Se Jesus é o único caminho, como Deus vai julgar os que nunca ouviram o evangelho?
Resolvi abordar esse tema por causa da publicação que um amigo fez no Facebook sobre o perigo do inclusivismo. Contudo, quando fui avaliar a citação que ele fez de um teólogo pentescostal sobre a definição de inclusivismo, percebi que a suposta definição não corresponde ao conceito de inclusivismo propriamente dito, mas o conceito que ele apresentou representa mais o pluralismo religioso e não o inclusivismo. Aqui fica um grande alerta para nós: quando formos debater ideias, é obrigatório definir os termos corretamente por diversos motivos, primeiro, para não deturparmos o conceito abordado, criando um argumento do espantalho; segundo, para sermos coerentes e fiéis aos nossos princípios e comprometimento com a verdade e, terceiro, para não demonizarmos os cristãos que são inclusivistas. Vamos observar a citação:
Menzies também destaca um movimento preocupante em direção aos inclusivismo entre alguns teólogos pentecostais. O que é inclusivismo? É, nas palavras de seus defensores pentecostais: “As religiões não são acidentes da história nem usurpações da providência divina, mas são, de várias maneiras, instrumentos do Espírito Santo realizando os propósitos divinos no mundo e os não evangelizados, se forem salvos, são salvos por meio da obra de Cristo pelo Espírito (mesmo se mediados por meio das crenças e práticas disponíveis a eles)”. O que preocupa Menzies, e o que também me preocupa, é que o inclusivismo é, em última análise, incompatível com a missão da igreja em Marcos 16: 15. É incompatível com o evangelho.
O que o autor do livro faz? Mistura Inclusivismo com Pluralismo. O Pluralismo Religioso defende que todas as religiões levam a Deus, o que é flagrantemente falso. Para sermos fiéis ao conceito, o inclusivismo NÃO DEFENDE que todas as religiões levam a Deus, pois a lei da não contradição na lógica estabelece que as afirmações que se contradizem não podem ser verdadeiras no mesmo sentido, direção ou intensidade; DEUS NÃO usa as religiões como meio da providência para alcançar os não evangelizados no inclusivismo; o inclusivismo NÃO É INCOMPATÍVEL com a missão da igreja; Por fim, sim é verdade que no inclusivismo, se alguém for salvo entre os não evangelizados, essa pessoa será alcançada pela obra meritória de Cristo. Mas em que sentido? Qual o problema que os inclusivistas tentam resolver? Eles tentam resolver o problema dos que nunca escutaram o evangelho. Deixemos o inclusivismo falar por si mesmo.
A primeira coisa que diria em primeiro lugar, e o inclusivismo defende, é que não existe solução para o problema do pecado humano a parte da morte expiatória de Cristo. Está muito claro no N.T. que todos caíram, estão separados de Deus, são moralmente culpados diante de Deus e precisam do perdão dos pecados e a morte expiatória de Jesus na cruz é a solução de Deus para o pecado humano, então, a parte da cruz de Cristo não existe nenhuma provisão para a expiação do pecado humano, nem para a reconciliação.
A garantia de que o sacrifício de Jesus na cruz é a solução para o pecado humano é a ressurreição de Jesus. O fato de Deus ressuscitar Jesus dos mortos, vindicou publicamente, de forma inequívoca, todas as blasfêmias pelas quais Jesus foi crucificado. Então, é a ressurreição de Jesus que nos faz acreditar na eficácia do sacrifício de Jesus na cruz e é por isso que apenas Cristo, e apenas ele, é o meio pelo qual as pessoas podem receber o perdão dos pecados e a salvação e não a crença no conteúdo doutrinário de outras religiões.
Agora, isso levanta outras questões importantes e polêmicas, questões teológicas profundas e difíceis como, por exemplo, o problema daqueles que nunca ouviram o evangelho, ou seja, como eles serão julgados de forma justa? Pois seria injusto Deus os julgar e condenar por não terem crido em Jesus, apesar de nunca terem ouvido o evangelho, e Deus é justo, então o que você faria com aquelas pessoas? Então, o inclusivista crê e defende que a resposta do N.T. é que Deus julgará as pessoas com base da luz que receberam, pois aqueles que receberam apenas a luz da revelação geral – revelação natural – na natureza e na consciência, serão julgados sobre a base da resposta que deram a essa revelação, e aqueles que receberam a luz da revelação especial e do evangelho, serão julgados sobre a base da resposta que darão a essa revelação. Agora, isso não significa que essas pessoas serão salvas a parte da morte expiatória de Cristo, isso apenas significa que uma pessoa que nunca ouviu o evangelho pode ser beneficiária da morte expiatória de Cristo, mesmo sem ter uma consciência ou conhecimento de Cristo. Essa pessoa seria como alguém que descobre de repente que tem um benfeitor ou que herdou uma grande fortuna de herança de um tio que ele não tinha consciência que existia. Portanto, uma pessoa pode ser beneficiária da morte expiatória de Cristo sem uma consciência ou conhecimento de Cristo, segundo o inclusivismo. Existe paralelo bíblico para fundamentar essa afirmação ousada? Os inclusivistas pensam que sim.
Os inclusivistas afirmam que existem certas pessoas no A.T., como por exemplo, Jó, que não tinha nenhum conhecimento de Cristo, ele nem mesmo era israelita, ele nem mesmo era da linhagem abraâmica e está bem claro que Jó teve um relacionamento pessoal e real com Deus. Então, dizem os inclusivistas, parece que Deus vai julgar as pessoas com base na resposta que eles darão a luz que receberam, e que qualquer pessoa que for salva, só será salva por meio do sacrifício de Cristo. Perceba que neste contexto, o particularismo cristão é oposto ao pluralismo religioso e não necessariamente ao inclusivismo e o inclusivismo tenta responder o motivo pelo qual Jesus é o único meio de salvação (particularismo cristão) e como Deus não é injusto ao julgar as pessoas QUE NUNCA OUVIRAM FALAR DE CRISTO. Então, a salvação está disponível a todos, não há injustiça da parte de Deus nesse julgamento e a missão da igreja está mantida. Onde a igreja falhar na missão de evangelizar o mundo não evangelizado, Deus julgará os não evangelizados com base na resposta que darão a luz natural que receberam (como no exemplo de Jó - na revelação geral e na consciência e não nas outras religiões) e julgará (no que diz respeito aos galardões) os que receberam a Grande Comissão e a negligenciaram por completo.
E sobre Romanos 10.9 que diz que as pessoas têm que confessar a Cristo para serem salvas? O inclusivismo afirma que essa é uma condição suficiente e não uma condição estritamente necessária para a salvação, ou seja, se você confessar a Cristo como Senhor e crer que Deus ressuscitou a Jesus dentre os mortos, você será salvo, mas Jó não fez isso, Moisés não fez isso, Nabucodonossor não fez isso, Melquesedeque não fez isso, então essa não é uma condição necessária com respeito aos que nunca ouviram falar sobre Cristo e isso segundo o inclusivismo, mas seria apenas uma condição suficiente para a salvação.
Apesar de eu, Walson Sales, reconhecer que o inclusivismo tem um ponto importante, estou mais inclinado ao exclusivismo e ao particularismo cristão, ou seja, é a missão precípua da igreja, evangelizar o mundo inteiro e isso traz um peso enorme para aqueles que exercem autoridade para enviar missionários aos campos não evangelizados e não o fazem. Contudo, minha meta ao escrever este artigo não foi o de me posicionar, mas o de esclarecer o verdadeiro conceito do que é o inclusivismo. Portanto, leia sobre os verbetes Pluralismo Religioso, Universalismo, Inclusivismo e Particularismo Cristão para ter uma visão geral do significado de cada termo e não ser engolido por definições distorcidas que mais confundem que esclarecem.
Traduzido, adaptado e ampliado por Walson Sales
Referências:
William Lane Craig - Q&A - Is Jesus the only way? What about those who never heard the Gospel? https://www.youtube.com/watch?v=OQqTiNQk9Fc
Norman Geisler – Enciclopédia de Apologética
Norman Geisler – Teologia Sistemática
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