quinta-feira, 28 de julho de 2022

POR QUE O EVANGELHO DE TOMÉ NÃO ESTÁ NA BÍBLIA?

  

Por Ryan Leasure

 

Há um jargão comum entre os estudiosos liberais que diz que a igreja suprimiu dezenas de Evangelhos. A razão do porquê eles dizem isso? É porque esses livros [supostamente] compartilham informações escandalosas sobre Jesus que a igreja queria esconder. Segundo eles, a igreja não queria que o mundo soubesse detalhes incompletos como Jesus [supostamente] torturou outras crianças quando criança ou que ele teve uma esposa.

 



De todos esses evangelhos “suprimidos”, de longe o garoto-propaganda é o Evangelho de Tomé. Estudiosos liberais, como John Dominic Crossan e Elaine Pagels, adoram essa obra. O Seminário Jesus [grupo de estudiosos liberais e ateus que criticam o NT] até publicou um livro intitulado The Five Gospels, onde estão inclusos os quatro evangelhos canônicos e o evangelho apócrifo de Tomé.

No entanto, há uma pitada de ironia aqui. Se esses estudiosos tratassem os Evangelhos canônicos com metade da caridade que dão ao evangelho apócrifo de Tomé, todos eles seriam cristãos! Em vez disso, eles datam Tomé em uma data muito antiga e datam os Evangelhos canônicos muito depois das datas reais. Eles afirmam que a visão de Jesus em Tomé é confiável, enquanto os Evangelhos canônicos contêm mitos e lendas.

Em contraste, vou demonstrar, em sentido contrário, que o Evangelho de Tomé não é confiável, nunca foi considerado como Escritura pela igreja primitiva e, portanto, não deveria ser incluído em nosso cânon.

 

O Evangelho de Tomé

 

Em 1945, alguns agricultores de Nag Hammadi, no Egito, estavam cavando e encontraram um jarro de barro no chão. Os fazendeiros, na esperança de encontrar um tesouro, ficaram profundamente desapontados quando encontraram um monte de textos. Mal sabiam eles que esses textos seriam mais valiosos do que qualquer tesouro que pudessem esperar encontrar.

Entre o acervo de textos havia um que começa com “Estas são as palavras secretas que o Jesus vivo falou e que Dídimos Judas Tomé escreveu” e termina com “O Evangelho segundo Tomé”.

Ao contrário dos Evangelhos canônicos, Tomé não segue uma estrutura narrativa. Não relata grandes partes da vida de Jesus – seu nascimento, morte e ressurreição. Em vez disso, Tomé contém 114 ditos esotéricos de Jesus, pretendendo registrar os segredos que Jesus [supostamente] ensinou a seus discípulos.

 

Atributos Canônicos

 

Antes de podermos responder por que Tomé não pertence ao cânon, precisamos saber o que a igreja primitiva procurava em um livro canônico. Em suma, a igreja procurava três atributos ou qualidades diferentes — autoridade apostólica, qualidades divinas e recepção corporativa [aceitação da igreja universal]. Esses três atributos formavam um tipo de grade canônica pela qual testar um livro.

Por autoridade apostólica, a igreja só recebeu livros que pudessem ser atribuídos ao testemunho apostólico de testemunhas oculares. Isso inclui livros escritos por ambos os apóstolos e seus associados próximos. Por exemplo, a igreja obviamente recebeu os escritos de João porque ele era um dos apóstolos. Mas eles também receberam Marcos, com base no fato de que ele era um colaborador próximo de Pedro.

Por qualidades divinas, a igreja procurou livros que evidenciassem as impressões digitais de Deus. Uma dessas evidências era a consistência com outros livros autoritativos. Como os cristãos acreditam que o Espírito Santo inspirou todos os textos bíblicos, eles sabiam que nenhum deles se contradizia.

Por recepção corporativa, a igreja só recebia livros que a igreja universal também recebia como autoritativos. Em outras palavras, se apenas uma pequena fração do cristianismo afirmasse a autoridade de um livro, esse livro seria rejeitado. A recepção tinha que se estender por toda a cristandade.

Então, será que o Evangelho de Tomé possui esses atributos canônicos? Vamos testá-lo colocando-o na grade canônica.

 

Autoridade Apostólica?

 

Um apóstolo ou alguém ligado a algum apóstolo escreveu o Evangelho de Tomé? Em uma palavra, não. De fato, o consenso entre os estudiosos é que o livro data de metade do século II – muito depois da morte dos apóstolos. Ou seja, o discípulo de Jesus, Tomé, não escreveu este livro.

Existem algumas razões para datar esta obra no final do século II. Primeiro, o texto reflete um tipo de gnosticismo (mais sobre isso em um minuto) que não prevaleceu até meados do século II.

Além disso, o Evangelho de Tomé demonstra uma profunda dependência de grandes partes do Novo Testamento. Ele cita ou alude a todos os quatro Evangelhos, Atos, a maioria das cartas de Paulo e Apocalipse. Somente alguém que tivesse acesso a todas essas obras poderia escrever esta obra, e sabemos que levou tempo para que essas obras circulassem pelo Império Romano.

E tem mais, alguns estudiosos sugerem que Tomé se baseou fortemente no Diatessaron [Diatessarão] – uma harmonia dos quatro Evangelhos produzida por Taciano por volta de 170 d.C. Se for esse o caso, Tomé deve ser datado ainda mais tarde.

Mesmo que Tomé seja independente do Diatessaron, sua datação na metade do século II teria descartado a consideração canônica. Tome o Pastor de Hermas – uma obra da metade do século II – por exemplo. A igreja primitiva amava este livro. Mas, como afirma o Fragmento Muratoriano, a igreja rejeitou sua autoridade canônica porque foi escrita “bem recentemente, em nossos tempos”, e, portanto, não era apoiada pela autoridade apostólica.

 

Primeiro Golpe em Tomé.

 

Qualidades Divinas?

 

E as qualidades divinas? Tomé mostra as impressões digitais de Deus e se alinha com outros livros com autoridade apostólica? Novamente, a resposta é não. Tomé foi um dos vários textos gnósticos descobertos em Nag Hammadi.

O gnosticismo era politeísta. Ensinava que o deus que criou o mundo era mau e, por extensão, toda a sua criação também era má. A salvação, então, era a libertação da alma do reino físico para o reino espiritual. Pode-se alcançar esta salvação somente através de um conhecimento secreto (gnosis em grego).

Esse conhecimento secreto, segundo os gnósticos, vem de Jesus. Claro, [segundo os gnósticos] Jesus era radicalmente diferente do deus do Antigo Testamento. Jesus era um deus caloroso e convidativo, enquanto o do Antigo Testamento era hostil e irado.

Além disso, como tudo que é físico é mau, Jesus não tinha realmente um corpo físico. Ele apenas parecia ter um corpo humano e, portanto, não morreu na cruz – uma visão conhecida como Docetismo.

O Evangelho de Tomé não esconde suas tendências gnósticas com toda a sua ênfase em aprender os segredos de Jesus. O prólogo começa: “Estas são as palavras secretas que o Jesus vivo falou”. Além disso, o primeiro ditado afirma: “Quem descobrir a interpretação dessas palavras não provará a morte”. Novamente, a salvação gnóstica vinha através da obtenção de um conhecimento secreto.

Claro, a igreja primitiva rejeitou o gnosticismo como herético. A ortodoxia ensinava a salvação pela fé. Tomé ensinou que a salvação vinha através do conhecimento das informações secretas.

Tomé também se afasta da ortodoxia na forma como vê as mulheres. No final do livro, Jesus declara: “Veja, eu a guiarei (Maria) para torná-la macho, para que ela também se torne um espírito vivo semelhante a vocês, machos. Pois toda mulher que se fizer homem entrará no reino dos céus”.

Esta declaração contradiz claramente como Jesus vê as mulheres nos Evangelhos canônicos. Além disso, contradiz Gênesis 1, que declara que Deus fez homens e mulheres à sua imagem. Assim, as mulheres não são inferiores, como sugere o Evangelho de Tomé.

 

Segundo Golpe em Tomé.

 

Recepção corporativa?

 

A igreja universal confirmou a autoridade do evangelho apócrifo de Tomé? Não há um pingo de evidência para sugerir que isso aconteceu. Se você pensar sobre isso, uma vez que Tomé não possui os dois primeiros atributos – autoridade apostólica e qualidades divinas – a igreja primitiva não tinha motivação nenhuma para pensar que o evangelho apócrifo de Tomé era a Escritura.

A rejeição deste livro pela igreja primitiva é evidenciada de duas maneiras. Primeiro, a igreja primitiva nunca incluiu Tomé em nenhuma de suas primeiras listas canônicas. Em todas as listas, temos quatro, e apenas quatro, Evangelhos.

Em segundo lugar, a igreja rejeitou Tomé especificamente como herético. Ou seja, Tomé nem chegou perto de ser incluído no Cânon. Essa rejeição é contrastada com outros livros, como o Pastor de Hermas ou o Didaquê, que pelo menos foram considerados. A igreja gostava desses livros porque eles promoveram a ortodoxia cristã, mas como mencionei anteriormente, a igreja não os recebeu como Escritura porque eles não tinham autoridade apostólica.

Tomé estava tão longe no escanteio que nem estava em discussão. Eusébio, por exemplo, inclui Tomé na seção “livros heréticos” e sugere que “não deve ser contado nem mesmo entre os livros espúrios, mas descartado como ímpio e absurdo”.

 

Terceiro Golpe em Tomé.

 

O Evangelho de Tomé rejeitado

 

Apesar dos melhores esforços de alguns, Tomé nem chega perto das Escrituras. Não foi apoiado pela autoridade apostólica. Seu conteúdo contradiz os textos ortodoxos. E a igreja nunca chegou perto de considerá-lo como autoridade. Ao contrário do verdadeiro Tomé, temos boas razões para duvidar aqui.

 

Fonte:

 

https://crossexamined.org/why-the-gospel-of-thomas-isnt-in-the-bible/

 

Tradução: Walson Sales

 

Recursos recomendados relacionados ao tema:

 

Cold-Case Christianity: A Homicide Detective Investigates the Claims of the Gospels by J. Warner Wallace  (Book)

 

The New Testament: Too Embarrassing to Be False by Frank Turek  (MP3)  and  (DVD)

 

Why We Know the New Testament Writers Told the Truth by Frank Turek  (mp4 Download)

 

The Top Ten Reasons We Know the NT Writers Told the Truth  mp3  by Frank Turek

 

Counter Culture Christian: Is the Bible True? by Frank Turek  (DVD)

 

 

Ryan Leasure é mestre em artes pela Furman University e mestre em divindade pelo Southern Baptist Theological Seminary. Ele atualmente serve como pastor na Grace Bible Church em Moore, SC.

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