Por
Ryan Leasure
Há
um jargão comum entre os estudiosos liberais que diz que a igreja suprimiu
dezenas de Evangelhos. A razão do porquê eles dizem isso? É porque esses livros
[supostamente] compartilham informações escandalosas sobre Jesus que a igreja
queria esconder. Segundo eles, a igreja não queria que o mundo soubesse
detalhes incompletos como Jesus [supostamente] torturou outras crianças quando
criança ou que ele teve uma esposa.
De
todos esses evangelhos “suprimidos”, de longe o garoto-propaganda é o Evangelho
de Tomé. Estudiosos liberais, como John Dominic Crossan e Elaine Pagels, adoram
essa obra. O Seminário Jesus [grupo de estudiosos liberais e ateus que criticam
o NT] até publicou um livro intitulado The
Five Gospels, onde estão inclusos os quatro evangelhos canônicos e o
evangelho apócrifo de Tomé.
No
entanto, há uma pitada de ironia aqui. Se esses estudiosos tratassem os
Evangelhos canônicos com metade da caridade que dão ao evangelho apócrifo de Tomé,
todos eles seriam cristãos! Em vez disso, eles datam Tomé em uma data muito antiga
e datam os Evangelhos canônicos muito depois das datas reais. Eles afirmam que
a visão de Jesus em Tomé é confiável, enquanto os Evangelhos canônicos contêm
mitos e lendas.
Em
contraste, vou demonstrar, em sentido contrário, que o Evangelho de Tomé não é
confiável, nunca foi considerado como Escritura pela igreja primitiva e,
portanto, não deveria ser incluído em nosso cânon.
O Evangelho de Tomé
Em
1945, alguns agricultores de Nag Hammadi, no Egito, estavam cavando e
encontraram um jarro de barro no chão. Os fazendeiros, na esperança de
encontrar um tesouro, ficaram profundamente desapontados quando encontraram um
monte de textos. Mal sabiam eles que esses textos seriam mais valiosos do que
qualquer tesouro que pudessem esperar encontrar.
Entre
o acervo de textos havia um que começa com “Estas são as palavras secretas que o
Jesus vivo falou e que Dídimos Judas Tomé escreveu” e termina com “O Evangelho
segundo Tomé”.
Ao
contrário dos Evangelhos canônicos, Tomé não segue uma estrutura narrativa. Não
relata grandes partes da vida de Jesus – seu nascimento, morte e ressurreição.
Em vez disso, Tomé contém 114 ditos esotéricos de Jesus, pretendendo registrar
os segredos que Jesus [supostamente] ensinou a seus discípulos.
Atributos Canônicos
Antes
de podermos responder por que Tomé não pertence ao cânon, precisamos saber o
que a igreja primitiva procurava em um livro canônico. Em suma, a igreja
procurava três atributos ou qualidades diferentes — autoridade apostólica,
qualidades divinas e recepção corporativa [aceitação da igreja universal].
Esses três atributos formavam um tipo de grade canônica pela qual testar um
livro.
Por
autoridade apostólica, a igreja só recebeu livros que pudessem ser atribuídos
ao testemunho apostólico de testemunhas oculares. Isso inclui livros escritos
por ambos os apóstolos e seus associados próximos. Por exemplo, a igreja
obviamente recebeu os escritos de João porque ele era um dos apóstolos. Mas
eles também receberam Marcos, com base no fato de que ele era um colaborador
próximo de Pedro.
Por
qualidades divinas, a igreja procurou livros que evidenciassem as impressões
digitais de Deus. Uma dessas evidências era a consistência com outros livros autoritativos.
Como os cristãos acreditam que o Espírito Santo inspirou todos os textos bíblicos,
eles sabiam que nenhum deles se contradizia.
Por
recepção corporativa, a igreja só recebia livros que a igreja universal também
recebia como autoritativos. Em outras palavras, se apenas uma pequena fração do
cristianismo afirmasse a autoridade de um livro, esse livro seria rejeitado. A
recepção tinha que se estender por toda a cristandade.
Então,
será que o Evangelho de Tomé possui esses atributos canônicos? Vamos testá-lo
colocando-o na grade canônica.
Autoridade Apostólica?
Um
apóstolo ou alguém ligado a algum apóstolo escreveu o Evangelho de Tomé? Em uma
palavra, não. De fato, o consenso entre os estudiosos é que o livro data de metade
do século II – muito depois da morte dos apóstolos. Ou seja, o discípulo de
Jesus, Tomé, não escreveu este livro.
Existem
algumas razões para datar esta obra no final do século II. Primeiro, o texto
reflete um tipo de gnosticismo (mais sobre isso em um minuto) que não
prevaleceu até meados do século II.
Além
disso, o Evangelho de Tomé demonstra uma profunda dependência de grandes partes
do Novo Testamento. Ele cita ou alude a todos os quatro Evangelhos, Atos, a
maioria das cartas de Paulo e Apocalipse. Somente alguém que tivesse acesso a
todas essas obras poderia escrever esta obra, e sabemos que levou tempo para
que essas obras circulassem pelo Império Romano.
E
tem mais, alguns estudiosos sugerem que Tomé se baseou fortemente no Diatessaron [Diatessarão] – uma harmonia dos quatro Evangelhos
produzida por Taciano por volta de 170 d.C. Se for esse o caso, Tomé deve ser
datado ainda mais tarde.
Mesmo
que Tomé seja independente do Diatessaron,
sua datação na metade do século II teria descartado a consideração canônica.
Tome o Pastor de Hermas – uma obra da metade do século II – por exemplo. A
igreja primitiva amava este livro. Mas, como afirma o Fragmento Muratoriano, a
igreja rejeitou sua autoridade canônica porque foi escrita “bem recentemente,
em nossos tempos”, e, portanto, não era apoiada pela autoridade apostólica.
Primeiro Golpe em Tomé.
Qualidades Divinas?
E
as qualidades divinas? Tomé mostra as impressões digitais de Deus e se alinha
com outros livros com autoridade apostólica? Novamente, a resposta é não. Tomé
foi um dos vários textos gnósticos descobertos em Nag Hammadi.
O
gnosticismo era politeísta. Ensinava que o deus que criou o mundo era mau e,
por extensão, toda a sua criação também era má. A salvação, então, era a
libertação da alma do reino físico para o reino espiritual. Pode-se alcançar
esta salvação somente através de um conhecimento secreto (gnosis em grego).
Esse
conhecimento secreto, segundo os gnósticos, vem de Jesus. Claro, [segundo os
gnósticos] Jesus era radicalmente diferente do deus do Antigo Testamento. Jesus
era um deus caloroso e convidativo, enquanto o do Antigo Testamento era hostil
e irado.
Além
disso, como tudo que é físico é mau, Jesus não tinha realmente um corpo físico.
Ele apenas parecia ter um corpo humano e, portanto, não morreu na cruz – uma
visão conhecida como Docetismo.
O
Evangelho de Tomé não esconde suas tendências gnósticas com toda a sua ênfase
em aprender os segredos de Jesus. O prólogo começa: “Estas são as palavras
secretas que o Jesus vivo falou”. Além disso, o primeiro ditado afirma: “Quem
descobrir a interpretação dessas palavras não provará a morte”. Novamente, a
salvação gnóstica vinha através da obtenção de um conhecimento secreto.
Claro,
a igreja primitiva rejeitou o gnosticismo como herético. A ortodoxia ensinava a
salvação pela fé. Tomé ensinou que a salvação vinha através do conhecimento das
informações secretas.
Tomé
também se afasta da ortodoxia na forma como vê as mulheres. No final do livro,
Jesus declara: “Veja, eu a guiarei (Maria) para torná-la macho, para que ela
também se torne um espírito vivo semelhante a vocês, machos. Pois toda mulher
que se fizer homem entrará no reino dos céus”.
Esta
declaração contradiz claramente como Jesus vê as mulheres nos Evangelhos
canônicos. Além disso, contradiz Gênesis 1, que declara que Deus fez homens e
mulheres à sua imagem. Assim, as mulheres não são inferiores, como sugere o
Evangelho de Tomé.
Segundo Golpe em Tomé.
Recepção corporativa?
A
igreja universal confirmou a autoridade do evangelho apócrifo de Tomé? Não há
um pingo de evidência para sugerir que isso aconteceu. Se você pensar sobre
isso, uma vez que Tomé não possui os dois primeiros atributos – autoridade
apostólica e qualidades divinas – a igreja primitiva não tinha motivação nenhuma
para pensar que o evangelho apócrifo de Tomé era a Escritura.
A
rejeição deste livro pela igreja primitiva é evidenciada de duas maneiras.
Primeiro, a igreja primitiva nunca incluiu Tomé em nenhuma de suas primeiras
listas canônicas. Em todas as listas, temos quatro, e apenas quatro,
Evangelhos.
Em
segundo lugar, a igreja rejeitou Tomé especificamente como herético. Ou seja, Tomé
nem chegou perto de ser incluído no Cânon. Essa rejeição é contrastada com
outros livros, como o Pastor de Hermas ou o Didaquê, que pelo menos foram considerados.
A igreja gostava desses livros porque eles promoveram a ortodoxia cristã, mas
como mencionei anteriormente, a igreja não os recebeu como Escritura porque
eles não tinham autoridade apostólica.
Tomé
estava tão longe no escanteio que nem estava em discussão. Eusébio, por
exemplo, inclui Tomé na seção “livros heréticos” e sugere que “não deve ser
contado nem mesmo entre os livros espúrios, mas descartado como ímpio e
absurdo”.
Terceiro Golpe em Tomé.
O Evangelho de Tomé rejeitado
Apesar
dos melhores esforços de alguns, Tomé nem chega perto das Escrituras. Não foi
apoiado pela autoridade apostólica. Seu conteúdo contradiz os textos ortodoxos.
E a igreja nunca chegou perto de considerá-lo como autoridade. Ao contrário do
verdadeiro Tomé, temos boas razões para duvidar aqui.
Fonte:
https://crossexamined.org/why-the-gospel-of-thomas-isnt-in-the-bible/
Tradução:
Walson Sales
Recursos recomendados relacionados ao
tema:
Cold-Case
Christianity: A Homicide Detective Investigates the Claims of the Gospels by J.
Warner Wallace (Book)
The New Testament: Too Embarrassing to Be False by
Frank Turek (MP3) and (DVD)
Why We Know the New Testament Writers Told the Truth
by Frank Turek (mp4 Download)
The Top Ten Reasons We Know the NT Writers Told the
Truth mp3 by Frank Turek
Counter Culture Christian: Is the Bible True? by Frank
Turek (DVD)
Ryan Leasure é
mestre em artes pela Furman University e mestre em divindade pelo Southern
Baptist Theological Seminary. Ele atualmente serve como pastor na Grace Bible
Church em Moore, SC.
Nenhum comentário:
Postar um comentário