examinar seus argumentos e buscará
expressar a natureza da eleição como ela é apresentada em Romanos 9.
II.
ESCLARECENDO O DEBATE E MINANDO O ARGUMENTO: DETERMINANDO A ORIENTAÇÃO PRIMÁRIA
DA ELEIÇÃO
Schreiner
argumenta que a eleição descrita em Romanos 9 “é tanto corporativa como
individual e que uma referência à primeira não descarta a possibilidade da última”.[4]
Na verdade, ele mantém que a eleição corporativa e a individual são
inseparáveis, e que a primeira requer a última.[5]
Em um sentido, isto deve ser verdadeiro, mas não da maneira individualista que
Schreiner pretende. Ele parece argumentar contra uma concepção da eleição
corporativa que nega qualquer espaço para o indivíduo. Isto parece dever-se à
posição dos estudiosos com quem ele interage e/ou alguma má compreensão de sua
parte do que implica a eleição corporativa.[6]
Mas em qualquer caso, quero deixar claro que quando falo de Romanos 9 como
contendo a eleição corporativa antes que a individual, estou falando da
orientação primária da eleição, que necessariamente deve incluir, de certa
forma, indivíduos em sua extensão.[7]
Mas isto de modo algum significa um conceito tradicional da eleição individual
e na verdade destrói muito da argumentação de Schreiner. Uma visão adequada da
eleição corporativa, que considera plenamente o lugar dos indivíduos, evita
muito da crítica de Schreiner.
Schreiner parece defender uma eleição cuja orientação é igualmente corporativa e individual. Mas esta é uma posição insustentável, ironicamente devido à ligação inextricável entre o indivíduo e o grupo ao qual Schreiner repetidamente chama a atenção. Pois há uma ligação lógica definida entre o grupo e o indivíduo, mas esta ligação deve ser vista primariamente a partir da perspectiva corporativa ou individual. Interessantemente, ela pode ser vista legitimamente a partir das duas perspectivas, mas não ambas igualmente ao mesmo tempo. Ou a eleição corporativa ou a individual deve ser primária (veja abaixo). A questão importante que Schreiner deixa de dar atenção é: Como os aspectos corporativos e individuais da eleição se relacionam? Qual é primário?
Se a eleição corporativa é primária, então o grupo é o foco da eleição, e os indivíduos são eleitos somente em ligação com o grupo. Se a eleição individual é primária, então os indivíduos são separadamente o foco da eleição, e o grupo é eleito somente como uma reunião de indivíduos eleitos. Assim, ou o foco corporativo da eleição determina a identidade e benefícios do indivíduo baseado na participação no grupo, ou o foco individual da eleição determina a identidade e benefícios do grupo baseado nos indivíduos que foram reunidos conforme suas características/status individuais similares. O fato que Schreiner repetidamente afirma que a eleição corporativa requer a eleição individual calvinista, equivalendo a uma eleição de indivíduos como entidades autônomas diante de Deus, somente mostra que ele está assumindo a eleição individual como sendo primária. Pois se a eleição é primariamente individual, então a eleição corporativa deve igualmente envolver a eleição individual, visto que a identidade do grupo é inteiramente determinada pela identidade dos indivíduos que o compõem. O fato que Schreiner pressupõe esta posição sugere sua falha em não conseguir enxergar além de um ponto de vista moderno, ocidental, individualista.
III.
A PRIMAZIA DA ELEIÇÃO CORPORATIVA
Schreiner
nota que muitos estudiosos foram persuadidos pela visão corporativa da eleição.[8]
Isto acontece por uma boa razão. O argumento a favor da primazia da eleição
corporativa no pensamento de Paulo em geral e Romanos 9 em particular é forte.
Além da evidência fornecida pela exegese de Romanos 9-11 e outros textos
específicos do Novo Testamento,[9]
há três fatores gerais que a apoiam.
1. O
conceito da eleição do Antigo Testamento é claramente corporativo.[10] Deus escolheu o povo de Israel
em Abraão, Isaque e Jacó/Israel (Dt 4.37; 7.6-8). Isto é, escolhendo
Jacó/Israel, o representante corporativo/da aliança, Deus também escolheu seus
descendentes como seu povo da aliança. É uma questão de teologia da aliança do
Antigo Testamento. O representante da aliança de um lado e o povo/nação de
Israel do outro são o foco da eleição divina da aliança, e os indivíduos são
eleitos somente como membros do povo eleito. Além disso, em princípio,
indivíduos estrangeiros que não eram originalmente membros do povo eleito
poderiam juntar-se ao povo escolhido e tornar-se parte dos eleitos,[11]
demonstrando novamente que o foco da eleição era a comunidade da aliança e que
os indivíduos encontravam sua eleição através de sua associação com o povo
eleito. A natureza corporativa da eleição do povo de Deus no Antigo Testamento
é tão bem reconhecida que Moo, um defensor da eleição individual no pensamento
de Paulo e Romanos 9, admite que Paulo teria encontrado somente a eleição
corporativa nas Escrituras e em sua tradição judaica.[12]
E John Piper, um dos mais vigorosos e diretos defensores modernos da eleição
individual, é forçado a reconhecer que “a salvação eterna do indivíduo como
Paulo a ensina é quase nunca assunto de discussão no Antigo Testamento”.[13]
De
fato, as passagens do Antigo Testamento que Paulo interpreta e emprega em
Romanos 9 têm uma visão corporativa da eleição. Isto pesa consideravelmente a
favor da hipótese de que Paulo fala de eleição corporativa em Romanos 9 também.
Ele seguramente esperava que seu público estivesse familiarizado com as
passagens às quais ele refere e fossem compreendidas como apontando para os
contextos originais amplos de suas citações e alusões escriturísticas.[14]
Até mesmo passagens que poderiam parecer a olhos individualistas modernos como
fazendo referência à eleição individual se revelam como corporativas em
orientação à luz do cenário do Antigo Testamento.
Por exemplo, as referências de Paulo às escolhas divinas de Isaque sobre Ismael (Rm 9.7-9) e Jacó sobre Esaú (Rm 9.10-13) invocam exemplos de eleição primariamente corporativa. O ponto da eleição de Isaque na passagem que Paulo cita é que a semente de Abraão, o povo eleito da aliança, seria chamado/identificado em ligação com Isaque (Rm 9.7; Gn 21.12). Os indivíduos seriam considerados como parte do povo da aliança baseados em sua relação com Isaque. Paulo interpreta isto como significando que somente “os filhos da promessa são contados como descendência”,[15] isto é, como o povo escolhido de Deus (9.8). Similarmente, ambas as citações de Paulo a respeito de Jacó falam de sua eleição primariamente como a eleição de um povo. O contexto mais completo da primeira citação de Jacó por Paulo torna isto perfeitamente claro: “E o Senhor lhe disse: Duas nações há no teu ventre, e dois povos se dividirão das tuas entranhas, e um povo será mais forte do que o outro povo, e o maior servirá ao menor” (Gn 25.23; cf. Rm 9.12). Igualmente, como Cranfield comenta sobre a segunda citação de Jacó (Rm 9.13), “Não resta dúvida de que a preocupação de Ml 1.2-5 está com as nações de Israel e de Edom, e é natural supor que por ‘Jacó’ e ‘Esaú’ Paulo também entende não apenas os filhos gêmeos de Isaque mas também as pessoas que descenderam deles”.[16]
Os exemplos de Isaque e Jacó expressam o conceito veterotestamentário da solidariedade ou representação corporativa no qual o indivíduo representa a comunidade e é identificado com ela e vice-versa.[17] O conceito é especialmente evidente no caso de reis e patriarcas, que são vistos representar seu povo e totalizá-los em si mesmos, especialmente no contexto de aliança. A observação é importante porque ela fornece o modelo para o papel representativo corporativo de Cristo no Novo Testamento como a semente de Abraão (Gl 3.16), o verdadeiro Israel e corporificação do povo da aliança de Deus. Como Gl 3-4, uma passagem na qual Paulo usa linguagem similar e trata assuntos similares,[18] confirma, os cristãos somente são considerados a semente de Abraão porque eles estão em Cristo pela fé, e portanto compartilham de sua identidade como seu representante (da aliança). Surpreendentemente, Paulo também usa a mesma linguagem “em x” de Gn 21.12/Rm 9.7 para descrever a participação na aliança através do representante da aliança quando ele fala explicitamente da eleição salvadora em Ef 1.4, declarando que a Igreja foi escolhida em Cristo.[19]
Mas começamos a ir além do ponto em apreço. O que precisa ser salientado neste momento é que uma eleição corporativa que, por um lado, permitia um completo e vigoroso papel para o indivíduo no contexto da comunidade e, por outro, subordinava o indivíduo ao coletivo ao conceder status de eleito aos indivíduos baseados em sua associação com a comunidade da aliança era a visão do Antigo Testamento e dos textos bíblicos que Paulo usa em Romanos 9. O ônus da prova se encontra com aqueles que afirmam que Paulo se afastou desta concepção bíblica e judaica da eleição.
2. A
linguagem explícita da eleição para salvação é sempre corporativa em Paulo (e o
restante do Novo Testamento). Enquanto se poderia argumentar que
o conceito de eleição pode estar presente e ser aplicado
diretamente aos indivíduos mesmo quando a linguagem explícita não está, isto
ainda favorece um entendimento corporativo da eleição, que alguém procuraria em
vão por um uso evidente da linguagem da eleição para salvação com referência a
um indivíduo. Paulo fala, por exemplo, dos “escolhidos de Deus” (εκλεκτώνθεού, Rm 8.33), a Igreja como sendo
escolhida em Cristo (έξελέξατοήμαςεναύτω, Ef
1.4) e de τηνέκλογήνυμών (“sua
[plural] eleição”, 1Ts 1.4), mas nunca com linguagem individual.[20]
Eu questionaria que o conceito de eleição direta de indivíduos como indivíduos
está presente em algum lugar em Paulo ou no Novo Testamento, mas esta é uma
questão de exegese de alguns textos específicos que está muito além do escopo
da presente discussão. Aqui, eu somente quero mostrar que a linguagem
corporativa que cerca a eleição para salvação em Paulo e no Novo Testamento
certamente pesa em favor de uma concepção corporativa da eleição. Se alguém
objetasse que devemos esperar somente linguagem corporativa porque Paulo e os
outros escritores do Novo Testamento estavam dirigindo-se a igrejas e frequentemente
discutindo questões de importância a todos os cristãos, eu concordaria, e
acrescentaria que isto somente realçaria a orientação corporativa dos textos
com os quais estamos lidando.
3.
A cultura mediterrânea helenística do primeiro século era de perspectiva
coletivista antes que individualista, e o Judaísmo do primeiro século era ainda
mais.[21] Isto significa, inter
alia [N.T.: entre outras coisas], que a perspectiva dominante de
Paulo e seus contemporâneos era que o grupo era primário e o indivíduo
secundário.[22]
O indivíduo, embora importante, não era pensado de forma independente, mas como
incorporado no grupo do qual ele era um membro. A identidade pessoal era
derivada do grupo ao invés do grupo receber sua identidade dos indivíduos
contidos nele.
Reconhecimento
do caráter coletivista da cultura do primeiro século de Paulo domina um firme
consenso de apoio acadêmico.[23]
De fato, em uma importante monografia recente que trata da salvação do
indivíduo no pensamento de Paulo, Gary Burnett busca reparar o que ele percebe
ser uma ênfase exagerada no recente estudo do Novo Testamento sobre o caráter
coletivo do pensamento de Paulo que praticamente exclui uma apreciação de suas
preocupações individuais.[24]
Todavia, embora ele afirma vigorosamente em favor da preocupação de Paulo com a
salvação do indivíduo, até Burnett reconhece que a cultura de Paulo era de
orientação coletiva ao invés de individualista e que havia pouco individualismo
no primeiro século.[25]
Além disso, ele reconhece que no Antigo Testamento, a tradição judaica de Paulo
e a própria perspectiva de Paulo, tanto a comunidade quanto o indivíduo eram
importantes, mas que a comunidade era primária e o indivíduo importante dentro
do contexto da comunidade.[26] Ele
descreve apropriadamente a visão judaica biblicamente formada:
Kaminsky… sugere que é sempre o caso
[na Bíblia hebraica] que o “próprio auto-entendimento do indivíduo era derivado
de seu ou sua relação com a comunidade”. É o indivíduo como um membro da
comunidade onde se encontra a ênfase, não o indivíduo como uma “entidade
autônoma diante de Deus”.[27]...
A [s]alvação era tanto uma questão para o indivíduo como para a comunidade do
povo de Deus. Alguém teria parte na salvação que Deus preparou para o seu povo
vivendo como parte do povo da aliança.... Somente deliberadamente pecando e
recusando arrepender-se que alguém poderia tornar-se apóstata e colocar-se fora
da aliança e portanto fora da salvação. A piedade pessoal, notamos, deve ser
vista no contexto dos indivíduos buscando viver dentro da aliança, e em tal
contexto, a salvação era tipicamente vista como dizendo respeito à nação (ou o
grupo sectário dentro da nação), algo no qual um indivíduo participaria,
assumindo que ele permanecia dentro das limites da aliança. Vemos, então,
dentro do Judaísmo a importância da responsabilidade individual e ativa
participação na relação da aliança com Deus; isto indica claramente para nós a
interdependência do indivíduo e da comunidade. O indivíduo não era classificado
dentro do grupo maior, mas nem era ele um agente autônomo. Havia um sentido
muito mais equilibrado de ambos, indivíduo e comunidade.[28]
Dessa
forma, a visão corporativa da eleição do Antigo Testamento e do Judaísmo, o
emprego exclusivo de Paulo da linguagem corporativa em ligação com a eleição
para salvação e a orientação corporativa do contexto sócio-histórico de Paulo,
tudo combina para fornecer um argumento muito forte que a visão da eleição de
Paulo era corporativa, e que ele carregou esta visão da eleição, que procede
das Escrituras que ele interpreta, em Romanos 9. Não adianta argumentar que a
entrada individual dos judeus e gentios na Igreja requer um conceito de eleição
individual,[29]
pois, como vimos, o conceito de eleição corporativa admite a separação
individual da e entrada na comunidade eleita sem mudar o foco da eleição para o
indivíduo. Além disso, como Howard Clark Kee bem disse, “Embora um ato de
decisão poderia alinhar o indivíduo com uma ou outra de... [as] facções rivais
dentro do Judaísmo neste período, o resultado da decisão era uma forma de
identidade da comunidade”.[30]
Como mencionado anteriormente, a visão bíblica da eleição corporativa, que
reconhece o lugar do indivíduo, priva muito do argumento de Schreiner de sua
força. Isto se tornará claro conforme analisarmos as quatro linhas de argumento
que ele apresenta para apoiar sua tese.
IV.
EXAMINANDO O CASO CONTRA A PRIMAZIA DA
ELEIÇÃO
CORPORATIVA EM ROMANOS 9
1.
A linguagem singular. Schreiner argumenta que o uso repetido da
linguagem singular em Romanos 9 apoia o conceito tradicional da eleição
individual e faz oposição à sugestão que Paulo faz referência somente a grupos
corporativos.[31] Mas imediatamente encontramos
uma falha principal que permeia cada um dos quatro pontos principais de
Schreiner, a saber, que a eleição corporativa envolve somente o grupo sem
nenhuma consideração com o indivíduo. Isto é, como temos visto, um entendimento
defeituoso da eleição corporativa. Antes, falar da eleição como corporativa ao
invés de individual significa que o foco primário da eleição é a comunidade e
que o indivíduo é eleito somente secundariamente como membro da comunidade.
Portanto, a referência de Paulo a indivíduos de forma alguma é inconsistente
com o conceito da eleição corporativa. A questão importante está onde a ênfase
primária se encontra e se os indivíduos são vistos como eleitos como membros de
um grupo ou como indivíduos isolados que são, então, por assim dizer, reunidos
em um grupo. Os dados que examinamos sugerem que a perspectiva corporativa
predomina. Não há nenhuma razão por que a presença da linguagem individual
exigiria uma redefinição do que foi nesse tempo a percepção padrão da
orientação da eleição, visto que a visão padrão incluía indivíduos em sua
extensão. Além disso, é necessário determinar se a linguagem individual que
Paulo usa na verdade diz respeito diretamente à eleição.
Seja como for, alguma da linguagem singular que Paulo usa em Romanos 9 de fato apoia a primazia da eleição corporativa no capítulo tanto quanto as referências individuais à eleição de Isaque e Jacó discutidas anteriormente. Schreiner aponta para a citação de Paulo de Êx 33.19 em Rm 9.15: “Compadecer-me-ei de quem me compadecer, e terei misericórdia de quem eu tiver misericórdia”. Ele argumenta que o singular òv (“quem”) indica que Paulo tem em vista indivíduos específicos que recebem a misericórdia de Deus. Mas em seu contexto original, a linguagem singular de Êx 33.19 na verdade se refere ao Israel corporativo e sua restauração à eleição da aliança.[32] Na tradução da Septuaginta, que Paulo cita, é um caso de referir-se a uma entidade corporativa com terminologia singular na medida em que ela representa o pensamento do hebraico original, um tipo de singular coletivo.[33] Em harmonia com a visão corporativa da eleição do Antigo Testamento, o contexto altamente de aliança, e as preocupações específicas de seu contexto narrativo, o òv de Êx 33.19 tem a ver com quem Deus reconhecerá como seu povo da aliança. Na verdade, Paulo usa òv a respeito do povo corporativo de Deus em Rm 11.2. No que diz respeito à eleição, os indivíduos entram em vista em virtude de sua associação com o grupo.
Quando Paulo usa o singular para fazer uma inferência de Êx 33.19 em Rm 9.16, ele não fala diretamente dos objetos individuais da eleição, mas simplesmente chama a atenção que a decisão acerca de quem Deus concede sua misericórdia depende dele (e as estipulações que ele escolhe estabelecer) ao invés da vontade ou esforço do homem, o próprio ponto feito por Rm 9.18, onde o singular aparece novamente (òv/quem), exceto que ele acrescenta o fato que Deus também tem o direito de julgar/endurecer aqueles que decidir também. Mas significativamente, a forma de 9.18 é seguramente baseada em Êx 33.19 e em seu pronome relativo singular coletivo ad sensum, sugerindo o que alguém poderia ter imaginado já do contexto de Romanos 9 apenas, que os singulares de Rm 9.18 dizem respeito a grupos ou classes de pessoas. Os exemplos finais de singulares notados por Schreiner aparecem em Rm 9.19, 21, onde Paulo muda para uma diatribe, apoiando o v. 18, especialmente sua defesa do direito soberano de Deus de endurecer quem ele quiser. Dado o propósito coletivo do contexto, estes singulares são melhor vistos dentro de uma perspectiva corporativa. Ainda assim, é importante observar que estes singulares não se referem à eleição diretamente. O singular τίς (“quem”) de 9.19 é usado para apresentar o ponto que ninguém resiste à vontade de Deus como parte de uma objeção ao argumento de Paulo que é subsequentemente tratada. O singular σκεύος (“vaso”) de 9.21 é parte de uma ilustração que Paulo usa em sua refutação da objeção em 9.19. É ignorar a questão assumir que o vaso singular deve referir-se a um indivíduo. Ele poderia igualmente referir-se a um grupo de pessoas como Israel ou a Igreja. De fato, quando Paulo especificamente aplica a ilustração, ele faz assim em linguagem corporativa (9.22ff.). Ademais, o histórico veterotestamentário mais importante por trás das imagens de Paulo aplica a metáfora a Israel como um povo ou a um grupo dentro de Israel, textos enraizados em uma visão corporativa da eleição que lida com o indivíduo dentro de sua extensão (Is 29.16; 45.9; 64.8; Jr 18).
2. A
seleção de um remanescente. Schreiner argumenta que a seleção de um
remanescente de Israel referido em Rm 9.6-9 e 11.1-6 necessariamente envolve a
seleção de certos indivíduos de um grupo maior.[34]
Mas o próprio conceito de um remanescente é de natureza corporativa. Schreiner
reconhece este ponto, mas faz pouco mais do que insistir que isto não exclui os
indivíduos, apontando para o uso de Paulo de si mesmo como exemplo de um
indivíduo que é parte do remanescente. Entretanto, esta linha de argumento
novamente se fundamenta na falsa suposição de que a eleição corporativa exclui
os indivíduos de sua consideração. Mostrar que os indivíduos eram parte dos
grupos aos quais eles pertenciam ou eram afetados pelo que seus grupos eram
afetados em nada contribui para determinar onde o foco da eleição se encontra.
Por outro lado, pareceria que até a perspectiva de Paulo daqueles que compõem o remanescente era corporativo, focalizando sobre judeus e gentios (9.24-33).[35] Além disso, já vimos como um das passagens mencionadas por Schreiner (Rm 9.6-9) se ajusta diretamente na concepção corporativa da eleição (veja III.1 acima).[36] Rm 11.1-6 não é diferente. Ele claramente focaliza primariamente sobre o povo de Deus: “Digo, pois: Porventura rejeitou Deus o seu povo? De modo nenhum; porque também eu sou israelita, da descendência de Abraão, da tribo de Benjamim. Deus não rejeitou o seu povo, que antes conheceu” (Rm 11.1-2a; ênfase minha). Paulo usa a si próprio, um judeu étnico individual, como evidência de que Deus não rejeitou o Israel étnico completamente. Mas note que a linguagem da eleição é especificamente vinculada ao povo corporativo. Esse é onde o foco da eleição se encontra nesta passagem, como muitos comentaristas (incluindo os calvinistas) defendem.[37] O fato que Paulo é parte do remanescente corporativo, o verdadeiro Israel, mostra que Deus não descartou o povo judeu ou simplesmente deslocou a eleição para os gentios. A própria eleição de Paulo é melhor vista como derivando sua associação com o remanescente corporativo.
3. A
validade de distinguir entre indivíduos e grupos em Rm 9.30-10.21.
Schreiner afirma que Paulo inegavelmente faz referência a indivíduos assim como
ao Israel corporativo em Rm 9.30-10.21 e que é impróprio distinguir entre
indivíduos e os grupos dos quais eles são parte, porque o que é verdadeiro do
coletivo é necessariamente verdadeiro de seus membros individuais.[38]
Mas, mais uma vez, ele afirma contra a visão que Paulo fala “somente de grupos
corporativos em Romanos 9-11 e não está fazendo referência a indivíduos.”[39]
Por essa razão, ele parece crer que meramente precisa mostrar que os indivíduos
são parte das questões que Paulo discute a fim de refutar a ideia da eleição
corporativa. Entretanto, temos visto que este tipo de argumento não se aplica
ao conceito da eleição corporativa que é inerente na tradição bíblica, que, não
obstante, torna improvável o conceito calvinista tradicional da eleição
individual.
É
importante reconhecer que Paulo não está falando diretamente sobre a eleição em
Rm 9.30-10.21. Contudo, é verdadeiro que sua discussão diz respeito em alguma
medida à base da eleição corporativa (9.30-10.4) e os meios pelos quais os
indivíduos tornam-se parte do grupo eleito (10.5-13) – fé. Todavia, demonstrar
que Paulo fala sobre indivíduos exercendo fé de forma alguma contradiz a ideia
da eleição corporativa. Como temos visto, o conceito sempre incluiu indivíduos
dentro de sua extensão sem concentrar a eleição no indivíduo. De fato, eu argumentaria
que Rm 9.1-9 no contexto de Romanos afirma que a fé sempre foi o meio para o
indivíduo verdadeiramente possuir as bênçãos da eleição divina corporativa.
Além disso, tal papel da fé deve ser esperado em uma doutrina da eleição
articulada deste lado da cruz, que acha que a eleição corporativa de Israel
veio ao seu cumprimento em Cristo, a verdadeira semente de Abraão e o
representante da aliança do povo de Deus.
A própria tentativa de Schreiner de relacionar a linguagem corporativa de Paulo com as suas inevitáveis implicações para os indivíduos mostra que o aspecto corporativo das questões que Paulo aborda tem precedência sobre – mas não exclui – o aspecto individual. Ele observa que Paulo fala de Israel como uma entidade corporativa deixando de obter a justiça de Deus, mas que isto não se aplica a todo indivíduo israelita. Todavia isto parece contradizer seus próprios pontos que Paulo fala igualmente do grupo e do indivíduo e que o que quer que seja verdadeiro do grupo também deve ser verdadeiro do indivíduo da mesma forma. Ele parece estar dizendo que Paulo fala geralmente, mas que o que Paulo diz deve aplicar ao nível individual. Eu concordo. Mas dizer que Paulo fala geralmente (de tal forma que não se aplica a todo indivíduo) é reconhecer que Paulo não fala igualmente do grupo e dos indivíduos, mas que seu foco está no grupo, ainda que o que ele diz certamente se aplica aos indivíduos. Este é na verdade um aspecto diferente do pensamento e terminologia corporativos do que achamos no caso da eleição, no qual a associação de alguém no grupo determina a própria situação. Mas estes dois aspectos do pensamento corporativo procede da prioridade do grupo na perspectiva simultânea do escritor.[40]
Enquanto Rm 9.30-10.21 não põe em dúvida o conceito da eleição corporativa como Schreiner sustenta, o amplo contexto interno de Romanos 9-11 fornece apoio para a noção de diversas formas, algumas das quais já temos examinado. Aqui, mencionaremos apenas uma: a metáfora da oliveira de Paulo (Rm 11.17-24). Ela demonstra a ideia da eleição corporativa muito bem. A oliveira indubitavelmente representa o povo eleito de Deus (embora deve ser admitido que a eleição não é a preocupação principal de Paulo aqui). Mas os indivíduos são enxertados no povo eleito e participam da eleição e de suas bênçãos pela fé ou são cortados do povo escolhido de Deus e de suas bênçãos por causa da incredulidade.[41] O foco da eleição é claramente o povo corporativo de Deus com os indivíduos participando da eleição por meio de sua participação (através da fé) no grupo eleito, que transpõe a história da salvação.
4.
A seleção de um grupo ao invés de outro e a própria validade do conceito de
eleição corporativa. Em sua seção final, Schreiner argumenta que a eleição
corporativa não é menos arbitrária do que a eleição individual calvinista e que
a visão típica da eleição corporativa é ilusória, visto que ela não exige a
eleição de pessoas de nenhuma forma, mas de uma entidade abstrata ou de um
conceito.[42]
a.
A arbitrariedade da eleição e Rm 9.11-12, 16. Acerca da arbitrariedade
da eleição, Schreiner essencialmente argumenta que, mesmo se a eleição
corporativa fosse verdadeira, Rm 9.11-12, 16 significaria, então, que Deus
predestina a fé do grupo eleito e que a fé é dessa forma a consequência da
eleição. Mas esta construção é suspeita. Rm 9.11-12 na verdade não busca fazer
uma exposição da eleição per se, mas usa o exemplo da eleição de
Jacó (com toda sua significância corporativa) para fazer uma afirmação sobre
o propósito de Deus na eleição,[43]
que ela permanece baseada na soberana vontade e chamado de Deus ao invés de
obras humanas. O cumprimento do propósito e promessas de Deus para abençoar o
mundo (cf. 9.4, 6-9) depende de sua soberana liberdade para designar quem ele
escolhe como seu povo da aliança sob quaisquer condições que ele decide
estabelecer.[44]
Esta interpretação é confirmada pelo fato que 9.10-13 apoia a insistência de
9.8 que “não são os filhos da carne que são filhos de Deus; mas os filhos da
promessa são contados como descendência.” A frase, “os filhos da promessa”, é
uma rica designação que certamente inclui a fé como uma característica
definidora daqueles a quem ela se refere, como Rm 4, 8; Gl 3-4 e o histórico do
Antigo Testamento que cerca Isaque demonstram.[45]
Rm 9.16 então prova o mesmo que 9.11-12: a concessão da misericórdia de Deus está ao seu critério ao invés de estar ao critério do homem (veja também III.1 acima). O versículo não aborda as razões de Deus para dispensar misericórdia, ainda menos afirma que ele não tem razões que estão relacionadas às pessoas,[46] mas na verdade afirma que ele tem o direito de fazer como deseja. No contexto de Romanos em geral e Romanos 9-11, isto significa que ele tem o direito de considerar aqueles que têm fé como seu povo da aliança. A concessão da misericórdia de Deus “não depende do que quer, nem do que corre, mas de Deus que usa de misericórdia” (Rm 9.16).
Mas estas são questões de exegese que tem sido debatidas há tempos e exigem muito mais atenção do que eu posso dar aqui. Por agora, eu gostaria de registrar meu ceticismo acerca da alegação que Rm 9.11-12, 16 implica que a fé é um resultado predestinado da eleição. Mas mesmo se alguém concorda com a conclusão de Schreiner que estes versículos ao menos implicam que o povo de Deus são corporativamente eleitos incondicionalmente, sua visão defeituosa da eleição corporativa produz uma objeção fatal ao ponto maior que ele está tentando fazer destes versículos, a saber, que mesmo se a eleição corporativa for admitida em Romanos 9, a (alegada) eleição incondicional do grupo deve também significar a eleição incondicional direta dos indivíduos (como indivíduos). Pois a própria visão da eleição corporativa sustenta que o que é verdadeiro do povo eleito como um todo não é necessariamente verdadeiro dos indivíduos no grupo independentemente. Além disso, o que é verdadeiro do povo eleito como um todo não se aplica igualmente e diretamente aos indivíduos isoladamente, mas quando aplicável de alguma forma, ele se aplica secundariamente (todavia verdadeiramente) aos indivíduos como membros do grupo. Isto nos leva diretamente ao desafio de Schreiner à validade do conceito de eleição corporativa.
b.
A validade do conceito da eleição corporativa. Schreiner acusa que os
defensores da eleição corporativa “na verdade não creem na eleição corporativa
de um grupo ou de pessoas” mas na escolha de Deus de uma entidade ou um conceito
abstrato.[47]
Mas isto simplesmente não é verdadeiro. Como vimos, os indivíduos participam do
status de eleitos do grupo dos eleitos. Eles são verdadeiramente eleitos, mas
somente secundariamente, como membros do grupo. Aqui está o escândalo da
eleição corporativa às sensibilidades individualistas modernas, que acham
difícil de compreender formas corporativas de pensamento: o grupo é primário e
o indivíduo secundário. Parece que, porque o indivíduo não é primário na visão
corporativa, Schreiner não consegue ver que as pessoas estão envolvidas de
alguma maneira, e, portanto, o conceito não faz sentido para ele. Isto sugere
uma incapacidade de entender a perspectiva corporativa, que foi tão proeminente
entre os antigos, devido às compreensões individualísticas.
De
fato, o argumento de Schreiner na prática nega o conceito veterotestamentário
vastamente reconhecido da eleição. Será que ele discutiria que a eleição de
Israel em Abraão/Isaque/Jacó foi a eleição de um conceito antes que de um povo?
Talvez ele afirmaria que, a luz de seus argumentos, o conceito da eleição
veterotestamentário deve ser igualmente individual e que o Antigo Testamento
contém um conceito desenvolvido de eleição individual. Mas isto seria difícil
de defender. Há pouca evidência para ele no Antigo Testamento conforme o
comentário de Piper citado acima (veja III.1 acima) e o grande peso da opinião
acadêmica seria sugestivo. Claramente, o conceito veterotestamentário da
eleição corporativa é tanto coerente quanto é eleição de pessoas ainda que os
indivíduos não são o foco. Se isto está correto, então o argumento de Schreiner
sobre a invalidade da eleição corporativa desmorona.
É a primazia do grupo sobre o indivíduo que ajuda a explicar por que a insistência de Schreiner que, se um grupo é escolhido, então os indivíduos devem também ser escolhidos diretamente como indivíduos, está equivocada. Já vimos tanto que Schreiner admite que a linguagem corporativa não necessariamente se aplica a todo indivíduo em um grupo como que isto demonstra que o foco de tal linguagem está no coletivo (veja III.3 acima). Podemos agora acrescentar que é muitas vezes verdadeiro que, em uma perspectiva corporativa, a identidade do grupo transcende a identidade do indivíduo ou a mera coleção de entidades individuais. Como o antigo ditado diz, “o todo é mais do que a soma das partes.” Todavia, isto não significa que no caso de um grupo de pessoas, o todo é somente uma entidade ou um conceito abstrato, embora seja verdadeiro que um grupo é inerentemente mais geral e abstrato do que indivíduos específicos. Antes, significa que a identidade e a realidade corporativa transcende a do indivíduo por si mesmo e que algumas coisas que são verdadeiras do grupo não poderiam ser verdadeiras do indivíduo. Também significa que a experiência do indivíduo das realidades corporativas depende de sua participação no grupo.
A analogia de um time de baseball oferecida por Schreiner fornece na verdade uma boa ilustração de tais modos corporativos de pensamento e testemunha contra seu próprio argumento. Sem dúvida, a analogia mostra que “escolher um time requer que você escolha um time entre outros junto com os indivíduos que o compõem.”[48] Mas Schreiner deixa de observar que a compra de um time de baseball é mais corporativamente do que individualmente orientado. Alguém compra/“elege” o time, e os jogadores individuais que fazem parte do time são escolhidos como consequência de sua associação com o time.
Alguém familiar com a atividade do baseball profissional sabe que quando um novo proprietário compra um time, ele não seleciona individualmente cada jogador que ele quer que esteja no time, mas adquire os jogadores individualmente no time como consequência de sua compra corporativa.[49] Antes, a real associação individual com o time é variável e pode ser diferente de um dia para o outro, antes ou depois de uma venda. Mas visto que o proprietário possui o time, ele “possui” quem quer que pertença ao time. Há uma distinção entre a compra do time/o status do time como possuído ou eleito por um lado e a adição de jogadores individualmente ao time de outro. O time permanece primário, e a adiçao ou exclusão de jogadores individualmente é orientada ao time, em cuja participação une o jogador individualmente aos benefícios, responsabilidades e destino do time. Assim, embora formalmente correta, a asserção de Schreiner de que a eleição corporativa exige a eleição individual não está correta conforme ele pretende.
A identidade de um time profissional de baseball transcende a mera reunião de seus membros individualmente assim como a identidade de quaisquer de seus membros individuais. É uma entidade corporativa que em muitos casos atravessa gerações, interligando todos que participam dela por sua identificação com sua identidade corporativa. Ampliando a analogia, poderíamos imaginar que cada ano a Liga Americana aleatoriamente selecionasse pela sorte um de seus times para um prêmio especial que concederia ao time notoriedade especial como seu “time do ano” e um bônus especial de 20.000 dólares para cada membro do time. Isto é equivalente a uma eleição incondicional. Mas nenhum jogador poderia alegar que ele foi individualmente escolhido como “o jogador do ano” ou até mesmo receber o bônus. A eleição incondicional do time não significaria a eleição incondicional dos jogadores individuais como indivíduos. Enquanto o time de fato seria eleito incondicionalmente, os jogadores individuais somente seriam eleitos como consequência de sua associação com o time. Ao mesmo tempo, alguém poderia dizer que os jogadores individuais foram incondicionalmente eleitos como membros do time. Além disso, jogadores que se unissem ao time no meio da temporada viriam a compartilhar da eleição incondicional do time.
Minha intenção não foi tornar o baseball profissional determinante para a nossa concepção da eleição, mas pegar a própria analogia de Schreiner e demonstrar que ela realmente não apoia seu mais amplo argumento para a eleição individual calvinista, mas na verdade apoia o conceito da eleição corporativa que temos articulado. Não é que Schreiner deixa de demonstrar que a eleição corporativa deve de alguma forma envolver os membros individuais do grupo. Isto de forma alguma é a questão entre a eleição corporativa e a individual. Sobre isto as duas visões concordam. Mas a eleição individual calvinista afirma muito mais. Ela afirma que os indivíduos são (incondicionalmente) eleitos para fazer parte do povo eleito. O conceito de eleição corporativa não sustenta isto, nem a analogia de Schreiner. Parece que a eleição corporativa evita a arbitrariedade da visão calvinista afinal de contas.
c.
Eleição em Cristo e Ef 1.4. Mas como é que os indivíduos compartilham da
eleição do povo de Deus? Schreiner corretamente observa que os defensores da
eleição corporativa enfatizam que a eleição é em Cristo (Ef 1.4).[50]
Mas ele incorretamente afirma que esta ideia significa que Deus elegeu a Igreja
“para estar em Cristo.”[51]
Isto é exatamente o que sua citação de Forster e Marston como defensores da
visão nega.[52]
A ideia é, antes, que Jesus é o Eleito (Schreiner acerta este ponto) e a Igreja
foi escolhida como consequência de sua participação em Cristo. Cristo é a
esfera da eleição. Todos que estão nele compartilham de sua eleição como todos
que estavam em Jacó/Israel eram também eleitos.
Mas
Schreiner discorda desta interpretação de Ef 1.4. Ele objeta que o texto não
fala da eleição de Cristo, mas da eleição do povo. Mas a eleição de Cristo é
certamente parte do segundo plano e significado do versículo. Schreiner está
correto em dizer que o versículo enfatiza a eleição do povo antes que a eleição
de Cristo (embora mesmo este ponto possa ser colocado em dúvida pela notável
ênfase na frase “em Cristo” ou seu equivalente por toda parte de Ef 1.3-14).
Mas a interpretação corporativa de Ef 1.4 não muda a ênfase do versículo para a
eleição de Cristo, mas simplesmente revela o segundo plano da linguagem e nos
ajuda a entender o que significa para Deus ter escolhido a Igreja em Cristo. O
versículo claramente assume a eleição de Cristo da mesma forma que afirmações
veterotestamentárias similares da eleição/bênção “em Abraão,” “em Isaque,” e
“em Jacó/Israel” assumem a eleição/bênção dos representantes da aliança do povo
de Deus. Para tomar um exemplo de Rm 9.7/Gn 21.12, não pode ser negado que a
eleição de Isaque forma parte do segundo plano e significado da afirmação a
Abraão que “em Isaque será chamada a tua descendência.” O ponto é que a Igreja
foi escolhida como consequência de sua união pactual com Cristo, que representa
a Igreja e totaliza seu povo em si mesmo.
Isto na verdade ajuda a esclarecer como é que a Igreja foi escolhida antes da fundação do mundo. A eleição de Cristo, o cabeça corporativo pré-existente da Igreja, antes da fundação do mundo envolve a eleição da Igreja porque ele é o cabeça e representante corporativo da Igreja, e o que é verdadeiro dele como seu representante é também verdadeiro deles, seu corpo. Isto é semelhante ao fato que Israel foi escolhido em Abraão/Isaque/Jacó antes da nação sequer existisse (cf. o modo que Levi pagou o dízimo em Abraão conforme Hb 7.9-10). Não é que o povo de Israel estava de alguma forma literalmente existente em Abraão, mas a escolha do representante corporativo necessariamente inclui a escolha da entidade corporativa que ele representa.
Agora, quando indagamos quanto a como alguém vem a estar em Cristo, a resposta de Paulo é, obviamente, através da fé (veja, por exemplo, Rm 3-4, 8; Gl 3-4). Dessa forma, a objeção de Schreiner à fé como a base da eleição é infundada. É verdadeiro que Ef 1.4 não menciona a fé, mas nem ela especificamente afirma que a eleição é incondicional. O que ela diz é que a eleição é em Cristo, o que sabemos na teologia paulina ser em parte uma maneira de indicar uma esfera de identidade pela qual se entra através da fé. Mas a ideia não é que a escolha de Deus foi baseada em nossa fé prevista per se. É que a eleição da Igreja é íntrinseca à eleição de Cristo, e a associação com a Igreja é baseada na fé, uma ideia sugerida pela implicação de Ef 1.13 que os cristãos são selados em Cristo com o Espírito Santo como resultado de ouvir e crer no evangelho.
A própria interpretação da declaração de Ef 1.4 de Schreiner da eleição em Cristo é que ela indica que Cristo é o agente através de quem a eleição é cumprida. Mas esta interpretação na verdade não impede o sentido incorporativo da frase exposta acima. Ambos os sentidos estão provavelmente presentes. De fato, o sentido incorporativo necessariamente inclui o instrumental, embora o oposto não seja necessariamente verdadeiro. O sentido incorporativo é fortemente sustentado pela significação obviamente incorporativa da mesma linguagem em outras partes em Efésios, tais como a identificação de Cristo como o cabeça da Igreja/seu corpo (1.20-23), a ressurreição/nova criação da Igreja em Cristo (2.6-10; cf. a semelhança de 2.6 e 1.3 com sua linguagem dos “celestiais”!), e a incorporação dos judeus e gentios em Cristo como um novo homem/corpo/templo (2.11-22) para citar apenas alguns exemplos. A tentativa de Schreiner de restringir a linguagem “em Cristo” de Paulo em Ef 1.4 a um sentido instrumental simplesmente não faz justiça à evidência de Efésios.[53] Apesar de sua afirmação, uma eleição corporativa na qual indivíduos participam através da fé dificilmente pode ser considerada insignificante. Àqueles que estão em Cristo, ela significaria tudo, como Ef 1.3-14 testifica.
d.
O papel da lógica. De tudo o que foi dito, não deve ser preciso dizer
que o apelo de Schreiner à lógica como exigindo a eleição individual calvinista
não tem fundamento.[54]
Sua afirmação de que a eleição corporativa deve envolver indivíduos é um
truísmo simplista que ignora a sutileza da relação entre o coletivo e o
individual e da questão do foco da eleição. O resultado é que seu ataque ao
conceito de eleição corporativa através de tentativas repetidas de mostrar que
os indivíduos devem estar em vista quando se fala de grupos porque grupos são
compostos de indivíduos equivale a abater um espantalho se uma visão adequada
da eleição corporativa estiver sob consideração.[55]
Mas
Schreiner está totalmente correto em insistir que a lei da não-contradição não
pode ser abandonada. Pois sem ela, toda comunicação se torna sem sentido. É por
isso que não pode haver nenhuma liberdade humana genuína se a doutrina
calvinista da determinação divina absoluta de todas as coisas é verdadeira. É
por isso também que a interpretação calvinista que leva Romanos 9 a ensinar que
Deus absolutamente determina quem exercerá fé e Romanos 10 a ensinar “que
aqueles que não exercem fé são responsáveis e deviam ter crido”[56]
força uma posição ilógica sobre Paulo. Schreiner gostaria de relegar a relação
entre a soberania divina e a responsabilidade humana ao status de mistério. Mas
eu argumentaria que o conceito teológico/filosófico (como em oposição ao
bíblico) do mistério que Schreiner invoca deve ser reservado para realidades
nas quais nós não sabemos como algo funciona, mas nas quais não há contradição
lógica.
O exemplo da Trindade que ele conta é bom. Não é contraditório porque ele afirma que há três pessoas em um Deus antes que Deus é três pessoas e todavia uma pessoa. Mas é misterioso porque não sabemos como três pessoas podem existir em um ser. Entretanto, afirmar que Deus absolutamente predetermina as ações humanas e que os seres humanos são livres é um absurdo.[57] Da mesma forma é a ideia que alguém cuja falta de fé foi absolutamente predeterminada devia ter crido. Mas estas questões foram debatidas por milênios e é improvável que eu consiga persuadir alguém comprometido com o compatibilismo nesses breves comentários sobre o papel da lógica na discussão.
Enfim, a exegese bíblica e não o comprometimento filosófico é que deve determinar nossas conclusões teológicas sobre a eleição. Isto é um ótimo sinal para a tese de que Romanos 9 manifesta um conceito corporativo da eleição antes que um conceito individual calvinista. Pois a ênfase de Paulo aí é claramente corporativa e se encaixa confortavelmente no conceito veterotestamentário da eleição corporativa no qual os textos que ele invoca estão saturados. Romanos 9 não ensina a eleição individual no sentido tradicional, nem que Deus determina quem irá crer. Isto se harmoniza lindamente com Rm 9.30-10.21, que Schreiner admite, “nos ensina que aqueles que não exercem fé são responsáveis e deviam ter crido.”[58] Quando emparelhado com seu próprio postulado da eleição individual incondicional em Romanos 9, Schreiner é compelido a perguntar, “Como ambas podem ser logicamente verdadeiras?”[59] e ele é forçado a recorrer ao conceito de mistério. Apesar de não ser fatal à sua visão, isto não prontamente a aprova. A lógica, que ele tenta afirmar como apoiando a sua posição contra a eleição corporativa, certamente favorece uma interpretação que não exige tal inconsistência no argumento de Paulo.
V.
CONCLUSÃO
A
defesa de Thomas Schreiner de uma leitura calvinista de Romanos 9 baseada na
suposição de que a eleição corporativa e individual são inseparáveis não é
convincente. Praticamente, seu argumento abate um versão espantalho da eleição
corporativa.[60]
Um dos pontos principais de todo o seu argumento em apoio da tese que a eleição
deve ser tanto corporativa quanto individual é mostrar que o que é falado do
grupo deve envolver indivíduos de alguma forma. Mas a visão bíblica da eleição
corporativa sempre conteve indivíduos dentro de sua extensão baseado em sua
participação no grupo/identificação com o representante corporativo sem
estender o conceito de eleição à entrada no povo eleito ou mudar o foco da
eleição para o indivíduo. Os indivíduos foram eleitos, mas somente como membros
do povo eleito. Portanto, uma parte crucial do principal fundamento da tese de
Schreiner na verdade não faz oposição a uma visão adequada da eleição
corporativa, que reconhece que realidades corporativas devem aplicar-se aos
indivíduos e não fornece nenhum apoio à concepção calvinista.
Uma visão precisa da eleição corporativa destroi muito da argumentação de Schreiner. Sua inclusão de indivíduos dentro de sua extensão explica a referência aos indivíduos na linguagem e pensamento de Romanos 9-11 e contradiz a alegação de Schreiner de que ela implica somente a eleição de um conceito abstrato antes que um grupo de pessoas. Por outro lado, um cuidadoso exame de Romanos 9-11 revela que sua linguagem e pensamento individual são na verdade coporativamente orientado, quer alguém pensa na linguagem singular do capítulo 9, na seleção de um remanescente nos capítulos 9 e 11, ou na fé ou fracasso dos indivíduos no capítulo 10.
O que Schreiner deixa de abordar adequadamente é a relação entre o grupo e o indivíduo. Sua afirmação de que a eleição corporativa deve envolver indivíduos revela-se um truísmo simplista que negligencia as complexidades do pensamento corporativo. Ele parece supor de forma simples demais que há uma correlação um a um entre o grupo e o indivíduo, de forma que o que é verdadeiro do grupo é verdadeiro do indivíduo exatamente da mesma maneira. Portanto, para Schreiner, se o grupo foi selecionado, então isto implica que cada membro individual do grupo foi selecionado independentemente para tornar membro do grupo. Mas isto não necessariamente segue, e como vimos, não se encaixa nos contornos do pensamento corporativo, que considera o grupo como primário e o indivíduo como secundário. Tal perspectiva descobre (1) a identidade e a realidade corporativa transcender a do indivíduo em si mesmo; (2) que algumas coisas que são verdadeiras do grupo podem não ser verdadeiras do indivíduo; e (3) que a experiência do indivíduo das realidades corporativas depende de sua participação no grupo.
A pergunta importante sobre a eleição que deve ser respondida diz respeito à sua orientação primária. Ela é corporativa ou individual? Schreiner, conscientemente ou não, pressupõe que é individual. De fato, ele não parece capaz de entender a perspectiva corporativa devido às modernas concepções individualistas. Isto é provavelmente por que ele afirma que ela exige maiores explicações.[61] Espero que este presente artigo satisfaça esta exigência.
A crítica de Schreiner da eleição corporativa não tem êxito na confirmação da visão calvinista da eleição individual em Romanos 9. A visão da eleição do Antigo Testamento e do Judaísmo era corporativo, o próprio Paulo somente falava explicitamente da eleição para salvação em termos corporativos, e o contexto sócio-histórico de Paulo era solidamente coletivista. Além disso, Paulo, que lida com a Escritura extensivamente em Romanos 9-11 e tenta mostrar que suas concepções estão de acordo com ela, faz referência a um número de passagens que evidenciam uma visão corporativa da eleição. Ademais, o conceito veterotestamentário da eleição corporativa inclui a separação e entrada individual na comunidade eleita sem mudar o foco da eleição para o indivíduo. O ônus da prova deve estar com aqueles que afirmam que Paulo se afastou desta concepção bíblica e judaica padrão da eleição. Se for afirmado que a mudança do foco da eleição de Abraão ou Jacó/Israel a Cristo exige tal afastamento, eu chamaria a atenção que a eleição em Cristo é apenas o cumprimento da eleição de Israel e que esta eleição se encaixa perfeitamente no padrão do Antigo Testamento. Novamente, se for objetado que isto estabelece um padrão impossível porque Paulo em parte alguma argumenta diretamente em favor da eleição individual de tal maneira que não encaixa em uma perspectiva corporativa, eu responderia que isso é exatamente o ponto. Teríamos que assumir a visão corporativa a menos que houvesse alguma boa razão em contrário. Nem Paulo nem o restante do Novo Testamento nos dá qualquer razão para fazer este salto.[62] Muito pelo contrário, eles, não menos que Romanos 9, apoiam a visão corporativa através da linguagem corporativa, contexto sócio-histórico e recurso ao Antigo Testamento. Em resposta à pergunta de Schreiner, “Romanos 9 ensina a eleição individual para salvação,” devemos responder, não, ela não ensina. Ela contém uma visão corporativa da eleição para salvação que concede status de eleito a todos aqueles que estão em Cristo.[63]
Fonte: http://www.etsjets.org/files/JETS-PDFs/49/49-2/JETS_49-2_351-371_Abasciano.pdf
Tradução:
Paulo Cesar Antunes
* Brian Abasciano é pastor da Faith Community
Church, 122 High St., Hampton, NH 03842.
[1] Thomas R. Schreiner, “Does Romans 9 Teach
Individual Election unto Salvation? Some Exegetical and Theological
Reflections,” JETS 36 (1993) 25-40. O artigo foi republicado
com algumas pequenas mudanças como “Does Romans 9 Teach Individual Election
unto Salvation?” em The Grace of God, The Bondage of the Will (Ed.
Thomas R. Schreiner e Bruce A. Ware; 2 vols.; Grand Rapids: Baker, 1995)
1.89-106, e novamente em Still Sovereign: Contemporary Perspectives on
Election, Foreknowledge, and Grace (Ed. Thomas R. Schreiner e Bruce
A. Ware; Grand Rapids: Baker, 2000) 89-106. As
referências neste artigo são da última versão reimpressa mencionada. Cf. também
o tratamento de Schreiner de Romanos 9-11, e especialmente o capítulo 9, em seu
comentário sobre Romanos (Romans [Baker Exegetical Commentary on
the New Testament 6; Grand Rapids: Baker Books, 1998] 469-638, esp. pp.
472-530).
[2] Cf.
observação similar de Douglas J. Moo, The Epistle to the Romans (NICNT;
Grand Rapids: Eerdmans, 1996) 571. De fato, vários tratamentos recentes de
Romanos 9 descobriram que Paulo não está falando do destino eterno de
indivíduos especificamente: por exemplo, N. T. Wright, The Climax of
the Covenant: Christ and the Law in Pauline Theology (Edinburgh: T.
& T. Clark, 1992) 238-39; Joseph A. Fitzmyer, Romans: A New
Translation with Introduction and Commentary (AB33; New York: Doubleday,
1993) 563; Brendan Byrne, Romans (Sacra Pagina 6; Collegeville,
MN: Liturgical Press, 1996) 299; Luke T. Johnson, Reading Romans (New
York: Crossword, 1997) 140; Ben Witherington III com Darlene Hyatt, Paul’s
Letter to the Romans: A Socio-Rhetorical Commentary (Eerdmans: Grand
Rapids, 2004) 246-59. Além de Schreiner, dois outros sinceros
estudiosos modernos que defendem a eleição individual para salvação em Romanos
9 são especialmente dignos de nota: Moo (em seu comentário de Romanos
mencionado acima); idem, “The Theology of Romans 9-11: A Response to E.
Elizabeth Johnson” em Pauline Theology III: Romans (Ed.
David M. Hay e Elizabeth E.
Johnson; Minneapolis: Fortress, 1995, 240-58) 254-58; John Piper, The
Justification of God: An Exegetical and Theological Study of Romans 9:1-23 (2a
ed.; Grand Rapids: Baker, 1993).
[3]
Veja também especialmente Piper, Justification of God, passim,
especialmente os capítulos 1 e 2; e minha própria dissertação doutoral: “Paul’s
Use of the Old Testament in Romans 9:1-9: An Intertextual and Theological
Exegesis” (tese de Ph.D.; Universidade de Aberdeen, 2004) 78-81, 195-259,
312-13, 317. Um formato revisado desta dissertação está programado para ser
apresentado na Série de Suplementos do Journal for the Study of the
New Testament sob o mesmo título.
[4] Schreiner, “Individual Election,” 99.
[5] Ibid, 102, 105.
[6] O
representante da eleição corporativa com quem mais Schreiner interage é William
W. Klein, The New Chosen People: A Corporate View of Election
(Grand Rapids: Zondervan, 1990). Mas, ainda que ele possa não dar muita
atenção ao lugar dos indivíduos no povo eleito, Klein certamente proporciona um
lugar para os indivíduos em seu sistema; veja, por exemplo, as páginas 264-65.
[7]
Sobre o conceito da eleição corporativa, veja também Abasciano, “Old Testament
in Romans 9:1-9,” 310-17 (cf. pp. 108-12) e a literatura apropriada citada lá.
[8] Schreiner,
“Individual Election,” 99.
[9]
Para uma análise do NT em relação com a questão da eleição corporativa/individual,
veja Klein, Chosen People. De maneira interessante, em um ensaio
argumentando em favor da visão calvinista da eleição individual, Donald J.
Westblade aceita o argumento de Klein de que Paulo tem a eleição corporativa em
mente por todo Romanos 9-11, embora ele não crê que isto exclua a eleição
individual (“Divine Election in the Pauline Literature” em Schreiner e Ware,
eds., Still Sovereign, 63–87, esp. p. 83 n. 35). Mas este último
julgamento parece estar baseado no mesmo tipo de raciocínio falho a respeito da
relação entre o coletivo e o individual identificado acima no artigo de
Schreiner (“Individual Election”).
[10]
Para uma demonstração deste ponto, veja Klein, Chosen People,
25-44.
[11] Veja D.
I. Block, “Sojourner; Alien; Stranger” ISBE 4.561-63. Raabe
e Rute são exemplos notórios do Antigo Testamento.
[12] Moo,
“Theology of Romans 9-11,” 254-58; cf. Moo, Romans, 586, esp. n.
73. Todavia, ele argumenta que a rejeição do evangelho
pelo povo judeu e o grande fluxo de gentios entrando individualmente para a
Igreja levou Paulo a individualizar a eleição. Mas veja abaixo. É interessante
que Moo favoravelmente direciona a atenção para o artigo de Schreiner para os
problemas de encontrar a eleição corporativa no Novo Testamento enquanto
reconhece que esta era a visão do Antigo Testamento e do Judaísmo (Romans,
586 n. 73), pois uma das maiores preocupações do artigo de Schreiner é que o
conceito de uma eleição primariamente corporativa é mesmo inválido.
[13] Piper,
Justification of God, 64.
[14]
Como Piper comenta: “A maioria dos comentaristas concorda que as citações do AT
em Rm 9.6-13 supõem um conhecimento de toda a história da qual elas são parte e
que sem este conhecimento as citações isoladas seriam virtualmente
ininteligíveis como parte do argumento” (Justification of God, 60 n.
27). Sobre as
alusões escriturísticas de Paulo em Romanos 9 como indicadores de seus
contextos originais, veja Abasciano, “Old Testament in Romans 9:1-9”; cf.
Richard B. Hays, Echoes of Scripture in the Letters of Paul (New
Haven & London: Yale University Press, 1989) 63-68; Douglas A. Oss, “Paul’s
Use of Isaiah and Its Place in His Theology, with Special Reference to Romans
9–11” (Ph.D. diss.; Westminster Theological Seminary, Philadelphia, 1992); J.
Ross Wagner, Heralds of the Good News: Isaiah and Paul “in Concert” in
the Letter to the Romans (NovTSup 101; Leiden: Brill, 2002) ch. 2; e
mais geralmente, C. H. Dodd, According to the Scriptures: The
Substructure of New Testament Theology (London: Nisbet, 1952); G. K.
Beale, “Did Jesus and His Followers Preach the Right Doctrine from the Wrong
Texts?” em The Right Doctrine from the Wrong Texts?: Essays on the Use
of the Old Testament in the New (Ed. G. K. Beale; Grand Rapids:
Baker, 1994) 387-404, e vários estudiosos que ele cita por toda parte,
especialmente nas páginas 390 e 391 n. 10.
[15]
Todas as traduções da Escritura são do autor.
[16] C. E. B.
Cranfield, A Critical and Exegetical Commentary on the Epistle to the
Romans (2 vols.; ICC; Edinburgh: Τ & Τ Clark, 1975-79) 480.
[17] Sobre
este conceito, veja Klein, Chosen People 36-42; Beale,
“Jesus and His Followers” 392; idem, “The Old Testament Background of
Reconciliation in 2 Corinthians 5-7 and Its Bearing on the Literary Problem of
2 Corinthians 6:14-7:1,” em Beale, ed., The Right Doctrine from the
Wrong Texts? 217-47, esp. 230-31; E. Earle Ellis, “Biblical
Interpretation in the New Testament Church,” em Mikra: Text,
Translation, Reading and Interpretation of the Hebrew Bible in Ancient Judaism
and Early Christianity (ed. J. Mulder; CRINT 2.1; Assen: Van
Gorcum/Minneapolis: Fortress, 1990) 716-20; idem, “How the New Testament Uses
the Old,” em New Testament Interpretation: Essays on Principles and
Methods (ed. I. H. Marshall; Grand Rapids: Eerdmans, 1977) 212-13;
Klyne Snodgrass, “The Use of the Old Testament in the New,” em Beale,
ed., The Right Doctrine from the Wrong Texts? 29-51,
esp. p. 37. O conceito da representação/solidariedade corporativa na
erudição moderna remonta especialmente à noção distinta de H. W. Robinson da
personalidade corporativa (The Christian Doctrine of Man [Edinburgh: Τ & Τ Clark, 1911]; idem, Corporate
Personality in Ancient Israel [Philadelphia: Fortress, 1964]). Apesar
da inadequação da ideia de Robinson, que tem sido vigorosamente criticada, a
perspectiva corporativa do AT é inegável e apoiada pela pesquisa recente (além
de acima, veja, por exemplo, Joel S. Kaminsky, Corporate
Responsibility in the Hebrew Bible [Sheffield: JSOT, 1995] esp.
16-22; Gary W. Burnett, Paul and the Salvation of the Individual
[Biblical Interpretation Series 57; Leiden/Boston/Köln: Brill, 2001] esp.
73-80).
[18]
Note que Paulo trata o mesmo contexto do AT em Rm 9.7 e Gl 4.21-31.
[19]
Obviamente, a autoria paulina de Efésios é disputada, mas eu creio que
Schreiner e eu concordamos que Paulo é o autor da epístola. Mesmo se um estiver
inclinado a rejeitar a autoria paulina, Efésios pode ainda ser considerada como
fiel ao ensino de Paulo. Harold Hoehner é atualmente notável por fornecer o que
pode ser a defesa mais extensiva da autoria paulina de Efésios (Ephesians
[Grand Rapids: Baker, 2002] 2-61); veja também Peter T. O’Brien, The
Letter to the Ephesians (PNTC; Grand Rapids: Eerdmans, 1999) 4-47.
Contra a autoria paulina, veja Andrew T. Lincoln, Ephesians (WBC
42; Dallas: Word, 1990) lix-lxxiii. Sobre o sentido de aliança-incorporativo da
linguagem “em Cristo” de Paulo, veja muito resumidamente, Abasciano, “Old
Testament in Romans 9:1-9” 205-6. Cf. as obras listadas na nota 17 acima;
Wright, Climax of the Covenant 18-55; Michael Cranford,
“Election and Ethnicity: Paul’s View of Israel in Romans 9.1-13,” JSNT 50
(1993) 27-41, esp. p. 30. Sobre Ef 1.4, veja IV.4.C abaixo.
[20]
O único caso em que Paulo usa a linguagem da eleição em relação a um indivíduo
é Rm 16.13, onde ele faz referência a Rufo como “o eleito no Senhor” (τονέκλεκτονενκυρίφ). Entretanto, isto provavelmente não
faz referência à eleição de Rufo para salvação, mas ao fato dele ser um cristão
seleto/excelente, que Cranfield chama de uma interpretação muito difundida (Romans
794). Mas mesmo se fizesse referência à salvação, ele ainda não apoiaria a
noção tradicional da eleição individual porque ela é qualificada como uma
eleição no Senhor, que se encaixa melhor com o conceito de eleição corporativa
conforme argumentado acima. Fora do corpus paulino, a
linguagem individual é usada em ligação com a eleição salvadora em 1Pe 5.13;
1Jo 5.1, 13. Mas estes exemplos revelam-se casos de singulares coletivos que
fazem referência à eleição de entidades corporativas, que somente reforça o
caso para a eleição corporativa como a visão do Novo Testamento.
[21]
Sobre este ponto em relação a Romanos 9-11, veja Abasciano, “Old Testament in
Romans 9:1-9” 108-12.
[22]
Para uma descrição mais ampla, todavia convenientemente resumida, das culturas
coletivistas vs. individualistas, veja Burnett, Salvation of the
Individual 47-49; cf. Abasciano, “Old Testament in Romans 9:1-9”
108-12. Para uma descrição extensiva, ainda que um tanto problemática, veja
Bruce J. Malina, The New Testament World (Atlanta: John
Knox, 1981) 51-70; Bruce J. Malina e Jerome H. Neyrey, Portraits of
Paul: An Archaeology of Ancient Personality (Louisville: Westminster
John Knox, 1996) 153-201, 225-31. Para uma crítica de Malina, veja
Burnett, Salvation of the Individual 43-46.
[23] Burnett,
Salvation of the Individual 1-2, 26, 91-114.
[24] Burnett,
Salvation of the Individual. Para uma pesquisa recente do presente
estado de erudição sobre a relação entre o grupo e o indivíduo nos estudos
bíblicos, veja Shannon Burkes, God, Self, and Death: The Shape of
Religious Transformation in the Second Temple Period (JSJSup 79;
Leiden: Brill, 2003) 17-29.
[25]
Veja, por exemplo, Burnett, Salvation of the Individual 46,
50.
[26]
Ibid. 76, 80, 84-85, 109-14, 229. Um dos defeitos do estudo de Burnett é
que ele não afirma claramente o suficiente a relação entre o grupo e o
indivíduo no pensamento de Paulo (cf. a crítica de Jeffrey S. Lamp, resenha de
Gary W. Burnett, Paul and the Salvation of the Individual,
em Review of Biblical Literature [http://www.bookreviews.org]
2003). Às vezes ele dá a impressão de que o indivíduo era primário para Paulo,
mas isto parece ser resultado do propósito do estudo de argumentar em favor da
importância do indivíduo no pensamento de Paulo. Como mencionado acima, ele
indica que a importância do indivíduo para Paulo era dentro de uma perspectiva
corporativa. Em todo caso, ele claramente expressa que considera Romanos 9-12
como solidamente coletivista e acha necessário argumentar que a preocupação de
Paulo por questões coletivas nestes capítulos “não compõem a soma total do
pensamento de Paulo em Romanos” (p. 18).
[27] Burnett,
Salvation of the Individual 76. As citações de Kaminsky são
de Corporate Responsibility 153.
[28] Burnett,
Salvation of the Individual 80.
[29] Veja
nota 12 acima e cf. Abasciano, “Old Testament in Romans 9:1-9” 316, n. 135.
[30] Howard
Clark Kee, Knowing the Truth: A Sociological Approach to New Testament
Interpretation (Minneapolis: Fortress, 1989) 5. É
digno de nota que a tese do livro de Kee é que uma percepção individualista “do
Cristianismo em suas origens é diretamente contestada pelo estudo do Novo
Testamento – a Nova Aliança – que demonstra as formas que Jesus e o movimento
ao qual suas palavras e obras dão origem buscavam definir a participação na
comunidade do povo de Deus” (p. 1).
[31]
Schreiner, “Individual Election” 99. É surpreendente que Schreiner não mostra
nenhum conhecimento nesta seção do fato que muitos estudiosos veem a linguagem
singular de Paulo como aplicando primariamente ao nível corporativo e oferece
razões significativas para agir assim. Por outro lado, Piper considera os
argumentos de tais estudiosos seriamente enquanto argumenta vigorosamente
contra eles (Justification of God).
[32] Veja Abasciano, “Old Testament in Romans 9
1-9” 159-71, 359, cf. R. Alan Cole, Exodus An Introduction and
Commentary (TOTC, Downers Grove InterVarsity, 1973) 225-26.
[33]
O òv da Septuaginda traduz o hebraico ltfx, que é uma partícula
relativa incontável que pode referir-se a um referente plural ou singular. Não
temos como saber se o tradutor da Septuaginda de Êx 33.19 usou òv em um sentido
coletivo ou singular, isto é, como ele interpretou a passagem. A Septuaginta
usa o pronome relativo grego singular para traduzir 10$ em
relação a um grupo em, por exemplo, Nm 13.32; Is 19.25; 41.8. Cf. o uso da
linguagem singular aplicada à nação em vários pontos de Êxodo 32-34, tais como
Êx 33.3 e por todo o Antigo Testamento.
[34]
Schreiner, “Individual Election” 99. Schreiner poderia ter indicado em outro
lugar em Romanos 9-11 também, como Rm 9.24-29.
[35]
Cf. a abordagem corporativa de Paulo aos gentios por toda a carta de Romanos,
tais como sua oferta singular aos gentios a Deus em Rm 15.16 (veja também, por
exemplo, Rm 11.11-13, 25; 15.9, 16, 27; 16.4, 26), e em outra parte em seus
escritos tais como sua visão da criação dos dois grupos de judeus e gentios
respectivamente em um novo homem em Cristo em Ef 2.11-22; a visão corporativa
da inclusão dos gentios no povo de Deus expressada por Tiago no concílio de
Jerusalém, onde Paulo tomou parte proeminentemente, falando de Deus tirar dos
gentios um povo para o seu nome (At 15.14).
[36] Cf.
nota 41 abaixo.
[37]
Veja Moo, Romans 674-75, um calvinista que aceita esta
opinião e afirma que muitos comentaristas concordam. Todavia, diferiríamos de
formas significativas em nossas abordagens de Rm 11.1-6.
[38]
Schreiner, “Individual Election” 99-100.
[39]
Ibid. 99; ênfase removida.
[40]
Isto não significa dizer que a linguagem corporativa geral necessariamente
indica a visão mais ampla de um dado autor ou que ela indica a realidade
objetiva. Mas ela apresenta a perspectiva do autor conforme ele escolhe
retratá-la num exemplo específico, similar à sua escolha do tempo/aspecto
verbal. Além disso, no caso da linguagem corporativa geral, a situação
corporativa pode ser determinada pelo estado dos indivíduos que compõem o grupo
(ao contrário do conceito da eleição corporativa) – ainda que aqui ela não
tenha a ver com os indivíduos em e de si mesmos, mas com indivíduos como
membros do coletivo de acordo com a orientação corporativa da cultura
mediterrânea do primeiro século – mas a escolha do autor da linguagem indica
onde a ênfase primária de seu discurso se encontra e significa que não há uma
correlação de um para um entre o que pode ser dito ser verdadeiro do indivíduo
e do que pode ser dito ser verdadeiro do grupo. Notavelmente, o pensamento
corporativo pode também caracterizar um grupo de uma maneira que esteja em
desacordo com o que é de fato verdadeiro da maioria de seus membros (p. e. Js
10.29-43; passim).
[41]
Cf. a eleição corporativa contida em Êx 32.31-33, que era focada no povo e do
qual os indivíduos podiam ser cortados. Esta passagem serve como segundo plano
para Rm 9.1-5 e pretence ao mesmo contexto geral de Êx 33.19, que Paulo cita e
interpreta em Rm 9.15-18. Em resposta à intercessão de Moisés a favor de
Israel, o Senhor diz a ele que apagará de seu livro qualquer um que tiver
pecado (com o bezerro de ouro), uma punição que implica ser cortado do povo
eleito e exposto à maldição fatal da aliança e ira de Deus. Esta figura se
encontra parcialmente por trás da designação de Paulo de Israel como anátema em
Rm 9.3 e estabelece o desafio à palavra de Deus apresentado pelo Israel étnico
tendo sido cortado do povo eleito. Sobre o uso de Paulo de Êxodo 32-34 em Rm
9.1-5, veja Abasciano, “Old Testament in Romans 9:1-9” 138-263.
[42]
Schreiner, “Individual Election” 101-5.
[43]
O significado da frase ήκατ'
έκλογήνπρόθεσιςτουθεού
(“o propósito de Deus segundo a eleição”) é, obviamente, debatido, com muitas
possíveis opções semânticas (cf. BDAG, s.v. κατά, Β, esp. B7), a maioria das quais são
compatíveis com a interpretação oferecida acima. Moo está provavelmente correto
em assumir que a frase indica que a eleição é o meio pelo qual Deus executa seu
propósito (Romanos 581 n. 53). Veja ainda Abasciano, “Old Testament in Romans
9:1-3” 357.
[44]
Que o propósito da eleição referenciada em Rm 9.11 não é outra coisa senão o
propósito de Deus de abençoar o mundo é sugerido pelo contexto mais amplo de
Romanos assim como pelo segundo plano do AT de Rm 9.6-9, particularmente o
contexto mais amplo de Gn 18.10, 14, a saber, Gn 18.17-19. Veja
Abasciano, “Old Testament in Romans 9:1-9” 271-72, 343, 357.
[45]
Para uma completa discussão da frase, veja Abasciano, “Old Testament in Romans
9:1-9” 325-27.
[46]
Piper argumenta que Rm 9.16 ensina a eleição incondicional baseado amplamente
em Êx 33.19, mas neste respeito ele tem manejado mal este versículo com sua
fórmula idem per idem (Justification of God 81-83,
88-89,157). Este é um sério erro que mina a principal tese de seu estudo se G.
K. Beale estiver correto que o capítulo de Piper sobre Êx 33.19 é “o alicerce
teológico de toda a monografia” e que sua validade sustentaria a tese essencial
do livro: “Review of J. Piper, The Justification of God: An Exegetical
and Theological Study of Romans 9:1-23,” WTJ 46 (1984) 191-92; citação da
p. 191. Sobre ambos, Êx 33.19 e o tratamento equivocado que Piper faz dele,
veja Abasciano, “Old Testament in Romans 9:1-9” 166-71.
[47]
Schreiner, “Individual Election” 101.
[48] Ibid.,
102.
[49] Se
fôssemos considerar a formação de um time completamente novo, é interessante
notar que foi uma abordagem corporativa que possibilitou o time de baseball
Colorado Rockies a existir antes que ele tivesse qualquer jogador; devo esta
observação a um ensaio não publicado de William W. Klein.
[50] Ibid.
[51] Ibid.
[52] “Somos
escolhidos em Cristo. Isto não significa que fomos escolhidos para ser
colocados em Cristo.... Significa que conforme nos arrependemos e nascemos de
novo no corpo de Cristo, participamos de sua qualidade de escolhido” (Roger T.
Forster e V. Paul Marston, God’s Strategy in Human History [Wheaton:
Tyndale, 1973] 97).
[53]
Por essa razão, os comentaristas geralmente afirmam tanto o sentido
instrumental quanto incorporativo da linguagem de Paulo em Ef 1.3-14. Veja, p.
ex., a vindoura contribuição de William W. Klein sobre Efésios no revisado
Expositor’s Bible Commentary e as obras que ele cita lá; Lincoln, Efésios
21-23; O’Brien, Efésios 97-100. Embora ele reconheça o
sentido incorporativo da linguagem de Paulo, O’Brien objeta à sugestão de que
eleição em Cristo é primariamente corporativa antes que individual (p. 99). Mas
sua posição parece estar baseada no mesmo tipo de engano exibido na objeção de
Schreiner à validade de uma eleição primariamente corporativa. O conceito da
eleição corporativa exposto neste artigo elimina os comentários de O’Brein de
sua força, visto que ela inclui a noção que a eleição e todas as suas bênçãos
chegam aos crentes individuais pessoalmente. Como O’Brein mesmo afirma, a frase
“em Cristo” significa que as dádivas graciosas de Deus não chegam somente
através da ação de Cristo mas também porque os beneficiários são incorporados
naquele que está ele mesmo no reino celestial” (p. 97).
[54]
Schreiner, “Individual Election” 103-5.
[55]
Mas é provavelmente verdadeiro que muitos defensores de uma orientação
corporativa para o pensamento de Paulo têm exagerado seu caso de forma que eles
inadequadamente apresentam Paulo e seus contemporâneos como tendo quase nenhuma
preocupação com os indivíduos e as implicações que as realidades corporativas
têm para os indivíduos. Por outro lado, a crítica de Schreiner de Klein sobre
este ponto é provavelmente mal orientada, surgindo de sua suposição que a
lógica exige uma correlação de um para um entre os indivíduos em um grupo e o
próprio grupo (cf. Schreiner, “Individual Election” 103-4, e Klein, Chosen
People 264). Klein parece estar usando o termo “lógica” no sentido de
“um modo coerente de pensamento.” O esquema individualista de Schreiner é um
modo lógico de pensamento sobre a relação entre o indivíduo e o grupo, mas não
é um modo logicamente necessário, conforme tenho tentado mostrar. De fato, a
abordagem de Schreiner é inadequada para contextos nos quais o grupo é
considerado primário. Ao mesmo tempo, a perspectiva corporativa é igualmente
lógica.
[56]
Schreiner, “Individual Election” 105.
[57]
Isto é verdadeiro apesar da corajosa tentativa de João Calvino e Jonathan
Edwards de salvar a afirmação da falta de lógica. Contra sua concepção, veja Bruce R. Reichenbach,
“Freedom, Justice, and Moral Responsibility,” em The Grace of God and
the Will of Man (ed. Clark H. Pinnock; Minneapolis, MN: Bethany
House, 1989) 281-87.
[58]
Schreiner, “Individual Election” 105.
[59] Ibid.
[60]
Isso não significa negar que possa haver alguns estudiosos que defendem o tipo
de visão que Schreiner convincentemente refuta e outros cuja visão da eleição
corporativa pode ser vaga como Schreiner acusa. Seu artigo pode contrariar com
sucesso a visão inadequada de alguns estudiosos, mas ela não defende com
sucesso uma visão calvinista da eleição individual em Romanos 9. Além disso, o
representante da eleição corporativa que Schreiner mais menciona, William
Klein, não defende o tipo de visão contra a qual o argumento de Schreiner é
bem-sucedido.
[61]
Schreiner, “Individual Election” 101.
[62]
Schreiner, em ibid. 105, afirma que a eleição individual é ensinada em tantos
textos para ser descartada, citando sem comentário Jo 6.37, 44-45, 64-65;
10.26; At 13.48; 16.14. Mas eu me oporia dizendo que estes textos não ensinam e
nem implicam a eleição individual no sentido calvinista. Infelizmente, a
discussão desses textos está além do escopo deste artigo.
[63] Eu
gostaria de agradecer a Paul Ellingworth e Bill Klein por lerem este artigo e
oferecerem comentários úteis. Sou também grato a Bill por me enviar seu ensaio
não publicado sobre o mesmo tópico e uma parte de seu vindouro comentário sobre
Efésios.
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