Paul J. Achtemeier
O problema da rejeição do plano de Deus para a redenção através de Jesus Cristo abrange mais do que simplesmente o problema do que deve acontecer a Israel, o povo eleito. O que está em questão é a certeza da graça de Deus para qualquer um que nele confia, porque o que está sendo discutido nada mais é do que a confiabilidade da palavra de Deus e sua capacidade de realizar os Seus planos. A confiabilidade dessa palavra tinha sido celebrada em Is 55.10, 11. Todavia, se a bênção prometida de Deus a Abraão e aos seus descendentes (veja Gn 12.23), uma bênção que Paulo sabia ter sido cumprida em Cristo (veja Rm 4.11, 12), é rejeitada por esses descendentes, a saber, Israel, então a palavra redentora de Deus foi anulada. E se a palavra de Deus pode ser anulada pela rejeição de Israel, então que segurança temos que a palavra redentora de Deus, expressa em Cristo, não pode da mesma forma finalmente falhar para nós? Essa é a questão que Paulo está abordando enquanto lamenta a rejeição de Israel nos versículos iniciais do capítulo 9.
Antes de analisarmos o argumento de Paulo em mais detalhes, há dois pontos adicionais que devem ser mantidos em mente se quisermos entender o capítulo 9 e seu lugar nesta terceira parte da carta de Paulo a Roma. O primeiro é o fato de que Paulo está abordando o problema de Israel como povo eleito e sua relação com Cristo, presente e futura. Paulo não está abordando o destino de alguns indivíduos – um cristão moderno, por exemplo – que pode, de tempos em tempos, duvidar da palavra redentora de Deus em Jesus Cristo. O contexto desta discussão, a saber, o destino de Israel como povo eleito, deve ser realçado, especialmente nos versículos 6-13 e 24-29, ou o que entendermos destes capítulos será muito diferente do que Paulo quer dizer. Devemos também manter em mente que Paulo não abandonou sua convicção nestes versículos de que a atividade de Deus é finalmente motivada pela graça. Esse ponto, que Paulo enfatiza nos versículos 22-24, não deve ser esquecido quando lermos o versículo 17, ou, mais uma vez, o que entendermos estará distante do que Paulo está dizendo.
O segundo ponto do qual devemos estar cientes enquanto consideramos estes versículos é o fato de que Paulo está falando aqui de predestinação e não de predeterminismo. A ideia filosófica do predeterminismo significa que todo ato e pensamento que uma pessoa tem é ditado por forças além de seu controle. Um autômato programado em uma fábrica é predeterminado. Seus próprios atos são ditados pelo programa de computador ao qual ele responde. Isso não é o que Paulo está falando quando discute a escolha de Deus do destino para os povos no capítulo 9 (note novamente, de povos, não de indivíduos). O predeterminismo não tem lugar para qualquer ato livre. A predestinação, por outro lado, simplesmente estabelece o resultado final de um processo, sem determinar a rota pela qual ele pode ser alcançado. Um passeio de automóvel a uma outra cidade está predestinado: O objetivo da viagem está estabelecido, embora a rota real possa variar dependendo das escolhas feitas em resposta à estrada e às condições climáticas, por exemplo. Paulo no capítulo 9 está falando de predestinação, não de predeterminismo. Teremos mais a dizer sobre isso quando chegarmos nos versículos 14-29.
Fonte: Romans, 154, 155
Tradução: Paulo Cesar Antunes
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