segunda-feira, 1 de agosto de 2022

A DESTRUIÇÃO DOS CANANEUS [PARTE FINAL]

  

Por Dyego Alves

 

Introdução

 

A destruição dos cananeus causada por Israel, é um tema que para ser interpretado corretamente, se faz necessário que haja um exame cuidadoso das passagens que estão relacionadas a esse episódio. Esse intento requer do leitor informações culturais, históricas e dos textos no hebraico; sendo assim fica claro que deve ser usado o método histórico-gramatical para entender esse acontecimento corretamente. Muitos leitores por não obedecerem corretamente às regras de interpretação do texto sagrado, acabam fazendo de acordo com sua visão de mundo, ou aplicando o contexto da sociedade atual. Isso proporciona conclusões que são desalinhadas com o real sentido e aplicabilidade do texto sagrado.

Na passagem em apreço é visível que Deus tinha mandado Israel destruir Canaã. O contexto do texto através das passagens bíblicas relacionadas ao mesmo acontecimento, deixa claro como já foi dito no ponto anterior, que não houve destruição de matança generalizada. Ademais, é importante avaliar o uso da palavra “destruir” nessa narrativa, para que seja possível entender como de fato aconteceu a destruição.

Em Josué e no começo de Juízes é relatado sobre a entrada de Israel em Canaã, e o que foi feito para que o povo de Deus se estabelecesse na localidade. Nessa missão, Israel combateu alguns habitantes de Canaã; isso por que muitos já tinham fugido com medo e outros professaram a fé em Deus. De forma que não houve uma matança generalizada por parte de Israel. Por outro lado, os textos bíblicos são enfáticos em mostrar expressões que indicam ter havido matança total. Por se tratar de uma guerra é comum que os leitores leiam os textos com uma ideia de que foi sim um massacre generalizado; pode ser observado na bíblia as seguintes referências: Js 6.21,24; 8.24; 10.1,28; 11.12. Nessas passagens palavras como: destruíram totalmente a fio de espada, tudo quanto haviam nela queimaram-no a fogo, todos caídos a fio de espada até todos serem consumidos, tinha destruído totalmente; devem ser interpretadas observando a linguagem de guerra daqueles dias, e também os sentidos no original.

Muitos ao lerem essas passagens e não terem essa percepção importante, acabam por tropeçar e não degustar o real significado que a narrativa traz.

 

A guerra entre Israel e Canaã

 

É necessário iniciar os comentários dizendo que a forma que se sucedeu na guerra com os cananeus não foi um parâmetro para as guerras de Israel e não era mandamento do Senhor para ser cumprido. Não será achado na Torá a ordem expressa de que Israel deveria fazer dessa forma em todas as guerras que guerreasse. A maioria das batalhas que Israel lutou não ouve dizimação das nações quando ele saiu vitorioso. Isso mostra que essa guerra com os cananeus foi diferente das demais, com suas particularidades, isso claro, não feriu a essência divina. Observe o que escreveu o estudioso do Antigo Testamento, Christopher Wright (2008, p. 90):


Embora o processo de colonização e reivindicação da terra tenha levado várias gerações, a invasão e destruição das principais cidades fortificadas ocorreu em sua maioria dentro de uma única geração. E foi este evento, confinado a uma geração, que constituiu a conquista. Agora há muitas outras guerras registradas no Antigo Testamento (como era de se esperar, pois cobre cerca de mil anos de história humana, portanto, as guerras são bastante inevitáveis). Algumas dessas outras guerras também tiveram a sanção de Deus - especialmente aquelas em que Israel foi atacado por outras nações e lutou defensivamente para sobreviver. Mas de forma alguma todas as guerras do Antigo Testamento são retratadas da mesma forma que a conquista de Canaã. Algumas foram claramente condenadas como as ações de reis orgulhosos e gananciosos ou rivais militares. É uma caricatura do Antigo Testamento retratar Deus como constantemente em pé de guerra ou retratar a conquista como simplesmente "típica" do resto da história. Não é. O livro de Josué descreve um evento histórico chave, mas foi concluído. Ele não deve ser esticado como se fosse o tema de fundo da música para o resto do Antigo Testamento. Assim, a conquista de Canaã, como um evento histórico único e limitado, nunca deveria se tornar um modelo de como todas as gerações futuras deveriam se comportar para com seus inimigos contemporâneos (sejam as futuras gerações de israelitas ou, ainda menos, de cristãos).  The God I don’t understand : reflections on tough questions of faith.

 

Do exposto acima pode ser feito um comparativo entre as guerras de Israel, e conceber a ideia de que a guerra com os cananeus foi um fato singular à nação santa, estando restrito a uma geração específica, não sendo, portanto, o padrão de Deus para todas as guerras. As guerras de Israel com os moabitas (2 Rs 3.24), com a Assíria ( 2 Rs 19.35-37), com o Egito( Ex 14.27-28) e filisteus( 1 Sm 17.48-54); a título de exemplo, mostram que não houve execução generalizada, antes, os povos das respectivas nações permaneceram vivas, tendo em vista que as ações de Israel em guerra foram de cunho defensivo. Sendo assim, só teve a vida ceifada aqueles que se dispuseram a atacar Israel; fica claro então que não é estratégia de Deus enquanto comandante, o extermínio tirano de pessoas na guerra, mas neutralizar os inimigos fazendo com que os tais não avançassem para o território israelita, também não destruíssem a identidade do seu povo. Sobre a estratégia defensiva de Israel nas guerras, Paul Copan (2016, p.209), escreve:


Em segundo lugar, uma série de batalhas que Israel travou no caminho para Canaã e já dentro da terra foram defensivas: os Amalequitas atacaram os israelitas enquanto estes viajavam (Ex 17.8); o Rei cananeu de Arade atacou e capturou alguns israelitas (Nm 21.1); o Rei dos amorreus, Seom recusou as propostas pacíficas de Israel e os atacou (Nm 21.21-32; Dt 3.1); Israel respondeu a tentativa calculada dos midianitas para desviar Israel através da idolatria e imoralidade ( Nm 31.2-3, cf. 25; 31.16); cinco reis atacaram Gibeão, que Josué defendia por causa do pacto de paz de Israel com os Gibeonitas ( Js 10.4). deus é um monstro moral

 

            Diante dessa citação fica evidenciado, mais uma vez que a estratégia oficial de Israel nas guerras não era iniciar ataques, mas se defender de investidas dos oponentes, isso pelo motivo de que o povo de Deus sempre preza pela harmonia entre os povos. Quando não havia consenso no que diz respeito a questões diplomáticas, Israel se apartava das nações para não perder sua comunhão com Deus, e por fim a última razão de ser era lutar pela sua existência quando eram atacados, sendo tal prática um direito natural que não mostra nenhum tipo de maldade, ou ausência de princípios morais, mas uma luta por aquilo que é essencial: a vida.

            Conclui-se então, que o ataque aos Cananeus foi único, esse acontecimento será tratado no ponto seguinte.

 

A estratégia de Israel ao atacar Canaã


            Israel ao atacar Canaã, o fez com o intuito de tomar o local e proteger sua identidade enquanto nação. Isso se deu através de ofensivas direcionadas as cidades fortificadas ou aos centros militares, governamentais e religiosos. A finalidade dos ataques era enfraquecer a identidade das cidades-estados naquela localidade e não destruir o povo em massa. Essa estratégia revela que os ataques não eram movidos por ódio aos cananeus, o objetivo não era uma limpeza étnica, mas sim por questões de se estabelecer no local e se resguardar de ataques. O cuidado de Deus era que Israel não perdesse suas características, sua identidade de povo de Deus; para que isso acontecesse, era necessário que Ele dissolvesse a cultura e política cananeia com o intuito de somente haver no território escolhido por Deus, a identidade da nação escolhida por Ele; o objetivo então era poupar o povo e retirar aquela identidade cultural da Terra Prometida, para que os cananeus passassem a servir a Yahweh. Em Josué 11.11-13,21-23 e Jz 1.19,24-25,27-36 é visto que não houve destruição generalizada, alguns cananeus ficaram morando no território de Israel cumprindo as designações dadas por Deus através do seu povo.

              Pesquisadores do Antigo Testamento, comungam dessa mesma ideia; de que o objetivo não era destruir pessoas, mas sim identidades culturais e políticas. Nesse entendimento, John Walton (2017, p. 188) escreveu:


Deuteronômio 7:2 se refere, como demonstramos, à destruição de identidades, não de pessoas, como indica a destruição de marcadores de identidade (ou seja, objetos de culto) em Deuteronômio 7:5. A lista de coisas que os israelitas devem fazer com eles consiste em derrubar seus altares, quebrar suas pedras sagradas, cortar seus bastões de Cinzas e queimar seus ídolos no fogo; não inclui matando cada um deles. De fato, se cada um deles fosse morto, a proibição em Deuteronômio 7:3 contra o casamento seria desnecessária. As referências a nações (Dt 7:2, 17, 22), povos (Dt 7:16, 19), e até mesmo sobreviventes (Dt 7:20), todas se referem a identidades comunitárias, não a indivíduos (compare com Jz 1:25-26, onde o sobrevivente preserva a identidade de sua comunidade através da construção de uma cidade). Este é especialmente o caso dos reis (Dt 7,24), que são a encarnação da identidade da comunidade que lideram (e é por isso que eles são especificamente mortos durante as campanhas de Joshua) e cujos nomes (identidade) são "apagados [d] de debaixo do céu" (Dt 7,24).

 

Na mesma linha de pensamento, Champlin (2001, p.832) comenta:   

 

Certa Medida de Misericórdia. Jarchi e outros intérpretes judeus dizem que exceções a uma matança total poderiam ocorrer se as pessoas se arrependessem, abandonando suas práticas idólatras e convertendo-se à fé dos hebreus. As condições impostas pelos filhos de Israel incluíam estes pontos: 1. Que renunciassem à sua idolatria. 2. Que se sujeitassem à lei e à fé de Israel. 3. Que pagassem um tributo anual. O trecho de II Crônicas 8.7 mostra que representantes dessas nações foram poupados, embora tivessem de pagar tributo e se tornassem vassalos de Israel. E isso sucedeu nos dias de Salomão. E assim ele não se sentiu na obrigação de efetuar aniquilamento total dessas nações.

 

            Para Walton e Champlin a ideia de destruir a cultura, a identidade enquanto cidade-estado, foram ações de Deus visando não atingir todas as pessoas; foi necessário apenas atacar as bases dos cananeus naquele momento, a saber: centros religiosos, centros militares e governamentais. A religião não tinha influência somente nos aspectos morais e espirituais dos cananeus, igual importância havia no setor econômico, isso por que a doutrina da sua religião professava que as divindades interviam na agricultura na pecuária mandando chuvas para o povo desenvolver essas áreas. Os centros militares por sua vez representam a força que a nação tem para se defender, a capacidade que um povo tem para guerrear em favor de seus ideais. O governo tinha sua atuação visando desenvolver a cidade-estado em todas as suas esferas desde a educação até a parte tributária, o que consequentemente agia nas questões militares e influenciava as questões religiosas humanamente falando.

Ao desestruturar as áreas citadas acima ficou fácil para Israel se estabelecer no território entregue a Abraão, e desenvolver seus ideais enquanto nação. Os habitantes de Canaã que quiseram permanecer no território foram bem aceitos com as condições impostas por Deus. A lei de Moisés explica bem sobre como Israel devia tratar os estrangeiros e forasteiros, isso se dá pelo fato de que Israel e seus filhos foram estrangeiros em terra estranha, no Egito, e por causa também da sua missão enquanto nação escolhida por Deus para ser referência para as demais nações e povos. Aqueles que quisessem viver a lei de Deus deveriam então serem bem aceitos como servos de Deus independente da nacionalidade. Observe os textos bíblicos que endossam a o tratamento a ser dado aos não-israelitas nesse contexto (Lv 19.33-34; Dt 10.17-19; Lv 25.47a).

            Esse ataque pode e deve ser avaliado também sobre o vocabulário de guerra em sua época, bem como o significado das palavras no texto original, observando se seu sentido de fato aponta para execução generalizada. Isso será feito no tópico seguinte.

 

A importância do texto nos originais

 

            O ataque feito aos cananeus relatado nos livros de Josué e Juízes revelam uma ação distinta da parte do Senhor. Isso pode ser evidenciado através da análise de algumas palavras dos textos bíblicos em sua língua original. Tal atividade se faz necessária, para que a interpretação bíblica seja de forma correta, e também para evidenciar a ideia de que Deus não age injustamente.

            A palavra destruir tem um significado importante para o tema em tela, visto que essa palavra caracteriza o ataque ordenado por Deus com o intuito de ocupar a Terra Prometida. Nos textos bíblicos do Antigo Testamento em Js 6.21,24; 8.24; 10.1,28; 11.12, Jz 1.17,25 é exposta a palavra destruição e seu sentido através de outras palavras.

O significado do verbo destruir (hb. haram) e da palavra destruído (hb. herem ou cherem) é: proibido para o uso, dedicar, devotar, consagrar e destruir totalmente. Através desses significados é possível dizer que quando herem for usado, não necessariamente significa dizer que haverá mortes, vidas ceifadas ou coisas semelhantes. É mais viável dizer que de uma forma geral ocorrerá a separação para uma respectiva finalidade. Nesse tanto, poderiam ser tomadas medidas diferentes de uma execução. Nessa linha, Vine (2002, p. 391) diz:

 

e usado muitas vezes na Septuaginta, onde traduz o termo hebraico cherem, “coisa dedicada a Deus” , quer: (a) para Seu servico, como os sacrificios (Lv 27.28; cf. anathema, oferta votiva, dadiva), quer: (b) para sua propria destruicao, como um idolo (7.26), ou uma cidade (Js 6.17). Mais tarde, adquiriu o significado mais geral de “o desfavor de Jeova” (por exemplo, Zc 14.11). vine p 391

  

            A ideia de que poderiam ser ações distintas de mortes é presente também no entendimento de Richard Hess (2008, p. 25) tradução nossa:

 

O acima mencionado herem 'proibição' aparece em Dt 20,10-18 como uma diretriz para o engajamento de Israel com os inimigos no território que Deus havia dado à nação. Esta "proibição" exigiu a destruição total de todos os guerreiros na batalha e (de alguma forma) a consagração a Javé de tudo o que foi capturado.

                       

John Walton (2017, p. 231,234) descreve herem da seguinte maneira:

 

Ḥerem significa "retirar de uso". Quando o objetivo do ḥerem era terra, o propósito de decretar a proibição era perder o direito de administrar o território e, em vez disso, entregar o local à divindade para uso próprio da divindade....

O ḥerem das cidades de Canaã foi projetado para remover o território do uso humano, tanto pelos israelitas como pelos ocupantes anteriores, e para transformar o território para que Deus o use. O ḥerem das comunidades cananéias serviu a um propósito diferente; o objetivo era remover todas as identidades da terra que não eram a identidade do povo do pacto.

 

            As citações desses acadêmicos do Antigo Testamento, efetivam a ideia de que não houve massacre generalizado, que não foi movido por ódio racial ou algo semelhante que os israelitas agiram. O significado da palavra destruir (hb. herem) é fator importante para que o leitor possa compreender corretamente a aplicação do texto bíblico naquele momento específico, tendo um significado distinto do que muitos pensam sobre o agir de Deus em relação aos cananeus.

            A ação de Deus foi estratégica em relação a Canaã e aos seus habitantes. Tal ação não se concentrou em destruir os habitantes daquela localidade, mas retirar daquela localidade qualquer visão de mundo diferente da que ele iria estabelecer em Canaã por meio do seu povo. Isso pode ser analisado através do significado de herem no seu campo semântico, que é muito vasto, tendo então uma gama de significados e aplicações para cada ocasião. Dentre as palavras usadas para traduzir herem todas trazem um sentido em aberto, sem delimitar uma ação específica para toda e qualquer situação. Para Canaã a aplicação se deu em duas direções; a primeira buscava que todo o local fosse totalmente do Senhor, a questão da terra em si era do Senhor; segundo tudo o que fosse contrário a vontade de Deus deveria ser retirado da local imediatamente, caso houvesse resistência deveriam ser tomadas medidas drásticas de guerra até que os resistentes não estivessem mais no local, de maneira que ou eles fugiriam ou então morreriam em combate. Então, a presença de indicadores culturais naquele lugar não poderia existir, assim a estrutura religiosa em Canaã foi aniquilada, seus sacerdotes que queriam permanecer, também os combatentes e todo o exército, por fim a base política e seus líderes sofreram as mesmas sanções.

 

O valor da linguagem figurada

           

A palavra “todos” é usada no modo de uma figura de linguagem denominada “hipérbole”. Tanto em Josué como em Juízes o uso dessa linguagem é perceptível, uma vez que é dito que todos foram exterminados em alguns textos, mais a frente outro texto pertencente ao mesmo contexto do anterior externa que algo diferente. Observe Js 11.21,15.13-14 e Jz 1.8,21, esses textos dentre muitos outros em Josué e Juízes solidificam o que está sendo dito; ainda assim em outros textos do Antigo Testamento a palavra “todo” e “tudo” recebem essa abordagem. Para William Lasor (2003, p. 25):

 

O equívoco sem dúvida é provocado pela falha na interpretação dos termos “todo” e “tudo” em hebraico (bem como em outras línguas), de acordo com o contexto das histórias. Por exemplo, na história das pragas no Egito, em que o granizo “feriu[...] toda planta do campo e quebrou todas as árvores do campo” ( Êx 9.25), ainda sobrou vegetação para gafanhotos, que comeram “ tudo o que deixou a chuva de pedras” (10.12). O ponto de vista dos editores também pode ter influenciado o formato das histórias. A conquista de Josué foi vista como o início do processo que culminaria na posse da terra, e a narrativa antecipou o resultado final

.

            Essa citação diz que há uma falha de interpretação em relação a esses termos. Cada contexto histórico traz um sentido nas palavras, e para os hebreus e outros povos isso foi aplicado. As palavras “todo” e “tudo” não são empregadas literalmente em alguns momentos, como em Êx 9.25,10.12 e também nos relatos da destruição das cidades em Canaã. A retórica foi presente nesses relatos, pois tinha a finalidade de demonstrar o poder de guerra de Israel, para tanto se faria necessário ser incisivo nas palavras evidenciando que a nação vencera seus oponentes. O exagero característico da hipérbole apossa o sentido das palavras em discussão, não é possível o extermínio total dos cananeus e mais a frente os tais aparecerem em outros relatos; por isso é mais coerente dizer que tais palavra tem sentido figurado e não literal. Paul Copan (2016, p.198,199) encerra dizendo:


Como seus antigos contemporâneos do Oriente Próximo, Josué usou uma linguagem convencional retórica de guerra. Esta linguagem soa aos nossos ouvidos exaltação e exagero. ...

A retórica convencional de guerra de Josué era comum na época e é encontrada em muitos outros relatos militares do Oriente Próximo antigo no segundo e primeiro milênios a.C. A linguagem é tipicamente exagerada e cheia de bravata, que escreve uma devastação total. O leitor habitual do Oriente Próximo antigo reconheceria essa linguagem como hipérbole, os relatos como sendo verdade literalmente.

    

 

Isso pode ser associado a ideia de que não houve destruição generalizada e que muitos não combatentes permaneceram com vida após Israel tomar o território.

 

Nem todos morreram

 

            Os cananeus não combatentes são dignos de evidencia pois muito se pergunta sobre os tais. Na Bíblia é visto que nem todos os cananeus morreram, houve dentre eles quem permanecesse vivo após Israel ter se estabelecido em Canaã, isso leva a entender que os próprios não foram executados ou atacados por Israel.

Em Js 2.9-12 Raabe diz que eles estavam apavorados com o que Deus já tinha feito pelo seu povo, assim ela pediu que a casa de seu pai fosse poupada. Raabe também reconheceu o Deus de Israel como soberano em relação ao politeísmo cananeu, isso foi o suficiente para que fosse preservada. O escritor aos Hebreus evidencia que ela foi um exemplo de fé a ser seguido (Hb 11.31), Tiago em sua epístola mostra que a mesma evidenciou a fé através das obras (Tg 2.25), Mateus a menciona na genealogia de Cristo, de maneira que a cananéia foi importante no plano de Deus para que o Messias nascesse.

            Calebe teve importância ímpar para a entrada de Israel na terra prometida. Em Nm 13 é visto que ele encorajou o povo a entrar em Canaã, esteve presente na batalha em Js 6 e em Js 14.13 -14 recebeu de Josué a terra de Hebrom e teve sua perseverança em seguir ao Senhor evidenciada em todo Israel. Poderia citar os siquemitas, Ornã o jebuseu, Urias o heteu e a mulher cananeia para fortalecer a ideia de que houveram cananeus que se converteram a fé em Yahweh e não foram destruídos.

 

Conclusão


            Apesar de ser um tema bastante espinhoso fica claro que a relação entre Israel e Canaã não se deu da forma correta, apenas e somente pelo motivo de que os tais quiseram viver imperiosamente uma vida de pecado, e que toda e qualquer ação da parte de Deus relacionada a esse povo não foi algo digno de reprovação, antes só realça o quanto Deus é o maior ser que se possa conceber.

 

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REFERÊNCIAS

Copan, Paul. Deus é um monstro moral? Entendendo Deus no contexto do Antigo Testamento. (Tradução Walson Sales). Maceió: Editora Sal Cultural,2016.

Champlin, Russell Norman. O Antigo Testamento interpretado : versículo por versículo: Deuteronômio, Josué, Juizes, Rute, I Samuel, II Samuel, I Reis, volume2. 2 ed. São Paulo: Hagnos, 2001.

 Hess, Richard S; Martens, E. A. . War in the Bible and terrorism in the twenty-first century. Indiana: Eisenbrauns,2008.

Lasor, William. Introdução ao Antigo Testamento. (Tradução: Lucy Yamakami). São Paulo: Vida Nova, 1999.

Vine, W. F.; Unger, Merril F.; White Jr., William. Dicionário Vine: O significado exegético das palavras do Antigo e do Novo Testamento. (Tradução: Luís Aron de Macedo). Rio de Janeiro: Cpad, 2002.

Wright, Christopher J. H. The God I don’t understand: reflections on tough questions of faith. Michigan: Zondervan, 2008.

Walton, Jonh H.; Walton, J. Harvey. The Lost World of the Israelite Conquest: Covenant, Retribution, and the Fate of the Canaanites. Ilinois: Intervarsity Press, 2017.

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