quinta-feira, 2 de março de 2023

O Problema dos Cananeus - Parte 7

 

Nós não odiamos o pecado – Por isso não conseguimos entender o que aconteceu com os Cananeus

Um Adendo aos Argumentos do “Genocídio Divino” no Antigo Testamento

[PARTE VII]

 

Por Clay Jones

Christian Apologetics Program

Biola University

La Mirada, California

 

O Pecado Israelita

 

Israel foi avisado para não deixar os Cananeus viverem em sua terra, mas para destruí-los completamente (Êxodo 23:33; Deuteronômio 20:16–18) porque, caso contrário, os Cananeus seriam (1) “farpas” aos olhos dos Israelitas (Nm. 33:55), (2) os Israelitas se casariam com os Cananeus, e então (3) os Israelitas conseqüentemente aprenderiam os costumes Cananeus (Êxodo 34:15–16). Yahweh advertiu que se os Israelitas começassem a adorar outros deuses, a terra os “vomitaria” para que eles fossem espalhados e a maioria fosse destruída, assim como vomitou as nações diante deles (Números 33:56; Lv. 18:28; Deut. 4:23–29, 8:19–20).

Mas os Israelitas não expulsaram os Cananeus (Juízes 1:28), antes adoraram outros deuses e seguiram suas práticas (Juízes 3:5–6; 2 Reis 17:7). Como resultado, Israel “fez o que era mau” (Juízes 10:6, 1 Reis 14: 22-24) e ergueram “para si, estátuas e imagens do bosque [Aserá], em todos os altos outeiros, e debaixo de todas as árvores verdes.” (2 Reis 17:10). Havia “prostitutos de santuário” (1 Reis 14: 24), eles cometiam atos de “devassidão”, adultério e incesto (Jeremias 5:7; Oséias 4:13–14; Ezequiel 22:10–11; amós 2:7), e até mesmo Salomão erigiu altares para todas as suas esposas estrangeiras e até mesmo um altar para Moloque (1 Reis 11:5, 7–8). Com o tempo, os Israelitas sacrificaram seus filhos e filhas (2 Reis 1:3, 17: 17; 2 Crônicas 28: 3, 33: 6; Jr. 32: 35; Ezequiel 20: 26, 31). Em vez de se arrependerem quando as coisas correram mal para Judá, eles concluíram que era porque pararam de queimar incenso para “a Rainha do Céu”, Inanna/Ištar (Jr 44:18). Por isso o Senhor disse que Israel “têm-se tornado para mim como Sodoma, e os seus moradores como Gomorra.” (Jr. 23:14).

Posteriormente, os profetas começaram a alertar o reino do norte (geralmente referido como Israel ou Samaria) sobre a destruição iminente e, como eles não se arrependeram, em 722 a.C., o rei da Assíria capturou o reino do norte, deportou a maioria dos habitantes e encheu a terra com povos conquistados de outras nações.[59] Uma vez que as tribos do sul (geralmente referidas como Judá) tiveram alguns reis justos depois de Salomão e que, às vezes, atenderam ao aviso dos profetas, sua corrupção final e destruição não ocorreram até que Nabucodonosor da Babilônia violou as muralhas de Jerusalém em 586 a.C.

Mas não para por aí. Em Lucas 20, Jesus advertiu os Judeus na parábola dos lavradores e da vinha que os servos foram enviados a eles, mas foram maltratados e, portanto, o dono da vinha enviou seu filho, mas os lavradores mataram o filho. Jesus então perguntou: “Que fará então com eles o dono da vinha? Ele virá e matará aqueles lavradores e dará a vinha a outros”. Então, em 70 d.C., quarenta anos após a morte de Jesus, o Imperador Romano Tito destruiu Jerusalém e Josefo conta que os Judeus em Jerusalém

 

foram primeiro chicoteados e depois atormentados com todos os tipos de torturas, antes de morrerem, e depois crucificados diante do muro da cidade. Este procedimento miserável fez com que Tito tivesse muita pena deles, enquanto eles capturavam todos os dias quinhentos Judeus; não, alguns dias eles capturavam mais. . . .então os soldados, por causa da ira e do ódio que carregavam contra os Judeus, pregavam os que capturavam, um após o outro, nas cruzes, por diversão, quando a multidão deles era tão grande, faltava espaço para colocar as cruzes, e faltavam cruzes para os corpos.[60]

 

Tito então renomeou a região para Palestina e por quase 1.900 anos não se conseguia encontrar “Israel” no mapa. Em 135 d.C., os Romanos construíram uma cidade sobre as ruínas de Jerusalém e a chamaram de Aelia Capitolina. Então o Imperador Adriano decretou: “É proibido a todas as pessoas circuncidadas entrar ou permanecer no território de Aelia Capitolina; qualquer pessoa que transgredir esta proibição será condenada à morte”. Eles foram proibidos de ver Jerusalém mesmo “à distância”.[61]

Isso é importante por três razões. Primeiro, mostra que o que Deus ordenou que Israel fizesse aos Cananeus não era genocídio – era uma pena de morte. Deus advertiu Israel que se eles cometessem os mesmos pecados, a terra também os vomitaria. Deus não faz acepção de pessoas. Em segundo lugar, há uma lição cósmica: Deus odeia o pecado porque o pecado leva à rebelião e aos piores tipos de males. Em terceiro lugar, isso também responde ao mal-entendido de que existe alguma descontinuidade entre o Antigo e o Novo Testamento. Em ambos os Testamentos, Deus odeia o pecado e o punirá.

 

____________________

Fonte:

 

PhilosoPhia Christi Vol. 11, No. 1 © 2009, pp. 52 – 72

 

Tradução Walson Sales

 

____________________

Notas:

 

[59] Para uma documentação completa da deportação e do repovoamento, ver Bustenay Oded, Mass Deportations and Deportees in the Neo-Assyrian Empire (Wiesbaden, Alemanha: reichert, 1979).

[60] Flavius Josephus, The Works of Flavius Josephus, trad. William Whiston (Hartford, CT: S. S. Scranton, 1905), 822.

[61] Rendel Harris, “Decreto de Adriano sobre a Expulsão dos Judeus de Jerusalém,” The Harvard Theological Review 19 (1926): 202. Para saber mais sobre a expulsão de Judeus de Jerusalém, veja Paul Schäfer, The History of the Jews in the Greco-Roman World, rev. ed. (Londres: routledge, 1995), 158-60.

 

Nenhum comentário:

Postar um comentário