Por Dyego Alves
Introdução
A
destruição dos cananeus causada por Israel, é um tema que para ser interpretado
corretamente, se faz necessário que haja um exame cuidadoso das passagens que
estão relacionadas a esse episódio. Esse intento requer do leitor informações
culturais, históricas e dos textos no hebraico; sendo assim fica claro que deve
ser usado o método histórico-gramatical para entender esse acontecimento
corretamente. Muitos leitores por não obedecerem corretamente às regras de
interpretação do texto sagrado, acabam fazendo de acordo com sua visão de
mundo, ou aplicando o contexto da sociedade atual. Isso proporciona conclusões
que são desalinhadas com o real sentido e aplicabilidade do texto sagrado.
Na
passagem em apreço é visível que Deus tinha mandado Israel destruir Canaã. O
contexto do texto através das passagens bíblicas relacionadas ao mesmo
acontecimento, deixa claro como já foi dito no ponto anterior, que não houve
destruição de matança generalizada. Ademais, é importante avaliar o uso da
palavra “destruir” nessa narrativa, para que seja possível entender como de
fato aconteceu a destruição.
Em
Josué e no começo de Juízes é relatado sobre a entrada de Israel em Canaã, e o
que foi feito para que o povo de Deus se estabelecesse na localidade. Nessa
missão, Israel combateu alguns habitantes de Canaã; isso por que muitos já
tinham fugido com medo e outros professaram a fé em Deus. De forma que não
houve uma matança generalizada por parte de Israel. Por outro lado, os textos
bíblicos são enfáticos em mostrar expressões que indicam ter havido matança
total. Por se tratar de uma guerra é comum que os leitores leiam os textos com
uma ideia de que foi sim um massacre generalizado; pode ser observado na bíblia
as seguintes referências: Js 6.21,24; 8.24; 10.1,28; 11.12. Nessas passagens palavras
como: destruíram totalmente a fio de espada, tudo quanto haviam nela
queimaram-no a fogo, todos caídos a fio de espada até todos serem consumidos,
tinha destruído totalmente; devem ser interpretadas observando a linguagem de
guerra daqueles dias, e também os sentidos no original.
Muitos
ao lerem essas passagens e não terem essa percepção importante, acabam por
tropeçar e não degustar o real significado que a narrativa traz.
A guerra
entre Israel e Canaã
É
necessário iniciar os comentários dizendo que a forma que se sucedeu na guerra
com os cananeus não foi um parâmetro para as guerras de Israel e não era
mandamento do Senhor para ser cumprido. Não será achado na Torá a ordem
expressa de que Israel deveria fazer dessa forma em todas as guerras que
guerreasse. A maioria das batalhas que Israel lutou não ouve dizimação das
nações quando ele saiu vitorioso. Isso mostra que essa guerra com os cananeus
foi diferente das demais, com suas particularidades, isso claro, não feriu a
essência divina. Observe o que escreveu o estudioso do Antigo Testamento,
Christopher Wright (2008, p. 90):
Embora o
processo de colonização e reivindicação da terra tenha levado várias gerações,
a invasão e destruição das principais cidades fortificadas ocorreu em sua
maioria dentro de uma única geração. E foi este evento, confinado a uma geração,
que constituiu a conquista. Agora há muitas outras guerras registradas no
Antigo Testamento (como era de se esperar, pois cobre cerca de mil anos de
história humana, portanto, as guerras são bastante inevitáveis). Algumas dessas
outras guerras também tiveram a sanção de Deus - especialmente aquelas em que
Israel foi atacado por outras nações e lutou defensivamente para sobreviver.
Mas de forma alguma todas as guerras do Antigo Testamento são retratadas da
mesma forma que a conquista de Canaã. Algumas foram claramente condenadas como
as ações de reis orgulhosos e gananciosos ou rivais militares. É uma caricatura
do Antigo Testamento retratar Deus como constantemente em pé de guerra ou
retratar a conquista como simplesmente "típica" do resto da história.
Não é. O livro de Josué descreve um evento histórico chave, mas foi concluído.
Ele não deve ser esticado como se fosse o tema de fundo da música para o resto
do Antigo Testamento. Assim, a conquista de Canaã, como um evento histórico
único e limitado, nunca deveria se tornar um modelo de como todas as gerações
futuras deveriam se comportar para com seus inimigos contemporâneos (sejam as
futuras gerações de israelitas ou, ainda menos, de cristãos). The God I don’t understand : reflections on tough
questions of faith.
Do
exposto acima pode ser feito um comparativo entre as guerras de Israel, e
conceber a ideia de que a guerra com os cananeus foi um fato singular à nação
santa, estando restrito a uma geração específica, não sendo, portanto, o padrão
de Deus para todas as guerras. As guerras de Israel com os moabitas (2 Rs 3.24),
com a Assíria ( 2 Rs 19.35-37), com o Egito( Ex 14.27-28) e filisteus( 1 Sm
17.48-54); a título de exemplo, mostram que não houve execução generalizada, antes,
os povos das respectivas nações permaneceram vivas, tendo em vista que as ações
de Israel em guerra foram de cunho defensivo. Sendo assim, só teve a vida
ceifada aqueles que se dispuseram a atacar Israel; fica claro então que não é
estratégia de Deus enquanto comandante, o extermínio tirano de pessoas na
guerra, mas neutralizar os inimigos fazendo com que os tais não avançassem para
o território israelita, também não destruíssem a identidade do seu povo. Sobre
a estratégia defensiva de Israel nas guerras, Paul Copan (2016, p.209),
escreve:
Em
segundo lugar, uma série de batalhas que Israel travou no caminho para Canaã e
já dentro da terra foram defensivas: os Amalequitas atacaram os
israelitas enquanto estes viajavam (Ex 17.8); o Rei cananeu de Arade atacou e
capturou alguns israelitas (Nm 21.1); o Rei dos amorreus, Seom recusou as
propostas pacíficas de Israel e os atacou (Nm 21.21-32; Dt 3.1); Israel
respondeu a tentativa calculada dos midianitas para desviar Israel através da
idolatria e imoralidade ( Nm 31.2-3, cf. 25; 31.16); cinco reis atacaram
Gibeão, que Josué defendia por causa do pacto de paz de Israel com os
Gibeonitas ( Js 10.4). deus é um monstro moral
Diante dessa citação fica
evidenciado, mais uma vez que a estratégia oficial de Israel nas guerras não
era iniciar ataques, mas se defender de investidas dos oponentes, isso pelo
motivo de que o povo de Deus sempre preza pela harmonia entre os povos. Quando
não havia consenso no que diz respeito a questões diplomáticas, Israel se
apartava das nações para não perder sua comunhão com Deus, e por fim a última
razão de ser era lutar pela sua existência quando eram atacados, sendo tal
prática um direito natural que não mostra nenhum tipo de maldade, ou ausência
de princípios morais, mas uma luta por aquilo que é essencial: a vida.
Conclui-se então, que o ataque aos
Cananeus foi único, esse acontecimento será tratado no ponto seguinte.
A
estratégia de Israel ao atacar Canaã
Israel ao atacar Canaã, o fez com o
intuito de tomar o local e proteger sua identidade enquanto nação. Isso se deu
através de ofensivas direcionadas as cidades fortificadas ou aos centros
militares, governamentais e religiosos. A finalidade dos ataques era
enfraquecer a identidade das cidades-estados naquela localidade e não destruir
o povo em massa. Essa estratégia revela que os ataques não eram movidos por
ódio aos cananeus, o objetivo não era uma limpeza étnica, mas sim por questões
de se estabelecer no local e se resguardar de ataques. O cuidado de Deus era
que Israel não perdesse suas características, sua identidade de povo de Deus; para
que isso acontecesse, era necessário que Ele dissolvesse a cultura e política
cananeia com o intuito de somente haver no território escolhido por Deus, a
identidade da nação escolhida por Ele; o objetivo então era poupar o povo e retirar
aquela identidade cultural da Terra Prometida, para que os cananeus passassem a
servir a Yahweh. Em Josué 11.11-13,21-23 e Jz 1.19,24-25,27-36 é visto que não
houve destruição generalizada, alguns cananeus ficaram morando no território de
Israel cumprindo as designações dadas por Deus através do seu povo.
Pesquisadores do Antigo Testamento, comungam dessa mesma ideia; de que o
objetivo não era destruir pessoas, mas sim identidades culturais e políticas.
Nesse entendimento, John Walton (2017, p. 188) escreveu:
Deuteronômio
7:2 se refere, como demonstramos, à destruição de identidades, não de pessoas,
como indica a destruição de marcadores de identidade (ou seja, objetos de culto)
em Deuteronômio 7:5. A lista de coisas que os israelitas devem fazer com eles
consiste em derrubar seus altares, quebrar suas pedras sagradas, cortar seus
bastões de Cinzas e queimar seus ídolos no fogo; não inclui matando cada um
deles. De fato, se cada um deles fosse morto, a proibição em Deuteronômio 7:3
contra o casamento seria desnecessária. As referências a nações (Dt 7:2, 17,
22), povos (Dt 7:16, 19), e até mesmo sobreviventes (Dt 7:20), todas se referem
a identidades comunitárias, não a indivíduos (compare com Jz 1:25-26, onde o
sobrevivente preserva a identidade de sua comunidade através da construção de
uma cidade). Este é especialmente o caso dos reis (Dt 7,24), que são a
encarnação da identidade da comunidade que lideram (e é por isso que eles são
especificamente mortos durante as campanhas de Joshua) e cujos nomes
(identidade) são "apagados [d] de debaixo do céu" (Dt 7,24).
Na mesma
linha de pensamento, Champlin (2001, p.832) comenta:
Certa
Medida de Misericórdia. Jarchi e outros intérpretes judeus dizem que exceções a
uma matança total poderiam ocorrer se as pessoas se arrependessem, abandonando
suas práticas idólatras e convertendo-se à fé dos hebreus. As condições
impostas pelos filhos de Israel incluíam estes pontos: 1. Que renunciassem à
sua idolatria. 2. Que se sujeitassem à lei e à fé de Israel. 3. Que pagassem um
tributo anual. O trecho de II Crônicas 8.7 mostra que representantes dessas
nações foram poupados, embora tivessem de pagar tributo e se tornassem vassalos
de Israel. E isso sucedeu nos dias de Salomão. E assim ele não se sentiu na
obrigação de efetuar aniquilamento total dessas nações.
Para Walton e Champlin a ideia de
destruir a cultura, a identidade enquanto cidade-estado, foram ações de Deus
visando não atingir todas as pessoas; foi necessário apenas atacar as bases dos
cananeus naquele momento, a saber: centros religiosos, centros militares e
governamentais. A religião não tinha influência somente nos aspectos morais e
espirituais dos cananeus, igual importância havia no setor econômico, isso por
que a doutrina da sua religião professava que as divindades interviam na
agricultura na pecuária mandando chuvas para o povo desenvolver essas áreas. Os
centros militares por sua vez representam a força que a nação tem para se
defender, a capacidade que um povo tem para guerrear em favor de seus ideais. O
governo tinha sua atuação visando desenvolver a cidade-estado em todas as suas
esferas desde a educação até a parte tributária, o que consequentemente agia nas
questões militares e influenciava as questões religiosas humanamente falando.
Ao
desestruturar as áreas citadas acima ficou fácil para Israel se estabelecer no
território entregue a Abraão, e desenvolver seus ideais enquanto nação. Os
habitantes de Canaã que quiseram permanecer no território foram bem aceitos com
as condições impostas por Deus. A lei de Moisés explica bem sobre como Israel
devia tratar os estrangeiros e forasteiros, isso se dá pelo fato de que Israel
e seus filhos foram estrangeiros em terra estranha, no Egito, e por causa
também da sua missão enquanto nação escolhida por Deus para ser referência para
as demais nações e povos. Aqueles que quisessem viver a lei de Deus deveriam
então serem bem aceitos como servos de Deus independente da nacionalidade.
Observe os textos bíblicos que endossam a o tratamento a ser dado aos
não-israelitas nesse contexto (Lv 19.33-34; Dt 10.17-19; Lv 25.47a).
Esse ataque pode e deve ser avaliado
também sobre o vocabulário de guerra em sua época, bem como o significado das
palavras no texto original, observando se seu sentido de fato aponta para
execução generalizada. Isso será feito no tópico seguinte.
A
importância do texto nos originais
O ataque feito aos cananeus relatado
nos livros de Josué e Juízes revelam uma ação distinta da parte do Senhor. Isso
pode ser evidenciado através da análise de algumas palavras dos textos bíblicos
em sua língua original. Tal atividade se faz necessária, para que a
interpretação bíblica seja de forma correta, e também para evidenciar a ideia
de que Deus não age injustamente.
A palavra destruir tem um
significado importante para o tema em tela, visto que essa palavra caracteriza
o ataque ordenado por Deus com o intuito de ocupar a Terra Prometida. Nos
textos bíblicos do Antigo Testamento em Js 6.21,24; 8.24; 10.1,28; 11.12, Jz
1.17,25 é exposta a palavra destruição e seu sentido através de outras palavras.
O
significado do verbo destruir (hb. haram) e da palavra destruído (hb. herem
ou cherem) é: proibido para o uso, dedicar, devotar, consagrar e destruir
totalmente. Através desses significados é possível dizer que quando herem for
usado, não necessariamente significa dizer que haverá mortes, vidas ceifadas ou
coisas semelhantes. É mais viável dizer que de uma forma geral ocorrerá a
separação para uma respectiva finalidade. Nesse tanto, poderiam ser tomadas
medidas diferentes de uma execução. Nessa linha, Vine (2002, p. 391) diz:
e usado muitas vezes na Septuaginta,
onde traduz o termo hebraico cherem, “coisa dedicada a Deus” , quer: (a)
para Seu servico, como os sacrificios (Lv 27.28; cf. anathema, oferta
votiva, dadiva), quer: (b) para sua propria destruicao, como um idolo
(7.26), ou uma cidade (Js 6.17). Mais tarde, adquiriu o significado mais geral
de “o desfavor de Jeova” (por exemplo, Zc 14.11). vine p 391
A ideia de que poderiam ser ações
distintas de mortes é presente também no entendimento de Richard Hess (2008, p.
25) tradução nossa:
O acima
mencionado herem 'proibição' aparece em Dt 20,10-18 como uma diretriz para o
engajamento de Israel com os inimigos no território que Deus havia dado à
nação. Esta "proibição" exigiu a destruição total de todos os
guerreiros na batalha e (de alguma forma) a consagração a Javé de tudo o que
foi capturado.
John Walton (2017, p. 231,234)
descreve herem da seguinte maneira:
Ḥerem
significa "retirar de uso". Quando o objetivo do ḥerem era terra, o
propósito de decretar a proibição era perder o direito de administrar o
território e, em vez disso, entregar o local à divindade para uso próprio da
divindade....
O ḥerem
das cidades de Canaã foi projetado para remover o território do uso humano,
tanto pelos israelitas como pelos ocupantes anteriores, e para transformar o território
para que Deus o use. O ḥerem das comunidades cananéias serviu a um propósito
diferente; o objetivo era remover todas as identidades da terra que não eram a
identidade do povo do pacto.
As citações desses acadêmicos do
Antigo Testamento, efetivam a ideia de que não houve massacre generalizado, que
não foi movido por ódio racial ou algo semelhante que os israelitas agiram. O
significado da palavra destruir (hb. herem) é fator importante para que o
leitor possa compreender corretamente a aplicação do texto bíblico naquele
momento específico, tendo um significado distinto do que muitos pensam sobre o
agir de Deus em relação aos cananeus.
A
ação de Deus foi estratégica em relação a Canaã e aos seus habitantes. Tal ação
não se concentrou em destruir os habitantes daquela localidade, mas retirar
daquela localidade qualquer visão de mundo diferente da que ele iria
estabelecer em Canaã por meio do seu povo. Isso pode ser analisado através do
significado de herem no seu campo semântico, que é muito vasto, tendo
então uma gama de significados e aplicações para cada ocasião. Dentre as
palavras usadas para traduzir herem todas trazem um sentido em aberto,
sem delimitar uma ação específica para toda e qualquer situação. Para Canaã a
aplicação se deu em duas direções; a primeira buscava que todo o local fosse
totalmente do Senhor, a questão da terra em si era do Senhor; segundo tudo o
que fosse contrário a vontade de Deus deveria ser retirado da local
imediatamente, caso houvesse resistência deveriam ser tomadas medidas drásticas
de guerra até que os resistentes não estivessem mais no local, de maneira que
ou eles fugiriam ou então morreriam em combate. Então, a presença de
indicadores culturais naquele lugar não poderia existir, assim a estrutura
religiosa em Canaã foi aniquilada, seus sacerdotes que queriam permanecer, também
os combatentes e todo o exército, por fim a base política e seus líderes
sofreram as mesmas sanções.
O
valor da linguagem figurada
A
palavra “todos” é usada no modo de uma figura de linguagem denominada
“hipérbole”. Tanto em Josué como em Juízes o uso dessa linguagem é perceptível,
uma vez que é dito que todos foram exterminados em alguns textos, mais a frente
outro texto pertencente ao mesmo contexto do anterior externa que algo
diferente. Observe Js 11.21,15.13-14 e Jz 1.8,21, esses textos dentre muitos
outros em Josué e Juízes solidificam o que está sendo dito; ainda assim em
outros textos do Antigo Testamento a palavra “todo” e “tudo” recebem essa
abordagem. Para William Lasor (2003, p. 25):
O
equívoco sem dúvida é provocado pela falha na interpretação dos termos “todo” e
“tudo” em hebraico (bem como em outras línguas), de acordo com o contexto das
histórias. Por exemplo, na história das pragas no Egito, em que o granizo
“feriu[...] toda planta do campo e quebrou todas as árvores do campo” ( Êx
9.25), ainda sobrou vegetação para gafanhotos, que comeram “ tudo o que deixou
a chuva de pedras” (10.12). O ponto de vista dos editores também pode ter
influenciado o formato das histórias. A conquista de Josué foi vista como o
início do processo que culminaria na posse da terra, e a narrativa antecipou o
resultado final
.
Essa citação diz que há uma falha de
interpretação em relação a esses termos. Cada contexto histórico traz um
sentido nas palavras, e para os hebreus e outros povos isso foi aplicado. As
palavras “todo” e “tudo” não são empregadas literalmente em alguns momentos,
como em Êx 9.25,10.12 e também nos relatos da destruição das cidades em Canaã.
A retórica foi presente nesses relatos, pois tinha a finalidade de demonstrar o
poder de guerra de Israel, para tanto se faria necessário ser incisivo nas
palavras evidenciando que a nação vencera seus oponentes. O exagero
característico da hipérbole apossa o sentido das palavras em discussão, não é
possível o extermínio total dos cananeus e mais a frente os tais aparecerem em
outros relatos; por isso é mais coerente dizer que tais palavra tem sentido
figurado e não literal. Paul Copan (2016, p.198,199) encerra dizendo:
Como seus
antigos contemporâneos do Oriente Próximo, Josué usou uma linguagem
convencional retórica de guerra. Esta linguagem soa aos nossos ouvidos
exaltação e exagero. ...
A
retórica convencional de guerra de Josué era comum na época e é encontrada em
muitos outros relatos militares do Oriente Próximo antigo no segundo e primeiro
milênios a.C. A linguagem é tipicamente exagerada e cheia de bravata, que
escreve uma devastação total. O leitor habitual do Oriente Próximo antigo
reconheceria essa linguagem como hipérbole, os relatos como sendo verdade
literalmente.
Isso
pode ser associado a ideia de que não houve destruição generalizada e que
muitos não combatentes permaneceram com vida após Israel tomar o território.
Nem
todos morreram
Os cananeus não combatentes são
dignos de evidencia pois muito se pergunta sobre os tais. Na Bíblia é visto que
nem todos os cananeus morreram, houve dentre eles quem permanecesse vivo após
Israel ter se estabelecido em Canaã, isso leva a entender que os próprios não
foram executados ou atacados por Israel.
Em
Js 2.9-12 Raabe diz que eles estavam apavorados com o que Deus já tinha feito
pelo seu povo, assim ela pediu que a casa de seu pai fosse poupada. Raabe
também reconheceu o Deus de Israel como soberano em relação ao politeísmo cananeu,
isso foi o suficiente para que fosse preservada. O escritor aos Hebreus
evidencia que ela foi um exemplo de fé a ser seguido (Hb 11.31), Tiago em sua
epístola mostra que a mesma evidenciou a fé através das obras (Tg 2.25), Mateus
a menciona na genealogia de Cristo, de maneira que a cananéia foi importante no
plano de Deus para que o Messias nascesse.
Calebe teve importância ímpar para a
entrada de Israel na terra prometida. Em Nm 13 é visto que ele encorajou o povo
a entrar em Canaã, esteve presente na batalha em Js 6 e em Js 14.13 -14 recebeu
de Josué a terra de Hebrom e teve sua perseverança em seguir ao Senhor
evidenciada em todo Israel. Poderia citar os siquemitas, Ornã o jebuseu, Urias
o heteu e a mulher cananeia para fortalecer a ideia de que houveram cananeus
que se converteram a fé em Yahweh e não foram destruídos.
Conclusão
Apesar de ser um tema bastante
espinhoso fica claro que a relação entre Israel e Canaã não se deu da forma
correta, apenas e somente pelo motivo de que os tais quiseram viver
imperiosamente uma vida de pecado, e que toda e qualquer ação da parte de Deus
relacionada a esse povo não foi algo digno de reprovação, antes só realça o
quanto Deus é o maior ser que se possa conceber.
REFERÊNCIAS
Copan, Paul. Deus é um monstro moral? Entendendo Deus no
contexto do Antigo Testamento. (Tradução Walson Sales). Maceió: Editora Sal
Cultural,2016.
Champlin, Russell Norman. O Antigo
Testamento interpretado : versículo por versículo: Deuteronômio, Josué,
Juizes, Rute, I Samuel, II Samuel, I Reis, volume2. 2 ed. São Paulo:
Hagnos, 2001.
Lasor, William. Introdução
ao Antigo Testamento. (Tradução: Lucy Yamakami). São Paulo: Vida Nova,
1999.
Vine, W. F.; Unger,
Merril F.; White Jr., William. Dicionário Vine: O
significado exegético das palavras do Antigo e do Novo Testamento.
(Tradução: Luís Aron de Macedo). Rio de Janeiro: Cpad, 2002.
Wright, Christopher J.
H. The God I don’t understand: reflections on tough questions of faith. Michigan:
Zondervan, 2008.
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