Por Walson Sales
Introdução
A relação entre a Bíblia e a ciência tem sido tema de debate por séculos, envolvendo diferentes interpretações e entendimentos. Neste artigo, exploraremos as definições de ciência e Bíblia, os modelos de interação entre essas duas áreas e como as principais leis científicas podem influenciar essa discussão. Também investigaremos se a ciência pode responder a todas as questões humanas e quais são as implicações caso o universo tenha tido um início ou não.
Definição de Ciência
A ciência pode ser definida como um ramo de estudo ligado a um corpo de verdades apresentadas com fatos, classificados sistematicamente e mais ou menos ligados a leis gerais. Ela inclui métodos que possibilitam a descoberta de novas verdades dentro do mesmo domínio, utilizando a observação, experimentação e formulação de hipóteses.
MODELOS DE RELAÇÃO ENTRE CIÊNCIA E BÍBLIA
1. Modelo de Conflito
Esse modelo é o mais popular e prevalece tanto na academia quanto na mídia e, por vezes, nas igrejas. Ele afirma que a religião e a ciência são incompatíveis e irreconciliáveis. Ateus contemporâneos, como os "novos ateus", usam este modelo para desmerecer a religião, enquanto muitos crentes o utilizam como uma defesa contra os “ataques” da ciência.
2. Modelo de Independência
Esse modelo sugere que religião e ciência não têm conexão direta e, portanto, pouco têm a dizer uma sobre a outra. Nesse contexto, a pessoa pode exercer sua fé na igreja e aplicar a ciência na escola ou no trabalho sem qualquer conflito.
3. Modelo de Complementaridade ou Diálogo
Este modelo promove o desenvolvimento do diálogo entre religião e ciência, sugerindo que ambas podem contribuir mutuamente. Há a possibilidade de a fé religiosa iluminar questões que a ciência não consegue abordar, enquanto a ciência oferece insights sobre o funcionamento do mundo criado por Deus.
4. Modelo de Integração
Esse modelo vai além do diálogo e defende uma sobreposição entre ciência e religião, sugerindo que as duas áreas podem se fundir em algumas questões. A pergunta é: até que ponto essa integração seria possível e qual seria o limite dessa fusão?
Métodos da Ciência
Os métodos utilizados na ciência incluem observação, experimentação, formulação de hipóteses, previsibilidade e controle. A observação e a experimentação são os pilares do método científico, permitindo a obtenção de evidências da natureza, seja por meio da ciência operativa (empírica) ou da ciência forense (investigativa). Esses métodos, por vezes, são utilizados tanto para apoiar quanto para desafiar crenças religiosas.
Principais Leis Científicas e Suas Implicações para o Debate
1. Lei da Biogênese
A Lei da Biogênese afirma que a vida só pode vir de vida preexistente, e que organismos vivos só surgem de outros da mesma espécie. Isso contraria a teoria da evolução, que sugere que a vida teria surgido espontaneamente a partir de matéria inorgânica.
2. Primeira Lei da Termodinâmica
Também conhecida como a Lei da Conservação da Energia, esta lei estabelece que a energia não pode ser criada nem destruída, apenas transformada. Isso significa que a quantidade total de energia no universo permanece constante. Consequentemente, a energia não pode evoluir ou ser produto da evolução, o que desafia a ideia de que o universo e a vida surgiram espontaneamente sem uma causa externa.
3. Segunda Lei da Termodinâmica
A Segunda Lei da Termodinâmica, ou Lei da Entropia, indica que o universo tende a caminhar de níveis organizados para níveis mais desorganizados. O conceito de que sistemas complexos evoluem de forma ascendente contradiz essa lei, já que a entropia aponta para a degradação e desordem natural do universo.
4. Lei da Causa e Efeito
Nenhum efeito pode ser maior que sua causa. De acordo com essa lei, a teoria da evolução, que sugere que a matéria morta deu origem a todos os seres vivos, viola esse princípio, uma vez que os seres vivos complexos e organizados são um efeito maior do que a causa inanimada sugerida.
A Ciência Pode Responder a Todas as Questões?
No filme "Contato", a personagem Ellie afirma que ama seu pai, mas admite que não pode provar isso cientificamente. Esse exemplo demonstra que a ciência, apesar de ser uma ferramenta valiosa para descobrir fatos sobre o universo observável, não pode responder a todas as questões, especialmente aquelas relacionadas a sentimentos, moralidade e valores metafísicos. A alegação de que "não podemos saber nada a menos que tenhamos provas científicas" é autodestrutiva, pois essa própria declaração não pode ser verificada cientificamente.
O filósofo e teólogo William Lane Craig, em seu debate com o químico ateu Peter Atkins, destacou cinco pontos que demonstram que existem coisas que somos racionais em acreditar, mas que a ciência não pode provar:
1. A Matemática e a Lógica: A ciência depende de princípios matemáticos e lógicos, mas não pode prová-los. A matemática é uma estrutura abstrata que funciona perfeitamente no mundo real, mas suas leis não podem ser "provadas" pela ciência.
2. Verdades Metafísicas: Conceitos como a existência de outras mentes além da nossa ou a ideia de que a realidade não foi criada há apenas cinco minutos, aparentando ser mais velha, são racionais de se acreditar, mas não podem ser cientificamente provados.
3. Juízos Éticos: A ciência não pode determinar se uma ação é moral ou imoral. Julgamentos como "os nazistas foram maus" não podem ser comprovados pelo método científico, pois a moralidade não está sujeita à experimentação científica.
4. Juízos Estéticos: Conceitos como beleza e arte não podem ser mensurados ou provados pela ciência. Não há como determinar cientificamente se algo é belo ou artisticamente valioso.
5. A própria ciência: A crença de que o método científico é a melhor maneira de descobrir a verdade não pode ser provada cientificamente. A ciência se baseia em pressuposições filosóficas que não podem ser verificadas por ela mesma.
Implicações para a Ciência e a Bíblia Caso o Universo Tenha Tido um Início ou Não
Se o universo teve um início, como a Bíblia sugere em Gênesis 1:1 ("No princípio, criou Deus os céus e a terra"), isso reforça a necessidade de uma causa primeira transcendente. Se, por outro lado, o universo sempre existiu, o que algumas teorias científicas sugerem, isso implicaria em uma série de problemas filosóficos, como a explicação da origem do tempo e da matéria.
Existe Conflito Real entre a Bíblia e a Ciência?
Um dos maiores mitos modernos é a ideia de que a ciência destruiu a fé. Ateus como Richard Dawkins afirmam que a fé é irracional e não se sustenta diante das evidências científicas. No entanto, essa visão ignora a história da ciência e a contribuição de pensadores religiosos, como Maimônides, Averroes e Tomás de Aquino, que foram cruciais para o desenvolvimento do pensamento científico moderno. Muitos cientistas importantes, como Isaac Newton, Galileo Galilei e Johannes Kepler, eram cristãos e não viam conflito entre sua fé e seu trabalho científico.
Existem Cientistas que Creem em Deus?
Sim, muitos cientistas, tanto no passado quanto no presente, acreditam em Deus. Além de figuras históricas como Copérnico, Galileu e Newton, cientistas contemporâneos como Francis Collins, Owen Gingerich e Paul Davies também defendem a existência de uma ordem divina no universo. Collins, por exemplo, afirmou que a beleza e a ordem do universo apontam para um Criador.
Verdades Científicas na Bíblia
A Bíblia contém afirmações que, apesar de escritas há milhares de anos, estão alinhadas com descobertas científicas modernas. Gênesis 1, por exemplo, diz que a luz foi criada antes do sol, algo que a ciência moderna provou ser possível. Além disso, Isaías 40:22 menciona o “globo da terra”, referindo-se à esfericidade da Terra muito antes dessa ideia ser amplamente aceita.
Questão da Biomimética: A Ciência Copia a Criação
A ciência muitas vezes busca inspiração na natureza para desenvolver novas tecnologias, um campo conhecido como biomimética. Invenções como o velcro, inspiradas pelas plantas, ou as roupas de natação que imitam a pele do tubarão são exemplos claros de como a criação de Deus é uma fonte de inspiração para avanços científicos.
Conclusão
A relação entre a Bíblia e a ciência é complexa, mas não necessariamente conflitante. Modelos de diálogo e integração mostram que a fé e a ciência podem coexistir e até se complementar. A história e a ciência contemporânea provam que muitos dos avanços científicos foram promovidos por pessoas de fé, e que certas verdades bíblicas são, de fato, confirmadas pela ciência. Assim, a ciência, longe de desmentir a Bíblia, pode, em muitos casos, fornecer uma nova maneira de entender a complexidade e a beleza da criação de Deus.
Perguntas provocativas baseadas nos argumentos do artigo "A Bíblia e a Ciência", que podem ser usadas em discussões com ateus e céticos:
1. Sobre a Lei da Biogênese
- Se a Lei da Biogênese estabelece que a vida só pode surgir de vida preexistente, como você explica a origem da vida a partir da matéria inorgânica, conforme proposto pela teoria da evolução? Não seria isso uma violação dessa lei científica?
2. Sobre a Primeira Lei da Termodinâmica
- A Primeira Lei da Termodinâmica afirma que a energia não pode ser criada nem destruída. Se o universo teve um início, de onde vieram a matéria e a energia que originaram o cosmos? Como a ciência explica o surgimento de algo a partir do nada?
3. Sobre a Segunda Lei da Termodinâmica
- A Segunda Lei da Termodinâmica afirma que o universo tende à desordem crescente. Como você concilia essa lei com a teoria da evolução, que afirma que a complexidade da vida aumentou ao longo do tempo?
4. Sobre a Lei de Causa e Efeito
- A Lei de Causa e Efeito estabelece que nenhum efeito pode ser maior que sua causa. Se a matéria inanimada é a causa proposta pela teoria da evolução, como ela poderia produzir algo tão complexo quanto a vida inteligente? Isso não seria uma violação dessa lei?
5. Sobre o Argumento da Matemática e Lógica
- A matemática e a lógica são fundamentais para a ciência, mas não podem ser provadas cientificamente. Como você justifica sua crença na ciência se ela depende de pressupostos que ela mesma não pode comprovar?
6. Sobre Verdades Metafísicas
- Como você explica nossa capacidade de acreditar em verdades metafísicas, como a existência de outras mentes ou o fato de que o mundo não surgiu há cinco minutos? Essas são crenças racionais, mas a ciência não pode comprová-las.
7. Sobre Julgamentos Morais
- Se a moralidade não pode ser provada cientificamente, como você pode afirmar com certeza que determinadas ações são objetivamente erradas, como o genocídio nazista? Em um universo ateísta e materialista, onde está a base para julgamentos morais?
8. Sobre Julgamentos Estéticos
- Como a ciência pode determinar o que é belo ou o que tem valor artístico? Se o belo não pode ser medido ou provado cientificamente, por que ainda consideramos os julgamentos estéticos válidos?
9. Sobre a Própria Ciência
- A crença de que o método científico é o melhor meio de obter conhecimento sobre o mundo não pode ser provada cientificamente. Como você justifica sua confiança na ciência se ela depende de pressupostos filosóficos que não podem ser testados ou provados?
10. Sobre o Limite da Ciência
- Você acredita que a ciência pode responder a todas as questões? Se não, como você explica o fato de que questões fundamentais como o amor, a moralidade e a lógica não podem ser explicadas pelo método científico?
Essas perguntas têm o potencial de desafiar as suposições e crenças de ateus e céticos, incentivando uma reflexão mais profunda sobre os limites da ciência e a necessidade de uma explicação transcendente para o universo e a vida.
Nenhum comentário:
Postar um comentário